Se agosto confirmou ser o mês do desgosto, não há fatores que sugiram um setembro melhor, afinal as perspectivas só projetam pioras e tensões maiores no campo político, econômico e fiscal.
O mundo não vai tão bem quanto parecia, há ainda problemas com geração de empregos e a ameaça de um rebote da pandemia, agora com o “delta”, que fomentam as incertezas.
O Brasil deve ter maiores reflexos da crise hídrica/energética que assola o país e que agora trará maiores impactos inflacionários, exigindo mais das autoridades para que o país não veja retroceder seus indicadores econômicos e fiscais e, para não haja retrocessos mais intensos nas expectativas, acentuando o sentimento de desalento já presente.
O clima tenso na área política, excessivamente tenso na prematura disputa eleitoral, faz transparecer que o governo tem um único foco no momento, coincidente com o afloramento de forma contundente e perversa da crise hídrica/energética que, certamente, causará danos maiores do que os que estão, a priori, sendo propagados.
O PIB do 2º trimestre veio aquém das expectativas e com o “fato novo relevante” não se devem nutrir projeções melhores para o 3º trimestre, ou mesmo, para o ano, pois o incremento da inflação será devastador da parca capacidade de consumo da grande maioria da população, afora, naturalmente, sua capacidade de estagnar a atividade econômica.
“Tudo que de efetivamente importante há” parece ir se “arrastando” sem norte, enquanto o presidente realiza noticiadas ao longo das semanas, acirramentos entre os poderes se acentuam, preponderando então a percepção de que o país perde o foco no que realmente é relevante, ao mesmo tempo em que o Ministro Guedes da Economia continua com suas projeções apocalípticas e proféticas que não se confirmam na prática, construindo desta forma a descrença na política econômica.
Neste contexto, há muita expectativa sobre a atuação do “novo BC independente” que será posto à prova no enfrentamento da dantesca pressão inflacionária em perspectiva e que exigirá enfrentamento frontal por parte da autoridade monetária, que poderá até colocar suas decisões em oposição a consensos que predominam no mercado financeiro. O Banco Central/Copom vai ter que ir além das expectativas, para não correr o risco de desconstrução de sua imagem e ir pela mesma rota da perda de credibilidade da política econômica.
A questão fiscal deve continuar na berlinda. O governo quer - e em grande parte precisa - responder ao aumento exponencial da pobreza e miséria no país. Este é um campo vasto para o populismo em clima pré-eleitoral já estabelecido, mas pode agravar de forma contundente o frágil quadro do país neste campo, face à propensão de gastar o que não tem efetiva capacidade.
Enfim, neste cenário complexo e cheio de contraditórios, o que poderá resultar de efetivo e uma alta “do tamanho adequado” na taxa Selic e este, se confirmado, será poderoso antídoto à elevação da taxa cambial no Brasil, que poderá ser contributiva para ajudar a conter as pressões inflacionárias oriundas das commodities exportáveis.
Por outro lado, fica cada vez mais evidente que ainda é prematura a ideia do governo americano reduzir os incentivos, pois a geração de empregos pela economia, como atesta o mais recente dado da ADP, está aquém das expectativas, e a pandemia do coronavírus se reacende por lá acentuando as precauções. O governo americano e o FED, a despeito dos ruídos frequentes, precisa ainda do dólar fragilizado para incrementar sua atividade econômica, e isto favorece as moedas emergentes, em especial o nosso real.
Desta forma, setembro sugere tanta ou mais perturbação que agosto, com crescimento dos percalços e incertezas, o que poderá acentuar, dada as circunstâncias, a apreciação do real.
Vamos aguardar o andamento dos fatos, mas a “priori”, o real poderá ser o grande beneficiário do mês, se o BC/COPOM não decepcionar.
Algum fluxo de investimentos estrangeiros poderá surgir, focando rentabilidade em renda fixa, mas muito improvável para renda variável, como a Bovespa, que deverá sem “punch” para a retomada.