O poder de compra do boi gordo caiu em 2015, frente à reposição. Na média de novembro, em São Paulo, eram necessárias 9,85 arrobas de boi gordo para a compra de um bezerro de doze meses.
Na comparação com o mesmo mês de 2014 a queda do poder de compra foi de 11,4%. Naquele período eram necessárias 8,84@.
Se voltarmos a novembro de 2013, a diferença se amplia. Naquele mês, com 8,14@ de boi gordo o recriador/invernista repunha a boiada.
A questão é que, embora em um passado recente a situação seja crítica, a tendência de diminuição da troca tem sido observada nas últimas décadas. Veja a figura 1.
Em média desde o início de 2010, até novembro de 2015, foram necessárias 8,45@ para a aquisição de um bezerro no estado, acréscimo de 7,8%, frente às 7,83@ da média na década de 2000.
As duas décadas anteriores, 1990 e 1980, tiveram médias de 7,06@ e 5,39@ por bezerro adquirido.
É daí que vem aquela sua impressão de que era mais fácil ganhar dinheiro com a pecuária no passado. Não é impressão.
O encurtamento da troca
Nas últimas décadas, a utilização de tecnologia na recria e engorda foi maior que na cria, gerando incrementos de ganho de peso através da suplementação e uso de confinamento, por exemplo.
Essa adoção de tecnologia promoveu uma eficiência maior na recria e na engorda, aumentando demanda pelas categorias mais jovens, pela reposição.
Embora tecnologias como a IATF (inseminação artificial em tempo fixo) e a disseminação do uso de genética melhorada tenham colaborado com a evolução da cria no passado recente, historicamente a sua evolução foi mais lenta.
Com a recria/engorda demandando mais animais, as cotações dos bezerros subiram com mais vigor em longo prazo, afetando a troca.
Consequências
Historicamente, o aumento dos preços da reposição foi, dentre outros fatores, causado pelo aumento da produtividade da etapa seguinte. Por sua vez, este aumento de preços também gerou a necessidade desta eficiência.
Vamos explicar melhor.
Se a média da produtividade da recria/engorda elevou os preços do bezerro, isto ocorreu para todo o mercado. Portanto, quem trabalha abaixo da média tende a não suportar os preços da reposição.
Para uma reposição valorizada, existe a necessidade de utilização de tecnologia para a diluição daqueles custos das arrobas do bezerro. Isto pode ocorrer com a venda de bovinos mais pesados.
Fizemos uma evolução dos pesos médios de abate de bois nos primeiros semestres desde 1997, utilizando os números do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Usamos os primeiros semestres, pois para 2015 são os dados disponíveis até o momento.
Com base nestes pesos, diluímos o custo de um bezerro, considerando o preço médio de novembro de 2015, para avaliar qual o custo da arroba magra em cada arroba vendida.
Entre abater um bovino com 16,6@ (peso médio em 1997) e abater com 18,3@, há uma redução de 9,5% no custo de arroba magra em cada arroba vendida (de R$86,19 para R$78,05).
Isto ocorre pelo simples fato de que o preço do bezerro é diluído em mais arrobas. Se considerarmos um animal de 20@ este custo cai para R$71,41, redução de 17,2%, frente à média de 1997 (16,6@).
Considerações finais
Para que este bovino fique mais pesado e dilua o custo das arrobas magras conforme apresentado, há maior demanda por insumos, o que gera aumento de custos variáveis diretos. Portanto, contas devem ser feitas.
De toda forma, na situação atual, em que o grande problema é a compra da reposição e o poder de compra da arroba engordada está interessante frente aos insumos, colocar mais peso nos animais, no mesmo intervalo, tende a ser interessante.