Há forte expectativa que o governo brasileiro assuma novas atitudes alinhadas aos discursos mais recentes até a próxima quinta-feira, colocando em linha de maior austeridade sua política monetária e, em especial, a política fiscal com meta mais compatível para retirá-la do estado de deterioração a que foi levada a ponto de ter-se tornado causa maior da perda de credibilidade do país no exterior, sem relegar-se a plano inferior ou desconsideração a enorme contribuição da política macroeconômica bastante incoerente que tem sido mantida e que conduz o país a perspectivas de crescimento inexpressivos.
É imperativo que o governo não erre mais, nem prometa de menos para não desapontar na largada, nem que seja excessiva dada a já tradição de não entregar de forma incontestável o que promete. Importante salientar que o beneficio da dúvida, que motiva a reação imediata frente à perspectiva futura fundada em comprometimentos, já não faz parte do crédito de confiança que seria natural o país deter neste momento.
As metas anteriormente estabelecidas foram extremamente alteradas para pior com base nos mais diversos ajustes e exclusões, e ficou maculada a sua credibilidade de cumprimento, e o país vem perdendo cada vez mais tração para o crescimento e atratividade perante aos investidores nacionais e estrangeiros.
O governo precisará entregar o que fizer parte do compromisso para que seja validada a percepção de melhora, caso contrário os desapontamentos serão fortemente alavancados comprometendo ainda mais severamente as análises em torno do “status quo” do país.
O Brasil vem sofrendo uma verdadeira “saraivada” de criticas no mercado internacional, que até recentemente partia de análises técnicas de grandes editorias jornalísticas que procuravam repercutir o sentimento presente no mercado internacional.
Contudo, na semana passada sofreu menção num estudo feito pelo FED americano acerca de 15 economias emergentes, e, ficou muito mal posto nas comparações. Este fato inegavelmente pesou e continuará pesando influenciando investidores estrangeiros, pois o FED tem um peso opinativo muito além das matérias jornalísticas.
O governo brasileiro contestou assim como alguns analistas, mas para um material critico embasado em métricas as mais diversas, o ideal seria que o Brasil elaborasse suas métricas para contrapor ao estudo realizado pelos técnicos do FED. Números “falam” e precisamos ouvi-los, como costumeiramente alertamos, e são frios de “não tem amigos”, portanto a melhor defesa seria utilizar o embasamento dos mesmos instrumentos produzidos por técnicos brasileiros. A defesa retórica tem pouco alcance nestas circunstâncias.
Urge que atitudes sejam efetivamente adotadas focando evitar o aprofundamento da percepção negativa, já que é bastante improvável que ocorra melhora decorrente dado ao entendimento de que o governo vai precisar entregar os resultados para reconquistar o crédito de confiança dos mercados, já que é de supor-se que, no primeiro momento, haverá muito ceticismo por ser ano eleitoral .
O BOLETIM FOCUS, que aponta as medianas opinativas das instituições do mercado financeiro, vinha revelando dados que considerávamos muito sensatos até a semana finda em 7 de fevereiro, mas já sinaliza percepção de piora na edição do dia 17 divulgada hoje.
IPCA mais alto neste ano (de 5,89% para 5,93%) e nos próximos 12 meses (6,00% para 6,05%). Dólar de R$ 2,47 para R$ 2,48. Expressiva queda no PIB de 1,90% para 1,79%, não havendo evidência se já foi considerado o último dado fraco do IBC-Br do BC no 4º trimestre. Aumento do déficit em transações correntes de US$ 73,0 Bi para US$ 74,60 Bi. Queda na balança comercial de US$ 8,01 Bi para US$ 7,90 Bi. Discreta subida nos IED´s de US$ 57,50 Bi para US$ 58,00 Bi.
Houve uma mudança em itens expressivos, como inflação maior e menor crescimento do PIB, itens que deverão estar no foco das atitudes esperadas do governo e que se espera sejam anunciadas nesta semana.
