Um dia de alivio técnico para os emergentes, mas sem alterar a tendência

Publicado 31.01.2014, 08:01

O mercado global deu uma trégua para os emergentes e assim ocorreu um ajuste técnico no comportamento das suas moedas em relação ao dólar, mas isto não quer dizer que tenham sido alteradas as perspectivas e as tendências ruins que estão muito evidentes.

Naturalmente, houve exacerbações no curtíssimo prazo que repercutiram fortemente nas relações paritárias e isto acabou por precipitar perdas que poderiam ser evitadas com o desmonte de posições ocorrendo de forma mais gradual em alguns países.

A rigor, com a nova redução deliberada pelo FED no “QE” o ambiente nos mercados emergentes poderia ter acentuado a piora, além do fato dos Estados Unidos terem revelado um crescimento do PIB no 4º trimestre bastante forte, assegurando que novas reduções poderão ocorrer no “QE” nas próximas reuniões, mas aparentemente houve uma sensata trégua para fazer a mesma coisa de forma menos traumática.

Por isso, chegou a surpreender o comportamento dos mercados globais em relação às moedas emergentes, embora não entendida como mudança de tendência ou perspectiva.

No Brasil, entendemos também que houve uma sutil estratégia do BC para mitigar a latente possibilidade de uma exacerbada alta na taxa cambial na virada do mês, com o anuncio da rolagem dos lotes de linhas de financiamentos concedidas aos bancos vincendas em 4/2 no dia 31, final do mês, e com isto induzir que os bancos operem focando um real mais apreciado para composição das bases negociais da rolagem, o que pode atenuar as pressões altistas decorrentes das disputas em torno da PTax.

Os bancos estão vendidos em suas posições, data base 24 deste mês, em torno de US$ 17,0 Bi e o BC tem um montante de US$ 14,526 Bi de linhas de financiamento em moeda americana concedida aos mesmos para a ancoragem deste posicionamento.

Com esta estratégia poderá lograr algum sucesso extremamente pontual, mas com risco de provocar forte movimento de volatilidade já que haverá atitudes buscando apreciar o real em confronto com outras buscando depreciá-lo, por coincidir com o dia da PTax. O mais provável é que consumado o leilão e o fixing da PTax a taxa cambial volte a subir de forma sustentável, tendência que deve prevalecer em fevereiro.

Os US$ 2,3 Bi de linhas de financiamento que serão ofertadas tem o objetivo de rolar a posição vincenda, portanto visa manter o nível atual de US$ 14,526 Bi detido pelos bancos, evitando impactos redutores da liquidez no mercado de câmbio à vista, que tudo leva a crer será bastante pressionado a partir de fevereiro, contexto que exigirá do BC ofertas novas de linhas de financiamento para irrigar a liquidez, salvo se resolver fazer leilões de vendas diretas ao mercado, o que não acreditamos que ocorra no curtíssimo prazo.

Com a intensificação a partir do mês de fevereiro do refluxo de recursos do Brasil para o exterior com impacto no mercado à vista deve ocorrer oferta própria consequente de “swaps cambiais” detidos por quem esta “hedge” que estará remetendo os recursos para o exterior e revertendo os “hedge” dos mesmos e assim, este movimento acabará gerando liquidez atendendo a demanda no mercado futuro, o que poderá evitar que o BC tenha que aumentar a oferta dos leilões de “swaps cambiais” novos, que tendem a ter um custo fiscal grande para o governo considerando a clara tendência de depreciação do real.

A expectativa agora se centra nas decisões defensivas de governo visando reagir ao quadro negativo presente no mercado internacional em relação aos emergentes, e que precisarão ser rápidas e com foco, pois se o governo relutar em ser pró-ativo e continuar questionando a visão externa com a sua visão interna, as ações poderão se revelar tardias e com reflexos negativos mais intensos para o país.

Muito provavelmente o BC precisará elevar a taxa de juro e agir para evitar a exacerbação demasiada do preço da moeda americana, porém sem estabelecer um confronto direto com as tendências do mercado, que poderia conduzir ao dispêndio de reservas cambiais que devem ser preservadas neste momento e também é preciso moderação ao expandir a oferta de “swaps cambiais” que podem representar ônus fiscal relevante nas atuais circunstâncias.

A sinalização de um aperto monetário envolvendo o objetivo de superávit primário maior é uma atitude relevante, incluindo cortes orçamentários, mas certamente estes novos comprometimentos serão vistos com grande ceticismo por parte do mercado nacional e internacional, pois os descontroles anteriores que construíram a perda de credibilidade do país macularam a imagem dos gestores do governo, e assim, embora importante como atitude, somente será validada quando for “entregue” como cumprida ao final de 2014.

O FED americano parece tendente a proceder a cortes de US$ 10,0 Bi a cada nova reunião desde que não ocorra nenhum sinal revertendo os sinais de recuperação da economia dos Estados Unidos, e isto sugere liquidez cada vez mais apertada para os emergentes no mercado internacional, principalmente aqueles como o Brasil que necessitam de financiamento externo para seus déficits em transações correntes.

E da mesma forma que demonstrou pouca consideração pelos reclamos dos emergentes à época em que instituiu os “QE” e provocou forte fluxo de recursos para esses países, o FED não está considerando para suas decisões os reflexos e impactos que provoca nestes mesmos países quando começa a reversão dos “QE”.

Afora a redução da liquidez internacional que inibe ingressos e promove saídas de recursos externos, poderá haver também o refluxo de investimentos externos voláteis no Brasil para o mercado financeiro americano, o que pressionará o nosso mercado de câmbio provocando a elevação do preço da moeda americana.

Serão certamente tempos bastante perturbadores para os emergentes e, cada um de per si, receberá repercussões em suas economias com a reversão das benesses obtidas durante o período de predominância da grande liquidez internacional e isto provocará ajustes bruscos nos preços dos ativos de cada um, incluindo a desvalorização de suas moedas.

O Brasil está sem atratividade perante os investidores do mercado internacional, razão pela qual o governo deve agir com mais foco e rapidez na privatização da infraestrutura, que afinal é a grande janela que dispõe para atrair recursos externos.

Por isso, o mundo financeiro global considera o Brasil vulnerável, temos melhores reservas cambiais mas provavelmente temos menos apelo para atrair investimentos produtivos em relação a outros emergentes, o que deixa em aberto a possibilidade de necessidade de tê-las que utilizar para compensar a “ressaca” de ingressos.

Tudo leva a crer que 2014 será um ano pior do que 2013 para o Brasil, mas há solução se cumprir com rigor um plano de austeridade que certamente anunciará por imperativo, e 2015 poderá ser melhor se o governo entregar os comprometimentos de forma correta.

É muito provável que o preço da moeda americana no nosso mercado, ao longo de fevereiro, já avance a nível bem superior às piores projeções.

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