No acumulado do mês, as ações da Tesla (NASDAQ:TSLA) recuam mais de 10%. Ao preço atual de US$ 263,55, os papéis permanecem nos níveis anteriores à euforia de mercado gerada pela associação entre Trump e Musk, iniciada em novembro. No ápice desse movimento, a ação atingiu sua máxima histórica de US$ 479,86 em 17 de dezembro.
A Tesla divulgará os resultados do 1º trimestre de 2025 no dia 22 de abril. De acordo com previsões da Zacks Investment Research, o lucro por ação (EPS) de consenso é de US$ 0,49, frente aos US$ 0,35 registrados no mesmo período do ano anterior. No 4T24, a empresa superou levemente as estimativas, com EPS de US$ 0,66 versus a expectativa de US$ 0,62 — uma surpresa positiva de 6,4%. Resta saber se esse desempenho se repetirá ou se a ação buscará novas mínimas no ano.
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Riscos associados à exposição política de Elon Musk
Ao se tornar uma figura proeminente na administração Trump, Elon Musk transferiu para a Tesla — sua única empresa listada em bolsa — tanto o entusiasmo quanto a polarização gerados por sua imagem pública. Como resultado, a companhia passou a ser alvo de campanhas midiáticas e políticas por parte de opositores ao governo atual.
Apesar de revelações que expuseram problemas de corrupção e desperdício em instituições como a USAID, ainda há riscos que se originam na esfera social. Dados do Edelman Trust Barometer 2025 indicam que a confiança média da população americana em negócios, governo, mídia e ONGs é de apenas 47%, ante 77% na China — sinalizando ceticismo generalizado e menor influência das narrativas oficiais.
Essa dinâmica gera preocupações adicionais para os investidores. Casos de vandalismo contra veículos Tesla, ainda que isolados, são amplamente divulgados, aumentando a percepção de risco entre compradores potenciais. A decisão de adquirir um modelo da marca passa a incluir o receio de se tornar alvo de retaliação. Preços elevados frente à concorrência chinesa (como a BYD), expectativa de queda nos preços dos combustíveis e o problema do valor residual mais baixo dos elétricos devido à degradação das baterias também pressionam a atratividade dos veículos da Tesla.
Mesmo com o presidente Trump classificando os ataques à Tesla como “terrorismo doméstico”, o impacto nas vendas deve ser negativo ao longo de 2025. Além disso, a eficácia das ordens executivas de Trump tem sido limitada por decisões judiciais, o que adiciona incerteza institucional ao cenário.
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Europa adota postura hostil à Tesla
Na União Europeia, onde não há equivalente à Primeira Emenda americana, a uniformidade das narrativas midiáticas é maior. Com a adoção do Digital Services Act (DSA) em 2022, abriu-se caminho para uma política de censura mais agressiva, o que torna a imagem pública de Musk ainda mais vulnerável no continente.
Segundo dados da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis, em fevereiro as novas matrículas de veículos Tesla caíram 40,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
No mesmo período, as vendas de elétricos cresceram 26% na Europa. A participação de mercado da Tesla caiu de 2,8% para 1,8%, enquanto no segmento de elétricos (BEVs), o market share recuou para 9,6% — o menor nível para o mês de fevereiro em cinco anos. A tradição europeia de protestos pode amplificar essa tendência, afetando ainda mais as vendas.
Uma eventual recuperação pode vir com a atualização do Model Y, mas, caso os dados de março e abril mantenham a trajetória de queda, a percepção de que a marca se tornou tóxica na Europa tende a se consolidar.
Avanço da BYD no mercado europeu
A BYD (SZ:002594), da China, tem se beneficiado da mudança no sentimento europeu. Seu modelo Atto 3 lidera as vendas no continente, com preço em torno de € 37 mil na Alemanha. O modelo Seagull, vendido a menos de US$ 10 mil na China, será lançado na Europa como Dolphin Surf por menos de US$ 26 mil, mesmo com tarifas elevadas. A BYD projeta entregar 5,5 milhões de veículos em 2025, ante 1,78 milhão entregues pela Tesla em 2024.
Tarifas americanas como possível alívio
Diante da pressão na Europa e da concorrência da BYD, a Tesla avalia focar em uma estratégia mais centrada nos EUA. Com tarifas contra veículos elétricos chineses já multiplicadas sob o governo Biden, Trump anunciou recentemente tarifas de 25% sobre carros estrangeiros — inclusive modelos montados nos EUA com peças importadas — com vigência a partir de 2 de abril. A medida deve afetar cerca de 40% dos veículos novos no país.
Segundo análise da Bernstein, 22% dos componentes da Tesla vêm do México, 7% do Canadá e 3% da China. Ainda que a produção não seja integralmente nacional, a companhia está em melhor posição do que os concorrentes, podendo preservar margens enquanto outros fabricantes repassam aumentos de custo aos preços finais.
Considerações finais
Assumir protagonismo político é um movimento arriscado para o CEO de uma empresa listada em bolsa. A opinião pública pode ser facilmente manipulada, e essa vulnerabilidade tende a se refletir nos ativos da companhia. Apesar disso, o cenário pode mudar rapidamente. Caso Musk reduza sua exposição política e a Tesla consiga lançar o aguardado Model 2 — com preço estimado em US$ 25 mil e potencial de condução autônoma avançada — a companhia pode se reposicionar e dissipar as incertezas atuais.
As projeções compiladas pelo Wall Street Journal indicam preço-alvo médio de US$ 360,48 para a ação da Tesla, com estimativas variando entre US$ 120 (cenário negativo) e US$ 1.000 (cenário otimista com adoção em massa do Robotaxi).
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