O presidente Donald Trump anunciou ontem um acordo comercial entre os Estados Unidos e o Reino Unido, sinal que pode representar o início de uma distensão nas tensões da guerra comercial global. As negociações agendadas para este fim de semana entre autoridades americanas e chinesas podem trazer novos avanços. Apesar disso, com as tarifas ainda em vigor, o sentimento no mercado acionário dos EUA segue cauteloso, conforme revela a análise setorial por meio de ETFs até o fechamento de 8 de maio.
Embora o mercado de ações americano tenha registrado uma recuperação acentuada nas últimas semanas, esse movimento ainda não foi suficiente para reverter a vantagem acumulada pelos setores defensivos. As empresas de utilidades públicas (XLU) lideram os ganhos no ano, com valorização de 6,6%, enquanto o índice geral de ações americanas (SPY) ainda acumula queda de 3,3% em 2025.
Esse desempenho representa uma melhora considerável frente à perda de 15% observada no início de abril, mas ainda há um longo caminho para que o mercado recupere o ímpeto observado no início do ano.
O setor de pior desempenho no ano é o de consumo discricionário (XLY), que acumula queda de 10%. Em contraste, as ações de bens de consumo essenciais (XLP) registram alta de 4,1% até agora.
Essa diferença reflete, em grande parte, a expectativa de que o consumo seja impactado pelas tarifas, com a tendência de redirecionamento dos gastos para itens indispensáveis diante da elevação de preços nos próximos meses.
Uma pesquisa recente do Federal Reserve aponta que empresas pretendem repassar os custos adicionais das tarifas aos consumidores. Para Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Global Management, “a conclusão é que a inflação deverá subir substancialmente nos próximos seis meses”.
Dados de sondagens com consumidores também indicam crescente preocupação com o avanço dos preços, o que sugere pressões adicionais sobre os padrões de consumo.
“Empresas e consumidores projetando aumentos nos preços formam uma combinação desafiadora para o Fed”, afirmou Diane Swonk, economista-chefe da KPMG. “Esse é mais um fator que impede qualquer movimento sobre os juros até que se tenha maior clareza sobre os impactos concretos.”
Antecipando os reajustes, consumidores têm adiantado compras para evitar os efeitos das tarifas. Segundo pesquisa da National Retail Federation, as vendas no varejo aumentaram em abril.
“O crescimento das vendas foi impulsionado pela antecipação de compras, com consumidores tentando se antecipar aos aumentos inevitáveis nos preços”, disse Matthew Shay, presidente da entidade. “Apesar da queda na confiança provocada pela incerteza econômica associada às tarifas, os fundamentos do consumo seguem sólidos, sustentados por desemprego baixo, crescimento moderado da renda e finanças domésticas relativamente saudáveis. Há motivação e capacidade para gastar agora, antes que as tarifas elevem os preços ou causem escassez nas prateleiras.”
Ainda há grande incerteza sobre os efeitos reais das tarifas na economia, especialmente sobre o comportamento dos consumidores. O debate sobre os desdobramentos dos próximos meses permanece aberto.
O que já se observa é que o mercado está precificando maior risco para ações de consumo discricionário (XLY), enquanto redireciona recursos para setores defensivos, como bens essenciais. O apetite por risco pode estar se recompondo, mas será necessário mais do que o recente acordo entre EUA e Reino Unido para convencer os investidores de que o risco tarifário está perdendo força. Talvez as negociações do fim de semana entre Washington e Pequim tragam novos elementos.