A semana foi encurtada pelo feriado de Ação de Graças nos EUA. O mercado futuro de açúcar em NY encerrou o pregão reduzido da sexta-feira a 14.77 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 48 pontos comparativamente à semana anterior. Temos falado aqui que 15 centavos de dólar por libra-peso é um nível de preço bastante pesado e atrai um número grande de hedge. O real ligeiramente mais firme pela segunda semana consecutiva desvalorizou os açúcares em R$ 70 por tonelada no mês de referência março/2021.
O resumo da semana pode ser dado assim: os contratos com vencimento mais curto caíram mais e os contratos com vencimento mais longo chegaram a subir. É como se os pratos da balança buscassem o equilíbrio de preços. A valorização do real pode ter tido efeito no adiamento das fixações de preços para as safras 22/23 e a seguinte. A curva do dólar nos vencimentos mais longos pode também ter sido afetada pela percepção por parte dos bancos de uma melhora na economia e uma moeda brasileira menos volátil.
Parece-nos que a caixa de surpresas do mercado de açúcar, muito bem manipulada pelos fundos, está sem novos truques. Tudo que poderia mexer positivamente nos fundamentos do mercado para que ele pudesse ultrapassar os 15 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março/2021 já foram devidamente expressados. O mercado teve atrações para todo o tipo de público, como aqueles velhos parques de diversões que apareciam vez por outra nas pequenas cidades do interior. Carrossel, roda gigante, sala dos espelhos, labirinto, palhaços e o indefectível trem fantasma.
Já nos assustamos demais nesse terrível 2020, mas para o setor o ano foi muito bom. A desvalorização do real trouxe excelentes preços para as usinas em níveis que não poderíamos imaginar mesmo no início do ano quando o mercado beijou os 15 centavos de dólar por libra-peso pela primeira vez, antes da pandemia. Naquele momento o açúcar negociava o equivalente a 1,420 reais por tonelada. Era um carrossel, com os cavalinhos fazendo-nos experimentar aquela sensação gostosa de liberdade, de coragem e principalmente de força.
Mas, com a pandemia o mercado virou de cabeça para baixo E o que estava lá no alto acabou despencando. Dos 15.90 centavos de dólar por libra-peso em 12 de fevereiro mergulhamos nos 9.05 centavos de dólar por libra-peso em 28 de abril. Foi o momento de experimentar a roda gigante, aquela sensação de uma hora estar lá em cima e de repente estar lá embaixo. Sem conotações desavergonhadas, por favor. Nas rodas gigantes cada um pode ter o domínio sobre elas. Giram mais lentas ou giram mais depressa. Foi nesse período que o mercado foi de 1,572 reais por tonelada para 1,180, um mergulho às profundezas de Hades. Foi muito dolorido.
Na sala dos espelhos é que nos defrontamos com a realidade. Aquele lugar que mostra despojadamente nossa essência. Foi nesse momento que as usinas acordaram para a realidade e perceberam que as oportunidades perdidas lá atrás foram um erro grotesco e aprendendo a lição, caso o mercado se recuperasse, não haveria mais desculpas para não acelerar nas fixações não apenas desta safra, mas das safras seguintes. A sala dos espelhos, dizem os antigos, é a região da sabedoria, do conhecimento e das iluminações. E as usinas aceleraram !
O labirinto foi a busca da verdade. A decepção pelas oportunidades perdidas, de ver o mercado derretendo sob os olhares incrédulos daqueles que apostavam no infinito e além. O labirinto pode, simbolicamente, tanto representar a busca pela verdade, como também o perigo imediato. Na mitologia grega, o Minotauro era um monstro que vivia no labirinto que, curiosamente, possuía corpo de homem e cabeça de touro, o animal que representa aqueles que estão altistas no mercado. “Eu não sei o que você bebeu, mas eu quero igual”, você pode observar acerca dos meus devaneios, mas o fato é que em certo momento do mercado, ficamos como num labirinto. Ouvindo no headphone aquela música do The Clash “Should I stay or should I go”. Aperta o play.
É a vez dos palhaços. E nessa categoria estamos todos nós. Aqueles que votaram com o coração aberto na esperança de uma mudança radical no país, do ponto de vista moral principalmente. A menos que você insista em tapar o sol com a peneira, voltamos à estaca zero. Não há plano de governo, não há orçamento aprovado para 2021, um verdadeiro circo. No meio do picadeiro estamos nós. E o real reflete o (des)governo. Ninguém tem a mínima noção do que pode acontecer.
Com todo o cenário montado para uma safra de cana no Centro-Sul menor para o próximo ano, mas com a luz amarela piscando para uma eventual segunda onda de Covid-19, ameaças de isolamento, redução da atividade econômica, encolhimento do consumo de açúcar, diminuição da mobilidade que retrai o gasto com combustíveis, tudo nos faz pensar que nosso último estágio é embarcar no trem fantasma que promete sobressaltos, medo, pânico e uma dose excessiva de intranquilidade.
Senhores passageiros, favor embarcar na plataforma 15.
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Num ano repleto de acontecimentos ruins, nada poderia ser pior para os amantes do futebol do que a notícia da morte prematura de Diego Armando Maradona. Tive o prazer de vê-lo em ação em agosto de 1987, no estádio de Wembley (público de 61,000 pessoas) num amistoso entre a Seleção da Liga Inglesa e a do Resto do Mundo (3-0) celebrando os 100 anos da Liga Inglesa. Jogaram ao lado de um dos deuses do futebol, o francês Michael Platini, o brasileiro Josimar e o inglês Lineker. Antes da partida, Pelé entrou em campo para cumprimentar todos os jogadores e deu um caloroso abraço em Maradona. Dois deuses no mesmo espaço. Por duas ocasiões, em 1995 e 1998, o craque argentino esteve muito perto de vestir a camisa do meu glorioso Santos FC. Não deu certo, pois Dieguito acabou acertando com outro time. O mundo da bola ficou menor e imensamente mais triste.