A semana mais curta, em função do feriado de Sexta-Feira Santa no dia 30 terá a política monetária entre os principais destaques no Brasil e as guerras do presidente americano Donald Trump no cenário externo. Não haverá pregão no feriado na bolsa brasileira B3 e nem na Bolsa de Nova York, assim como em boa parte dos países europeus.
Na terça-feira, será divulgada a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que baixou a Selic para 6,5% e surpreendeu o mercado ao indicar uma nova queda na reunião de maio. Na quinta-feira, o Banco Central (BC) divulga o relatório trimestral de inflação, que mostrará o que a autoridade monetária espera para os índices e o espaço para derrubar os juros. Ainda na quinta, estreia a série de coletivas do presidente do BC, Ilan Goldfajn. A autoridade monetária determinou que sejam concedidas quatro coletivas de imprensa no ano (uma a cada três meses), sempre uma semana após a reunião do Comitê, buscando tornar mais clara e objetiva comunicação do BC.
Último comunicado surpreendeu mercado
Na visão de boa parte dos analistas, a nota da última reunião do Copom, que será detalhada na terça-feira, e que reduziu a Selic para 6,50% ao ano — nova mínima histórica — surpreendeu. E não pela redução de 0,25 ponto percentual, já esperada pelo mercado, mas pela referência clara a pelo menos mais um corte na taxa a ser feito em maio, antes de se encerrar o ciclo de afrouxamento monetário. A nota deixou espaço inclusive para mais cortes, que podem levar os juros para 6% ao ano ou até menos.
Resultados fiscais e taxa de desemprego
As atenções do mercado estarão voltadas também para dados fiscais, como resultado primário do governo central e do setor público consolidado, que acrescenta ao dado as estatais e governos regionais, referentes a fevereiro, a serem conhecidos entre terça e quarta-feira. E, fechando a semana, será divulgada, na quinta-feira, a taxa de desemprego de fevereiro.
De olho em operações de crédito, inadimplência, IGP-M e indicadores de confiança
Analistas de bancos e consultorias lembram ainda que, já nesta segunda-feira, o BC apresentará dados sobre desempenho das operações de crédito referentes ao mês de fevereiro e a taxa de inadimplência da Pessoa Física. A Fundação Getúlio Vargas (FGV), por sua vez, divulga na quarta-feira o IGP-M relativo a março, que deve encerrar sete meses de deflação anual e, ao longo da semana, seus indicadores de confiança também do mês corrente.
Agenda externa destaca dados sobre atividade econômica nos EUA e China
Na agenda internacional, as tensões no comércio global devem continuar entre os principais temas, mas a agenda econômica também traz indicadores importantes. E há ainda o risco de novas tensões políticas entre EUA e Coreia do Norte e Irã, após a indicação de um conselheiro linha dura para a Casa Branca.
Nos EUA, lembram analistas do Banco Votorantim, os destaques serão as divulgações da revisão do PIB do 4º trimestre, da inflação ao consumidor (PCE) e de dados de confiança. Analistas da Rosenberg Associados (RA) também vêem como principais destaques na pauta externa os dados de inflação e consumo nos EUA (fevereiro), que saem nesta quinta-feira.
Chama atenção ainda, segundo o Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Banco Itaú Unibanco (SA:ITUB4), a sondagem de atividade da economia chinesa (PMI, na sigla em inglês) relativa a março, que será divulgada na sexta-feira. Na Europa, o foco estará em indicadores de confiança e revisões de PIB.
Política: foco em movimentação de Temer e Lula
Com o feriado de Páscoa, o cenário político não deverá ter grandes desdobramentos na semana. As expectativas se concentram no momento nas ações do presidente Michel Temer e no ex-presidente Lula (PT).
Temer já se declarou candidato à reeleição e aposta nas realizações de sua gestão para ficar mais quatro anos no Palácio do Planalto. Ainda no âmbito eleitoral, permanecem as especulações sobre o futuro político do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, com sua filiação ao MDB sendo uma possibilidade.
