Fechou o Piantella, tradicional reduto de políticos e lobistas em Brasília. Se as mesas daquele restaurante tivessem ouvidos, a história da República teria de ser reescrita.
Não consigo deixar de pensar que, com o abaixar das cortinas, perdeu-se uma excelente oportunidade de deixar os frequentadores trancados do lado de dentro — e jogar a chave fora.
As orelhas de Yellen e Fischer
Feriado nos Estados Unidos hoje. A uma hora dessas, Janet Yellen ainda deve estar de camisola e Stanley Fischer está estreando um conjunto de iscas artificiais em algum lago.
Mas as orelhas de ambos ardem, pois o mercado não dá trégua. A inda repercutindo os dados do payroll de sexta-feira, o perde valor contra as principais moedas mundiais. A tese de elevação de juros em Setembro perde força, privilegiando Dezembro: temos tudo como dantes no quartel d’Abrantes.
Na Europa, mercados em alta na expectativa de que o Banco Central Europeu continuará bonzinho nesta semana, acenando com estímulos monetários adicionais. Quanta originalidade!
Elástico esgarçado
Política monetária é como um elástico que, de tanto ser puxado, acaba esgarçado e não serve para mais nada. Não por acaso, a monomania dos formuladores de política econômica do bloco europeu suscita preocupações.
Nesse sentido, a entrevista com o Nobel Joseph Stiglitz publicada pelo The Telegraph neste final de semana é música para meus ouvidos — e um gongo despencando do palco para o consenso. Nas suas palavras, a união monetária europeia foi um erro, pois não veio acompanhada de outros mecanismos de estabilização no âmbito fiscal.
Será que elegemos a próxima fonte de preocupação do mercado, quando superada a novela dos juros do Fed?
Chocado e estarrecido
O grande tema do dia não vem dos cadernos de economia, mas sim das páginas policiais. A operação Greenfield tem como foco suspeitas de gestão temerária de recursos dos maiores fundos de pensão do país.
Suspeitas de ingerência política nos fundos de pensão das estatais? Não me diga. Estou chocado e estarrecido.
A mesma operação inclui mandados de busca e apreensão em certas empresas, dentre as quais a JBS (SA:), o que se reflete na performance em bolsa.
Na outra ponta, Petrobras (SA:) se beneficia de noticiário favorável para no mercado internacional, com principais membros da OPEP sinalizando concordância em agir para sustentar preços da commodity.
Batalha de narrativas
Enquanto as redações do mainstream jornalístico do país, cercadas de black blocs (inclusive por dentro…) repetem o mantra de que o governo está em xeque e que o mundo está chocado com a repressão aos protestos do final de semana...
... a dívida soberana brasileira volta a negociar com yields no nível pré-perda do grau de investimento.
Parece que o governo Temer é mais popular lá fora do que nas redações dos nossos jornais. Isso em nada me surpreende, diga-se de passagem.
Vai por mim: há muito mais a ganhar lendo o Empiricus Renda Fixa do que a Folha.
E por falar em renda fixa...
Quero estar vivo para ver as corretoras adotando, para o segmento, a mesma transparência no esquema de remuneração que já temos há algum tempo na renda variável. O que tem de corretora ofertando títulos com “taxa zero” não está no gibi.
Altruismo? Nem de longe. A remuneração está oculta: os intermediários estão capturando spread ao comprar o título e repassá-lo ao cliente com taxa menor. A depender do caso, o pedágio não é nada pequeno. E pode variar conforme a instituição, do que decorre que o mesmo título pode estar sendo ofertado a taxas distintas, ao mesmo tempo, por corretoras diferentes.
Como se defender? Para produtos bancários, o jeito é comparar as plataformas. Para crédito privado, uma olhadinha nas taxas da ANBIMA resolve.
E um e-mail inspirado para a ouvidoria da sua corretora, pedindo mais transparência, me parece uma boa ideia...
P.S.: Eu sei que você ainda está imaginando a Yellen de camisola. De nada.
|