Stephen Miran e a agenda tarifária de Trump no caminho do Board do FED

Publicado 03.09.2025, 16:12

Em meio às polêmicas recentes — da tentativa de demitir Lisa Cook à pressão pública por juros mais baixos —, Donald Trump acelera o plano de ampliar sua influência sobre a política monetária. Enquanto as disputas jurídicas envolvendo Cook e a mais recente decisão do tribunal de apelações em tornar o tarifaço do presidente americano ilegal,  domina as manchetes, avança outro movimento relevante: a indicação de Stephen Miran, defensor do pacote tarifário, que será sabatinado pelo Senado na quinta-feira (04/09).

Graduado em Economia e Filosofia pela Boston University (summa cum laude) e Ph.D. em Economia por Harvard (2010), Miran construiu base técnica em macroeconomia e finanças públicas — a tese tratou de poupança das famílias e política fiscal, sob orientação de Martin Feldstein. Na década seguinte, atuou no mercado financeiro como estrategista macro em gestoras e hedge funds; em 2021 co-fundou a Amberwave Partners e, depois, foi senior strategist na Hudson Bay Capital, mantendo produção regular em think tanks. Em 2020, ingressou no Departamento do Tesouro como senior advisor durante a resposta fiscal à pandemia. Em março de 2025, assumiu a presidência do Council of Economic Advisers (CEA), ganhando vitrine para defender a avaliação de que poderia haver espaço para juros mais baixos caso os demais indicadores corroborassem.

No atual debate, Miran sustenta que o regime tarifário não foi o principal motor da inflação. Ele aponta repasse limitado para os preços agregados, com absorção parcial por margens e realocações na cadeia — argumento que, do ponto de vista empírico, ainda tende a ser contestado por parte da academia. Em paralelo, trata as tarifas como instrumento de barganha e política industrial, sugerindo que, enquanto a inflação de bens permanecer contida, não haveria necessidade de resposta monetária mais dura. A leitura é minoritária entre economistas tradicionais, mas orienta a comunicação do CEA sobre preços e comércio. Para a Casa Branca, Miran funciona como ponto de ligação entre a agenda comercial e o desenho de política macro. Caso sua visão seja incorporada no Board do Federal Reserve, o choque tarifário tende a ser enquadrado, dentro do comitê, como risco administrável, o que pode abrir margem política para iniciar cortes em um cenário de desinflação gradual. 

A sabatina de 04/09 ocorre em ambiente sensível: a minoria democrata pediu adiamento devido à crise institucional aberta pelo caso Lisa Cook, e o governo recorreu de decisão que considerou parte do tarifaço ilegal. Nesse tabuleiro, Miran permanece à frente do CEA onde se confirmado como novo membro do Board do FED, leva suas visões para o FOMC, influenciando votos e potencialmente, endossando a influência de Trump e suas filosofias para dentro das políticas monetárias. Ou seja, uma eventual confirmação tende a afetar mais o debate do que o placar no curto prazo. Miran deve advogar por início de cortes com núcleos ainda acima de 2%, desde que o emprego esfrie de forma ordenada, e por não tratar o tarifaço como gatilho inflacionário automático. Isso pode aumentar a probabilidade de votos dissidentes pró-corte, puxar a mediana do dot plot levemente para baixo nas rodadas seguintes e suavizar o tom do comunicado — movimentos, porém, incrementais em um colegiado grande e orientado a consenso.

A entrada de Miran representa um passo concreto na estratégia de ampliar influência sobre a política monetária: alinha a narrativa do CEA a um assento no Fed e desloca, ainda que marginalmente, o centro de gravidade do debate. Somada à pressão sobre outros assentos e a futuras indicações, a nomeação aproxima a Casa Branca do objetivo de moldar a função-reação do FED — sem equivaler, por ora, a “controle” pleno, dadas as barreiras legais, a tramitação no Senado e o papel dos presidentes regionais.

Para a próxima reunião(16–17/09), o efeito imediato tende a ser limitado. Pelo rito usual (sabatina, comissão, plenário, formalidades), é improvável que Miran esteja empossado e votando já em setembro. E, mesmo que estivesse, um voto isolado dificilmente alteraria a decisão, que segue dependente de dados (PCE, payroll, CPI). Em termos de mercado, a confirmação poderá reforçar um viés de comunicação mais suave no médio prazo e uma trilha de cortes um pouco mais rápida do que seria sem ele. 

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