Páscoa garantida para Lula
No aguardo da conclusão do julgamento do habeas corpus de sua defesa no STF, no dia 4 de abril, o ex-presidente Lula e seus aliados devem intensificar as ações políticas no sentido de impedir a sua prisão. O TRF-4 deve julgar, na segunda-feira, o último recurso do ex-presidente após a condenação em segunda instância, mas Lula já garantiu, em uma sessão polêmica do Supremo Tribunal Federal (STF), que poderá passar a Páscoa em casa. O Supremo adiou a votação de um habeas corpus para Lula para segunda-feira da outra semana, dia 4, e concedeu uma liminar que impede a prisão do ex-presidente até a apreciação do pedido.
Prisão em segunda instância, novas pressões
Há ainda toda a discussão sobre a revisão da prisão após condenação em segunda instância, aprovada em 2016 pelo Supremo e que agora está sendo bombardeada na própria corte, muito em função de pressões políticas para impedir a prisão de Lula. O próprio Supremo enfrenta um conflito interno, com a presidente da Casa, ministra Cármen Lúcia, contrária à revisão da regra se negando a coloca-la em discussão novamente, e alguns ministros “arrependidos”, como Gilmar Mendes, pressionando para mudar o voto e impedir a prisão em segunda instância.
Uma coisa é certa: se a visão do Supremo for alterada, muitos políticos que poderiam ser presos, além de Lula, e outros já na cadeia serão libertados, em um duro golpe para a Operação Lava Jato.
Fatores internos e externos devem manter volatilidade nos mercados de risco
Do ponto de vista do economista-chefe da Home Broker Modalmais, Alvaro Bandeira, a semana “já começa complicada”, justamente pelo clima atribuído à postergação do julgamento do habeas corpus de Lula e também por conta do TRF-4 ter marcado o julgamento dos embargos interpostos pela defesa do ex-presidente. “Os investidores vão olhar todas as teses sobre esses dois eventos e a liminar concedida ao ex-presidente até o julgamento do habeas corpus”, analisa.
A prisão ou não de Lula tem impacto na corrida presidencial, já que o ex-presidente tem ainda forte apelo eleitoral e lidera as pesquisas, enquanto não surgiram ainda nomes de centro capazes de garantir a continuidade das políticas de ajuste fiscal e da Previdência defendidas pelo mercado.
Guerra comercial poderá reduzir crescimento econômico
No plano internacional, diz o economista da ModalMais, os investidores terão que avaliar as consequências da tarifação americana sobre aço e alumínio e as impostos à China e possíveis retaliações e isenções produzidas por Donald Trump. O Brasil ficou fora das tarifas do aço provisoriamente, por 60 dias, enquanto os dois países negociam. “Está cada vez mais próxima a possibilidade de uma guerra comercial, cujo efeito, no final, poderia ser de reduzir o crescimento econômico e ampliar pressões inflacionárias”, estima Bandeira.
Para ele, todos esses fatores, mais o imponderável que a figura de Trump representa, estariam determinando toda a volatilidade dos mercados de risco espalhados pelo mundo.
“É uma situação que deve permanecer, e com destaque para o segmento local”, argumenta. Lembra ainda o desgaste a ser produzido pelo processo eleitoral no Brasil e as substituições no governo de ministros que concorrerão a cargos eletivos, inclusive o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente Temer.
Espaço para recuperação global e melhor precificação dos ativos
“Apesar disso, vemos o momento como importante para aqueles que gostam de lidar com risco; é exatamente em épocas como essas que surgem as chances de ganhos extraordinários para aqueles que avaliam friamente a situação”, diz o economista. Na avaliação dele, “no momento, e até que se prove o contrário, os efeitos da tarifação americana não são inibidores da recuperação econômica global e da melhor precificação dos ativos”.
