Os mercados reagiram bem à paralisação parcial do governo americano, que até agora não foi reparada pelo congresso. Com a aproximação da votação do aumento do teto de endividamento do país, a estratégia deve favorecer os democratas para saírem vitoriosos nas duas batalhas.
Enquanto isto as agências de informações que divulgam relatórios diversos, incluindo dados econômicos importantes como o índice de desemprego, relatório do COT e relatórios sobre as condições de lavoura de diversas commodities produzidas no país, estão paralisadas, deixando grande parte dos agentes no escuro.
O efeito de uma eventual diminuição de posições em algumas commodities pela falta de informações, que poderia ser negativo para os preços, é compensado pela desvalorização do dólar – pois barateia produtos referenciados na moeda. As chances de uma menor compra de títulos por parte do FED ser anunciada este ano diminui ainda mais, e é outro motivo para que o dólar perca força, junto com um crescimento do PIB que deve ser menor em função da paralisação.
A bolsa de café de Nova Iorque fechou a semana com ganho de US$ 0.93 por saca, enquanto Londres subiu US$ 5.88 a saca, o último em função da queda forte dos estoques certificados e ofertas escassas no curto prazo por parte do Vietnã, que perdeu muito de seus exportadores com problemas internos de impostos.
Na principal origem do arábica foi anunciado o leilão do saldo dos contratos de vendas de opções, e circularam notícias de que a Confederação Nacional da Agricultura solicitará suspensão de pagamento das parcelas do crédito rural para os cafeicultores em função dos prejuízos que têm sofrido. Também foi divulgado que o Conselho Nacional do Café (CNC) está pedindo mais 5 milhões de sacas de leilão das opções de vendas, o que seria positivo para os diferenciais e por consequência poderia evitar mais quedas do terminal.
Seguindo o modelo brasileiro de segurar vendas de café quando os preços não estão atrativos, os produtores do Vietnã fazem o mesmo, ainda que os últimos estejam sentando em lucros ao redor de 40%, enquanto muitos dos primeiros amargam perdas. Não acho, entretanto, que seja positivo para os preços no médio prazo, até porquê tem uma safra grande começando por lá e o Brasil parece estar usando menos conillon dado os preços mais baixos dos cafés arábica de bebida mais fraca – ou seja, aproveitem as altas do robusta para continuar vendendo.
Na sexta-feira dia 4 de outubro, aconteceu o 4º Coffee Dinner da Associação Suíça do Comércio de Café (tradução livre de Swiss Coffee Trade Association), e como a maior parte dos participantes não é produtor, o clima estava tranquilo. Em geral ouvi que o tom continua baixista, embora muitos estejam altistas para o contrato londrino (“squeeze”?)
Os agentes do mercado continuam de olho nas chuvas no Brasil, que por ora não causam preocupação, e alguns analistas apontam a diminuição de adubações que devem ocorrer nos próximos meses, o que acho ser menos crucial para a safra 14/15 dado o nível de reserva que o solo tem dos bons tratos dos anos anteriores.
Não há muito que falar para os próximos movimentos das bolsas, que devem continuar limitadas para ganhos representativos, e portanto altas devem continuar sendo boas oportunidades para adicionar novas vendas.
Uma observação interessante é a modificação do contrato “C” que a partir de 2015 aceitará que cafés cheguem aos armazéns credenciados em “bulk”(liners) ou “big bags”, para então, antes de serem certificados, serem ensacados em sacaria de juta. Não precisa ser muito perspicaz para imaginar o que isso pode desencadear, ainda mais para cafés mais descontados do que outros...
Bons negócios a todos.