O mercado de açúcar começou o ano extremamente pressionado e surpreendendo grande parte dos traders e analistas (inclusive este escriba) que não acreditava que os preços pudessem quebrar a mínima de 15,93 centavos de dólar por libra-peso ocorrida em julho do ano passado. Ainda no final de dezembro passado o mercado negociou 15.86. Mas a mínima agora é de 15.10 centavos de dólar por libra-peso, o menor preço desde junho de 2010.
Quem opina, pode errar. Inúmeras razões foram dadas para justificar a permanência do mercado em território de 15 centavos de dólar por libra-peso. A principal delas foi a desvalorização do real em relação ao dólar que chegou a bater 2,4380 e que, segundo renomados economistas, deve ter um pico de 2,7500 ao longo desse ano até fechar 2014 em 2,4500.
É sempre importante observar, no entanto, que muito embora o vencimento março/2014 na bolsa de NY tenha fechado nessa sexta-feira a 15.22 centavos de dólar por libra-peso, representando uma queda pouco maior que 7 dólares por tonelada na semana e acumulando este ano uma variação negativa de 7%, os valores em reais por tonelada apresentam desempenho melhor que esse. Explico: o menor valor negociado no ano passado foi de 783.20 reais por tonelada enquanto o preço médio de 2013 foi de 864.39 reais por tonelada. O fechamento de sexta equivale a 819.60 reais por tonelada. Para reprisarmos o valor mínimo do ano passado, NY teria que negociar a 14.55 centavos de dólar por libra-peso com o dólar de fechamento de sexta a 2.3460.
Os fundamentos do mercado mudaram tão significativamente assim após o incêndio nos armazéns de açúcar no porto de Santos que justificassem uma queda de 425 pontos (93.70 dólares por tonelada) desde a alta ocorrida naquele 18 de outubro? Desses 425 pontos de queda, 150 “pertencem” à desvalorização do real. Os fundos viraram a mão pesadamente. Estavam comprados 200.000 lotes ao preço médio de 18.49 e devem ter se machucado com essa posição frenética. Agora estão vendidos 110.000 lotes, ou seja, mais de 300.000 lotes pressionaram o mercado. Os negócios físicos de açúcar não ajudam enquanto os descontos demonstram a fraqueza. Parece um poço sem fundo. Açúcar para embarque janeiro pelo porto de Santos é negociado com até 50 pontos de desconto, enquanto embarque março negociou a H4 mais 2. O custo de carregamento embutido nesses dois meses mostra 23% ao ano em dólares. Isso demonstra a necessidade de caixa imediata de algumas usinas e – claro – a falta de demanda que empurra os descontos para baixo.
Os outros 275 pontos podem ser atribuídos não apenas à falta de demanda, mas também ao balde de água fria que foi a intervenção nociva de Mantega e Dilma a não aprovação da metodologia de ajuste automático de preços proposta pela diretoria da Petrobras e repelida pela dupla dinâmica. Nos dias que antecederam a tal reunião prevista, o mercado de açúcar chegou a negociar a 18 centavos de dólar por libra-peso.
Pelo segundo ano consecutivo a média de preços negociados em NY foi inferior a do ano anterior. O preço médio de 2011 foi de 27,10 centavos de dólar por libra-peso, o de 2012 foi de 21,57 centavos de dólar por libra-peso (queda de 20,4%) e o de 2013 foi 17,47 (queda de 19%). Neste século, apenas 2002 e 2007, além dos já mencionados, apresentaram média de preço inferior a do ano anterior. O recorde de anos seguidos de baixa é 5, de 1995 até 1999. O ano em que tivemos a média mais alta foi 1980, com 30,27 centavos de dólar por libra-peso, enquanto a mais baixa foi em 1966, com 1,97 centavos de dólar por libra-peso! Desde 2005 a média móvel de 3 anos foi ascendente por um período de 8 anos (recorde), interrompido agora em 2013.
A quarta estimativa da Archer Consulting de fixação de preços de açúcar em NY, por parte das usinas, para a safra 2014/2015, aponta um percentual de 36% e preço médio de 17.46 centavos de dólar por libra-peso.
Um comentário interessante sobre a volatilidade do mercado de açúcar foi publicado na edição mensal de janeiro/2014 do Archer News (publicação exclusiva para clientes), feito por Philip Passen, conhecido trader de opções de NY, a convite da Archer. “Infelizmente, não vemos esse período de volatilidade barata terminar no curto prazo. Sentimos uma tendência em que os traders vendem volatilidade no curto prazo, comprando no longo prazo (2015), já que o nível de incerteza para o horizonte 12-18 mês é muito maior do que a janela de três meses. Talvez a primeira oportunidade real para uma elevação das volatilidades virá em Abril / Maio quando começaremos a ver os novos dados para o esmagamento de cana Brasil. Qualquer atraso no início da produção no Brasil poderá começar a criar uma atmosfera de incerteza, e o resultado pode ser uma compra calls com preço de exercício mais alto e consequentemente, volatilidade mais firme”.
Rir é sempre bom. Um prestigiado advogado do setor conta uma estorinha que um executivo de uma usina em vias de pedir recuperação judicial entrou num escritório de advocacia concorrente e barganhou: "Eu sei que vocês são um escritório muito caro e eu gostaria de saber se eu posso fazer duas perguntas por cinco mil reais?". "Pode sim”, disse o advogado, ”qual é a segunda?"
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No retorno do comentário semanal, gostaria de reiterar meus votos de um excelente 2014 a todos os leitores.