Covarde e sem-vergonha
Nossa bolsa sobe. Todos os olhos se voltam ao plenário do STF, que se reúne hoje para decidir o destino de Renan. Ganha força a hipótese da construção de um “caminho do meio”: permanece à frente do Senado Federal, mas não sucede Temer.
O mercado adora a ideia de que se faça qualquer coisa — qualquer coisa mesmo — para que as reformas avancem. Dinheiro é covarde para fugir e sem-vergonha para voltar.
Podem me chamar de purista, mas eu estou absolutamente enojado.
Wishful thinking?
Em café da manhã com jornalistas, Ilan Goldfajn reiterou a sinalização constante na ata do Copom de que, mantidas as condições normais de temperatura e pressão, o comitê deve acelerar o ritmo de queda da Selic a partir da próxima reunião.
Em meio ao furdunço que vivemos em Brasília, as palavras soaram como música. Já há quem se pergunte se não haveria espaço para um corte de 75 pontos-base em janeiro — 50 regulamentares mais 25 “atrasados” de dezembro.
Impossível, não é. Defendemos aqui que havia, sim, condições para ir direto aos 50 pontos neste último Copom. Mas vale um pé atrás para não confundir desejo e realidade na interpretação das palavras do presidente do BC.
Pelo sim, pelo não, dia é de otimismo também nos DIs
Águas tranquilas
No Velho Continente, dia é de otimismo e tomada de risco no aguardo da reunião do Banco Central Europeu, amanhã, da qual se espera anúncio de extensão do programa de estímulos.
Mais do mesmo; Não importa que de pouco tenha servido até aqui: mais do mesmo.
Estados Unidos faz eco, cp, mercado próximo à máxima histórica no aguardo da reunião do Fed, dia 14, com expectativa de alta de juros já incorporada.
Volatilidade lá fora próxima à mínima de 5 anos.
(Suspiro)
Não tenho carro, não tenho teto...
…e estou muito bem, obrigado.
Eu venho há muitos anos em um verdadeiro apostolado. Minha mensagem? Desapeguem dessa fixação por ter carro e imóvel próprio.
Desnecessário dizer que, ao longo da última década, o que mais vi foram testas franzidas com relação à minha visão das coisas. Afinal de contas, a ideia de que a posse desses bens é sinônimo de sucesso na vida foi incutida na mente do brasileiro médio desde muito cedo.
Ocorre que, na maioria dos casos, isso não se traduz em independência financeira. Pelo contrário, conheço — e você há de conhecer também — pessoas que afundaram em dificuldades por abraçar a ideia de que “quem compra terra, não erra”.
Nos últimos anos, principalmente por força da popularização de serviços tipo Uber, tenho conseguido avanços na disseminação da mensagem no que tange o carro. Já no que diz respeito à casa própria, sigo me sentindo pregando sozinho no deserto na maior parte do tempo.
Mas não hoje. Muito me alegra ver que não estou sozinho.
Atenção ao termômetro
Passada a primeira onda de otimismo nos Estados Unidos após a vitória de Trump, os touros seguem gritando mais alto que os ursos. Enquanto o S&P500, índice de ações mais líquidas, perde pujança, aceleram-se os ganhos entre as small caps do Russell 2000.
Mesmo com resultados corporativos no 3T16 acima do consenso e melhora das expectativas para 2017, níveis de preço das empresas líquidas após o trade Trump não dá conforto e leva gestores a buscarem retorno em outro lugar.
Ensina a experiência que comportamentos dessa natureza, de small caps subindo “em bloco” — não confundir com o picking cuidadoso de cases praticado pelo Max no Microcap Alert — não é bom sinal. A temperatura do mercado pode estar alta demais.