As expectativas dos investidores estão voltadas para a próxima quarta-feira, a “Super Quarta”, dia que teremos decisão da taxa de juros dos EUA assim como do Brasil. Na minha visão, esta será uma das principais decisões de política monetária para ambos países, da qual está em jogo a dinâmica futura da maior economia do mundo assim como as expectativas da curva de juros para a economia doméstica.
Começando pela economia americana, a alta de 0,75 ponto percentual é o mínimo que o mercado espera após dados de inflação ao consumidor piores que o esperado, dos quais ainda pode-se deduzir que a inflação seguirá pressionada ao longo dos próximos meses. Atualmente, a expectativa é que a inflação americana termine o ano no patamar próximo a 7%, explicado especialmente pela queda de preços dos combustíveis assim como da energia, porém, com a inflação de demanda pressionada.
Entretanto, o investidor deve levar em conta a expectativa de desaceleração mais acentuada da economia americana, especialmente para o próximo ano. Taxas de juros mais altas impactam o investimento privado, que migram para alocação da renda fixa; consequentemente, menor investimento impactam em menor produção e seus efeitos são visualizados no emprego, na renda e consequentemente no consumo, este que majoritariamente explica a dinâmica do PIB americano.
Neste contexto, ao invés de 0,75 p.p. uma alta de 1,0 p.p. pelo Federal Reserve na quarta-feira seguido de um comunicado hawkish, levantará as expectativas de recessão e, se esse cenário se concretizar, ativos das bolsas americanas tendem a performar de forma negativa após a decisão. Para o dólar, ainda que títulos americanos passem a apresentar maiores rendimentos, o risco elevado de recessão poderá sobrepor retornos maiores nos títulos públicos e, não necessariamente veremos o fortalecimento do dólar americano frente aos seus pares, indicador o qual verificamos pelo DXY.
Em outras palavras, entre a alta de 0,75 p.p. ou de 1,0 p.p., a expectativa é que a dinâmica econômica dos EUA reflita os efeitos defasados da escalada dos juros e apresente desaceleração da atividade ao longo do quarto trimestre deste ano e início do ano que vem. O principal ponto a ser observado atualmente é: a magnitude e a velocidade dos juros a partir da reunião de quarta-feira.
Passando para a economia brasileira, a expectativa é que o Banco Central mantenha a taxa de juros, hoje em 13,75% ao ano, porém, sinalize que a Selic ficará neste patamar pelo menos ao longo dos próximos dois trimestres. O motivo é que a economia brasileira continua surpreendendo positivamente, apesar das incertezas quanto ao arcabouço fiscal nos próximos anos.
Para justificar melhor, o resultado do IBC-br, um indicador mensal da atividade econômica conhecido como a prévia do PIB, indicou que a economia brasileira cresceu 1,17%, ante expectativas de aumento de 0,40%, ou seja, a economia brasileira ainda mostra fôlego no início de um trimestre que já conta com juros nominais acima de dois dígitos.
Os motivos para esse cenário da economia doméstica podem ser explicados tanto pelo mercado de trabalho que segue em forte recuperação assim como pelos estímulos fiscais que estão em curso. Além disso, o processo de desinflação ao longo deste ano deverá favorecer o consumo das famílias, cenário positivo para as expectativas de crescimento da economia, hoje em torno de 3% para 2022.
Assim, diante dos cenários descritos acima, o ambiente para os investidores tende a seguir volátil, especialmente para o câmbio, que segue para o patamar de R$ 5,20 até o fim de dezembro. Contudo, olhando para 2023, a expectativa é de valorização do real, explicado especialmente pelos juros reais positivos que já começamos a observar nos últimos meses, favorecendo a entrada de capital estrangeiro e consequentemente na apreciação cambial.
Super Quarta e os investimentos
Trazendo o cenário para as classes de investimentos, ainda que o mercado de renda variável reflita a deterioração do cenário internacional com aumento de volatilidade, empresas de consumo cíclico começam a entrar no radar dos investidores na bolsa brasileira. Mas, com a expectativa da Selic em patamares elevados por mais tempo, as oportunidades em ativos de renda fixa, especialmente os títulos públicos que possuem na sua essência a marcação a mercado, já têm enaltecido oportunidades tanto nos pós-fixados mais longos quanto nos pré-fixados de médio prazo com o fechamento da curva.
Por fim, cabe ao investidor seguir monitorando o cenário que reflete a volatilidade das economias avançadas, porém, o cenário doméstico segue um curso mais positivo para a atividade econômica e, principalmente, a notícia de que o ciclo do juro básico da economia brasileira tende a se encerrar brevemente.