Momento do mercado exige ‘nervos fortes e visão de mais longo prazo’
Pela análise técnica, pondera Bandeira, a perda do patamar de 83.700 pontos, se consolidada, poderia sinalizar precipitação até perto da região de 82.000 pontos. Na visão otimista, haveria que se suplantar o patamar de 85.600 pontos para galgar objetivos ainda maiores. “Haverá mercado para quem tem nervos fortes e consegue formar visão de mais longo prazo”, conclui.
Taxa de desemprego poderá manter indicação de melhora
No que se refere ao desemprego, dizem os analistas da Rosenberg Associados em relatório, a sazonalidade deve se impor à tendência de melhora da taxa, com crescimento em relação ao mês anterior. Porém, em relação ao mesmo mês do ano passado, o ritmo de queda do desemprego deve mais uma vez se intensificar (de 0,4 para 0,6 pontos percentuais). “Lentamente, vai se solidificando a melhora do mercado de trabalho”, diz a consultoria.
Já a equipe do Banco Fator lembra que a taxa de desemprego brasileira registrou no primeiro mês de 2018 uma alta para 12,15%, causada pelo emprego sem carteira assinada, que acumulou o corte de 181 mil vagas em janeiro e dezembro. “Esperamos que, em fevereiro, o desemprego suba novamente, para 12,3%”.
IGP-M de março: o fim da deflação em 12 meses
Para o IGP-M de março – índice que corrige contratos de aluguel e também é usado para ajuste de tarifas de energia elétrica — a Rosenberg espera variação de 0,56%, maior do que a observada no mês anterior (0,07%). Na comparação interanual, estima a consultoria, o índice deve sair do campo deflacionário e variar 0,12% (contra – 0,42% em fevereiro). Será a primeira alta da inflação em 12 meses desde junho de 2017.
Na abertura por grupos e na margem (variação mensal), diz a RA, destaque para a subida do IPA (Índice de Preços no Atacado), que representa 60% do IGP-M, reflexo da pressão advinda dos grãos, em linha com o movimento recente observado no mercado internacional. Na contramão, os preços ao consumidor (IPC, com 30% de peso) e os da construção civil (INCC, 10% de peso no IGP-M) também devem arrefecer o resultado geral.
A equipe do Fator lembra que a segunda prévia do IGP-M, assim como a primeira, acelerou na variação mensal (0,59%) por conta da recuperação dos preços agropecuários (2,52%). “Esperamos que este movimento leve o IGP-M de março a uma alta 0,63% no mês. Este resultado seria responsável pela primeira alta interanual (0,18%) do índice desde junho de 2017”, estimam os analistas.
De olho nos resultados fiscais
Falando sobre os Indicadores Fiscais, os analistas da Rosenberg destacam em relatório a clientes que, nos últimos anos, o padrão sazonal indica déficit forte para o Resultado Primário (sem contar os juros da dívida) do Governo Central (Tesouro, Previdência e Banco Central) em fevereiro após forte superávit no mês anterior. Será um reflexo das transferências para os fundos de participação de Estados e municípios, da transferência de parcela de participação especial de royalties e do calendário de pagamento do abono salarial.
“Projetamos déficit de R$ 21,2 bilhões em fevereiro (de R$ 26,3 bi, nominal, em fevereiro de 2017)”, ressalta a equipe da Rosemberg. “Já o Resultado Primário do Setor Público consolidado, que inclui os Estados e municípios, devem registrar déficit ao redor de R$ 18 bilhões”, completa.
Na avaliação do Fator, o resultado do Setor Público, calculado pelo Banco Central, deve mostrar um déficit de R$ 19,5 bilhões em fevereiro, o que em termos nominais seria um Primário negativo em R$ 54.1 bilhões. A dívida líquida sobre o PIB, nesta leitura, alcançaria 51,5%, enquanto a bruta seria de 74,1%.