Bom dia a todos e bem vindo os novos leitores!
Aqui nessa tônica você não vai encontrar os fatos que vão mexer com a semana, ou a agenda econômica ou nem mesmo o noticiário da semana passada, para isso existem vários noticiosos por aí! Aqui você vai encontrar opinião sincera, exposição de ideais que eventualmente fazem sentido..rs.
Então vamos lá!
EU AVISEI…
Não digam que não avisei: semana passada comentei que acreditava que a bolsa brasileira tinha todos ingredientes para “andar”. Comentei que havia chegado nossa hora! EU AVISEI!
Pois bem, passado uma semana vimos a bolsa brasileira andar bem, inclusive bem descolada dos demais emergentes do mundo. Dá uma olhada (Ibov linha verde e EEM (NYSE:EEM) linha vermelha):
A Tal Confiança…
E aí nos enchemos de confiança, afinal, sabíamos que cedo ou tarde ia subir, não é mesmo? Sabíamos que tínhamos que investir em ações, e agora nos 102 mil pontos não há dúvida, não é mesmo?
Errado! Esse é o tipo de coisa que o investidor deve realmente treinar! Sua preparação mental para comprar quando tudo ao redor lhe aponta para o contrário e eventualmente se desfazer de uma posição quando tudo aponta para você comprar ainda mais!
Dia 20 de maio, a menos de 1 mês, a bolsa estava nos 90 mil pontos e o mundo parecia desabar. Não havia motivo para se “arriscar” em ações, por isso escrevi a Tônica da semana numa alusão à Sessão da Tarde e aquela sensação de JA VI ESSE FILME! Afinal de contas, na realidade tínhamos, na média, ações 10% mais baratas do que temos agora, mas ninguém queria comprar?! Vai entender?!
MAS, O QUE MOVE AS AÇÕES?
Resposta simples: compradores e vendedores atuando no mercado…rs.
Okey…mas indo além, fiz 2 posts onde mostro visualmente como é fácil ver o que move as ações. Dê uma olhada:
AÇÕES DE 100% E A REGRA DE OURO; A REGRA DE OURO
Os modelos de precificação de ações, em geral, se baseiam na seguinte ideia: uma ação vale o quanto ela consegue gerar de fluxos de caixa futuros para os seus detentores. Esses fluxos de caixa podem ser dividendos, lucros ou mesmo a própria geração de caixa livre da empresa. Esses “dinheiros” gerados no futuro podem crescer e isso deve ser levado em conta também. Feito isso, esses “dinheiros” devem ser trazidos a valor presente descontados por uma taxa de desconto que tem a ver com o risco da economia ou do mercado como um todo, beeeeem a grosso modo é isso. A fórmula abaixo ajuda a visualizar isso.
Não se preocupe com a matemática, mas sim com o conceito de “dinheiros” sendo gerado no futuro descontados por uma taxa.
Então, no Brasil atual o que temos?
Ora, os resultados trimestrais das empresas tende a ser muito ruins, pois a economia não cresce, ao contrário, desacelera. Veja que a projeção de PIB (crescimento da economia) vem definhando e hoje o crescimento esperado para esse ano já está abaixo de 1%:
Logo o componente crescimento da equação fica restrito a 2020 e aos anos futuros os quais temos menos capacidade de estimar. Afinal, quem conhece o futuro?!
Então, se os “dinheiros” serão menores no futuro próximo, porque as ações sobem?
Pela redução da taxa de desconto! Simples assim. O que estamos vendo no Brasil é uma reprecificação de uma taxa de juros menor em nível global e que também se reflete aqui. Os juros de 10 anos no Brasil atingiram 7,68%, algo nunca antes visto! Isso tem um impacto direto nas ações. Veja a comparação do IBOV (linha verde) com os juros:
Os valores do eixo são irrelevantes, o que quero mostrar é a relação inversa de juros para baixo e bolsa para cima que explica bem o movimento atual.
SETORIALMENTE…
Setorialmente isso também foi bem visível com as ações de empresas sensíveis a taxas de juros tendo boa performance na bolsa.
Veja a comparação do IMOB (linha verde), que pega as construtoras, shoppings e empresas de properties com o IBOV nessa alta recente:
Semelhantemente as ações do setor elétrico (IEE – linha vermelha) que tradicionalmente funcionam como bond proxies também tiveram um bom momento em bolsa:
E as ações de consumo (ICON-linha rosa)
E o que não andou? Os ativos menos sensíveis as taxas de juros, aqueles mais cíclicos os quais o impacto de uma economia mundial mais ou menos aquecida é o que dita o ritmo. Ou, ainda, aqueles que dependem de uma retomada da economia nacional para perceberem melhora de resultados e lucros. Abaixo a comparação do IMAT na linha azul (materiais básicos como minério, petroquímicos, celulose, etc), o INDX na linha vermelha (industria), ambos comparados ao Ibovespa.
É ISSO QUE VAI ANDAR AGORA?
Não faço ideia!
Olhando para o cenário macro, não dá para ficar tão otimista. Dado da Sondagem industrial continua indicando percepção cautelosa de empresários em junho. A leitura preliminar da Sondagem da Indústria do mês mostrou recuo de 1,4 ponto do índice de confiança do setor em relação ao número já fraco de maio. A queda refletiu tanto a piora da percepção dos empresários em relação à situação atual, quanto em relação à perspectiva futura de negócios.
Internacionalmente, China e EUA brigam comercialmente e isso não é bom para os setores cíclicos. Mas a reunião do G-20 ao fim dessa semana pode trazer uma alento para os papeis mais cíclicos.
“O melhor que o mercado pode esperar do G20 é um aperto de mão e um compromisso de retomar a conversa”, disse Paul Christopher, diretor de estratégia de mercado global do Instituto de Investimento Wells Fargo em St. Louis, Missouri. (Fonte: Investing.com)
O QUE EU PENSO DE TUDO ISSO?
Confesso que não esperava tamanho otimismo do mercado quanto aos juros no Brasil. Estamos falando de algo como 3,68% a.a. de juros reais para um prazo longo de 10 anos onde temos inúmeras incertezas.
Há espaço para cair mais? Até acredito que sim. Seria razoável termos um juro real de 3% a.a.? Dado o cenário externo de juros inclusive negativos em diversas partes do globo, me parece ser.
Sendo assim, sigo otimista e achando que a bolsa vai precificar antecipadamente o grande evento do ano que é a reforma da previdência. Quanto mais próximos chegamos da aprovação e seguindo com uma economia nessa linha do que tem sido dito, penso que o Ibov tende a caminhar para aquilo que já comentei aqui várias vezes:
Caminhamos para cumprir a máxima do sobe no boato e cai no fato, ou seja, quando a reforma da previdência for aprovada, acredito que o mercado já terá colocado isso nos preços. Por ora seguimos surfando o otimismo e antecipando um crescimento que poderá começar a acontecer na economia real só lá pelo 4º trimestre na minha humilde opinião.
Ainda assim, salvo algum evento externo muito nocivo, penso que o mercado deve seguir ignorando os dados macro e focando na contagem de votos da previdência, apostando todas fichas que nossos problemas serão resolvidos com ela, o que não é verdade. Mas, tudo bem, deixa isso para outra tônica, por ora vamos surfar esse otimismo.
Era isso.
Aquele Abs.