A SELIC foi mantida inalterada, mas a despeito do IBC-Br ruim, é bem provável que tenha que ser mais elevada, pois a inflação aponta que “na prática está bem acima do IPCA, principalmente em itens básicos para a população”. O Dólar a R$ 2,48 ainda é bastante modesto para um ano que deve se repetir adverso em fluxos para o país, insuficientes para o financiamento do déficit em conta corrente, também ainda subestimado pelo FOCUS em US$ 74,60 Bi, quando o próprio governo já anunciou na sua projeção ao inicio do ano em US$ 78,0 Bi, e que não deve ser menor do que os US$ 81,0 Bi do ano passado. Os IED´s devem sofrer retração este ano ficando em torno de US$ 50,0 Bi, já computados os empréstimos “intercompany”, dada a queda da liquidez internacional e o encarecimento dos recursos e, também, ao fato das perspectivas de baixo crescimento para o país.
A balança comercial não promove indícios de que será melhor do o ano passado, temos saldos relevantes de importações já efetivadas a pagar, o inicio do ano está sendo desapontador com déficit em um mês e meio tendente a US$ 7,0 Bi, já tendo havido ingresso de uma parte das exportações agrícolas na forma de pagamentos antecipados no mês passado. Certamente haverá um alivio com a participação pontual das exportações agrícolas, mas em perspectiva para o ano não há otimismo.
As projeções para 2015 não podem ser considerados muito confiáveis tendo em vista a grandeza de incertezas existentes, o que as faz muito dependentes do que efetivamente se fizer de positivo neste ano de 2014.
O Brasil precisa urgentemente se preparar para enfrentar esta segunda onda da crise financeira internacional iniciada em 2008 e que agora promoverá o refluxo dos capitais abundantes que gerou generoso fluxo de capitais para os emergentes, e isto inevitavelmente impõe “blindagens” para mitigar os efeitos contornáveis.
Há todo um “jogo de xadrez” no contexto internacional, e, os emergentes tendem a passar por severo teste de “stress”, sendo o impacto mais imediato na depreciação do preço de suas moedas.
Temos argumentado que embora o governo utilize como grande trunfo a existência de reservas cambiais, é muito razoável que não seja efetiva a sua intenção de enfrentar uma pressão de demanda que deprecie o real com a venda massiva de divisas com o objetivo de enfrentar a alta, nos parecendo sensato que procure monitorar a liquidez sem buscar interferir na formação do preço, e, até onde for possível, utilizar os bancos como tomadores de financiamento de linhas para serem na ponta final os geradores da liquidez com a constituição de “posições vendidas”.
Há tendência em perspectiva de menor demanda dos instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais” para “hedge” e muito mais de divisas no mercado à vista de câmbio.
Ontem foi feriado nos Estados Unidos, hoje o comportamento dos mercados globais será mais efetivo, mas no Brasil os volumes tem sido mais contidos, pois, desde DAVOS, vem sendo mantida expectativa sobre as medidas previdentes que o governo precisa tomar, de vez que a Presidenta falou em austeridade e controles e o Presidente do BC falou na possibilidade de elevar o juro.
Certamente a taxa do dólar no mercado de câmbio à vista entre R$ 2,38/R$2,39 está fora do ponto dado o contexto predominante que, no nosso entendimento em R$ 2,45 seria mais compatível, inclusive com as perspectivas existentes, por isso as oscilações um tanto atípicas ocorridas mais recentemente nos induzem a supor que esteja ocorrendo, ainda que discreto movimento especulativo com posições de curtíssimo prazo, no nosso ambiente interno, sem se descartar que estejam ocorrendo também no mercado externo.
É inquestionável que o preço da moeda americana tende a apreciação no nosso mercado de câmbio este ano, havendo fundamentos efetivos para tanto a ponto de a conduzir a R$ 2,60 ao final do ano, mas se o governo adotar atitudes certas neste momento, com números factíveis e não anseios, poderá evitar que a exacerbação seja maior, para então em 2015 o país reconquistar fluxos, caso contrário será necessário SELIC muito mais alta e como reflexo teremos o crescimento mais uma vez comprometido.