Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 25/09/2020
O dólar está disparando e causando estragos nos ativos de risco. O Índice Dólar rompeu um nível crítico de resistência técnica no dia 22 de setembro. Agora está livre para continuar subindo forte.
Simultaneamente o euro está se desvalorizando. Vale lembrar que a moeda única tem um peso significativo no Índice Dólar. Tudo indica que a liquidação no euro e a corrida para o dólar provocarão a queda das ações e commodities.
O spread entre as taxas dos títulos de 10 anos do tesouro americano (treasuries) e dos títulos alemães também de 10 anos (bunds) deverá jogar mais lenha na fogueira. A diferença entre os rendimentos dos treasuries e dos bunds de 10 anos está prestes a disparar. Se isso acontecer, ajudará a fortalecer o avanço da moeda americana, tornando a situação mais dolorosa para os ativos de risco.
O Índice Dólar, que compara a moeda americana a uma cesta de divisas, superou o nível de resistência técnica em torno de 93,50 no dia 22 de setembro. Desde então, o índice subiu até cerca de 94,30 e parece estar concluindo a formação de um padrão de reversão altista conhecido como ombro-cabeça-ombro invertido. Com base nisso, tudo leva a crer que o índice pode subir até seu próximo nível significativo de resistência em torno de 96 ou até atingir 97,70.
O euro está mostrando sinais similares de reversão, mas, nesse caso, os sinais são de baixa. A moeda única tentou recentemente romper uma linha de tendência de baixa de longo prazo iniciada em julho de 2008, contra o dólar. Essa linha de tendência de baixa tem se firmado, com o euro caindo nas últimas três vezes em que tentou avançar sobre ela na última década. Entretanto, em julho, pela primeira vez, o euro conseguiu superar a linha de tendência de baixa em torno de 1,17 frente ao dólar. Mas agora a divisa europeia perdeu o suporte a 1,17 e pode voltar a ficar abaixo da linha de tendência de queda. Se isso acontecer, a moeda pode cair até cerca de 1,14.
Os sinais de uma desvalorização maior do euro estão aumentando, com um Índice de Força Relativa (IFR) em tendência de baixa desde julho, apesar da alta da divisa europeia. Isso criou uma divergência baixista, com um preço ascendente e o IFR descendente. Isso implica que o euro se desvalorizará com o tempo.
O movimento de alta do dólar pode até ganhar mais fôlego, principalmente se começarmos a ver os juros nos EUA subindo ou os rendimentos dos títulos alemães caindo. O spread entre os juros caiu forte em março, já que os rendimentos dos treasuries americanos caíram em ritmo muito mais acelerado do que os bunds alemães. Ao que parece, o forte declínio no spread está revertendo e pode voltar a se ampliar novamente, indo de 1,2% para 1,5%.
O dólar forte seria uma má notícia para operações vinculadas à inflação e de correlação inversa, como ouro e prata. Ambos os metais já começaram a sentir a dor do dólar forte, com o ouro caindo 10% desde as máximas do início de agosto. O gráfico técnico sugere que o ouro pode cair ainda mais, voltando a cerca de US$ 1.790.
Gráfico: cortesia de TradingView
As ações também podem enfrentar problemas, já que as multinacionais provavelmente sentirão o aperto do dólar valorizado. As multinacionais americanas, em especial, seriam as mais atingidas, já que teriam suas receitas reduzidas e queda nos resultados financeiros. Além disso, o declínio no dólar deu ao mercado acionário um impulso considerável.
O seguinte gráfico, que mostra o índice dólar invertido e sobreposto ao S&P 500, ilustra como os dois andaram juntos desde as mínimas de março.
Gráfico: cortesia de TradingView
Até algumas semanas atrás, não se falava muito sobre uma virada no dólar. Parece que agora é isso o que está acontecendo, à medida que os casos de coronavírus começam a dar as caras novamente na Zona do Euro, fazendo os investidores recorrerem ao dólar. Ainda é preciso ver se o recente avanço do dólar pode resultar em um movimento de médio prazo no que pode ser uma tendência de baixa duradoura. Mas isso não significa que não possa criar problemas para os investidores nesse ínterim.