O mercado futuro de açúcar em NY fechou essa sexta-feira com o vencimento março/2014 cotado a 15,73 centavos de dólar por libra-peso, apurando uma alta na semana de 4 dólares por tonelada. Os demais meses de vencimento fecharam com variações negativas entre 26 e 38 pontos de alta, ou entre 6 e 8 dólares por tonelada.
A falta de chuvas nas regiões produtoras de cana tem sustentado o mercado enquanto recuperou parcialmente as perdas incorridas em 2014 na bolsa de açúcar de NY. Mas esse momento de correção pode ser apenas o começo de uma reviravolta nos preços. Várias usinas consultadas demonstram sensível preocupação com a falta de chuva que deve afetar a produção e o nível de sacarose na cana. É muito cedo ainda para adiantar um número para a safra 2014/2015, mas alguns produtores apostam numa produção “na melhor das hipóteses” igual a da 2013/2014, ou seja, em torno de 595 milhões de toneladas.
Com os fundos especuladores carregando uma imensa posição vendida a descoberto na faixa dos 110,000 contratos, que representam cerca de 5,6 milhões de toneladas de açúcar equivalente, embora em situação ligeiramente confortável tendo em vista seu preço médio de entrada, ainda assim, o mercado está sujeito a uma forte reação nos preços.
O primeiro e mais importante indicador dessa possibilidade (sem contar a seca) é a alta significativa da volatilidade implícita das opções. Os traders estão pagando cada vez mais para as opções. Um exemplo, quando o mercado negociou a mínima de 14,70 centavos de dólar por libra-peso no final de janeiro a call (opção de compra) no dinheiro, isto é, aquela cujo preço de exercício é o mais próximo do nível do mercado, estava negociando a uma volatilidade implícita anualizada de 15-16%. No fechamento de terça passada, quando o mercado atingiu o mais recente pico de preços (16,38 centavos de dólar por libra-peso), a volatilidade implícita negociou a 25%. Para se ter uma ideia do que isso representa, o custo para se proteger de uma eventual alta no mercado passou de cerca de 4,30 dólares por tonelada para 6,00 dólares por tonelada.
Observe o cenário que está se delineando para o setor. De um lado temos a percepção de que a seca pode afetar a safra de cana muito mais do que se estimava anteriormente. As vendas de automóveis e comerciais leves cresceram 1% em relação ao mesmo período de 2013. Tem-se de um lado menos cana e do outro, mais veículos consumindo energia. Com o consumo mundial de açúcar crescendo 1,5-2,0% em bases anuais e o consumo interno crescendo vegetativamente, teríamos que crescer em cana um volume suficiente para atender toda essa demanda que - para os cálculos mais conservadores da Archer Consulting - indica 35 milhões de toneladas. Se tivermos a confirmação de seca e consequentemente de uma safra menor, essas 35 milhões de toneladas que não virão mais o acréscimo de consumo e o fato de o início da 2014/2015 ser mais alcooleira, poderemos ver os preços do mercado de açúcar em NY apreciarem pelo menos até o limite da arbitragem com o etanol hidratado, que hoje está em média 250 pontos a cima no nível do VHP. NY a 18,50 centavos de dólar por libra-peso antes de 1º de maio? Quem acredita aí, levanta a mão.
O consumo de combustíveis no Brasil no ano calendário de 2013 foi de 51,896 bilhões de litros, um aumento de 5,85% em relação ao mesmo período do ano anterior. O incremento do consumo no ano passado foi de 2,866 bilhões de litros totalmente suprido pelo etanol anidro (1,761 bilhão) e hidratado (1,097 bilhão). O consumo de etanol representou 39,2% do total um aumento de 3,6 pontos percentuais. Em cinco anos, o crescimento médio do consumo foi de 6,17%. A previsão de consumo de combustível da Archer Consulting para a safra 2014/2015 é de 22,9 bilhões de litros de etanol e 32,4 bilhões de litros de gasolina A.
Um leitor questiona por email se os problemas do setor estariam resolvidos com a volta da CIDE (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico)? Bem, do ponto de vista do investidor lá fora, esse tributo de competência exclusiva do Governo Federal é um instrumento de intervenção estatal que fragiliza o desenvolvimento de qualquer plano estratégico uma vez que pode ser alterado numa canetada. O Brasil não tem hoje nenhum privilégio em relação aos outros emergentes e a CIDE acaba sendo mais um fator complicador na hora de o dinheiro decidir em qual porto vai atracar. O setor não tem saída se não for pelo livre mercado. Inventem-se os mecanismos que se quiserem, serão todos paliativos, pontuais, procrastinadores, que não darão nenhuma segurança a quem pretende investir de maneira profissional no setor. Além disso, quando foi criada, a CIDE pressupunha atuação incentivadora (no caso, aumentar o consumo de um produto em relação a outro, causando menor dependência econômica do p aís a esse produto). Isso não ocorreu. O que distorce o mercado e afasta novos investimentos é a falta de transparência na formação de preços via congelamento de preço da gasolina para o consumidor. Simples assim.
O preço médio do mercado de açúcar em janeiro (tomando o fechamento de NY vezes o dólar publicado pelo Banco Central, com prêmio de polarização) foi de R$ 843,61 por tonelada contra R$ 884,51 por tonelada no mês anterior, uma queda de 4,62%. Olhando apenas o açúcar em NY, a queda nas médias correspondentes foi de 6,12%. Quem não fez o hedge do dólar perdeu mais.
O percentual de fixação de preços da safra 2014/2015 no mercado de açúcar em NY, em 31 de janeiro, de acordo com o modelo da Archer Consulting era de 40,42% e preço médio de 17,34 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos (sem pol). O equivalente em reais por libra-peso é de 39,92. O nível percentual está em linha com os ano passado e abaixo da safra 2012/2013 que apontava nessa época mais de 50% de fixação.
O apagão de energia que o país sofreu na semana é só a ponta do iceberg dos nossos problemas estruturais. A incompetência de Dilma é ululante. Nunca antes nesse país, aproveitando a frase do seu criador, tivemos gente tão inapta no governo federal. Enterram-se milhões de dólares para fazer um porto em Cuba, privilegiando a gerontocracia comandada pelos ditadores assassinos Castros enquanto vimos no ano passado e certamente veremos este ano os congestionamentos nos portos para os embarques de açúcar e soja. É o fim da picada.
Um prestigiado executivo do setor acertou na mosca: no inicio do ano passado disse nesse espaço que 2013 seria marcado pelo apagão logístico (que acabou ocorrendo) e que 2014 seria marcado pelo apagão energético (que está aí). Já se nota a formação de fila na porta da sala para beijar o anel do dito executivo que promete novas e bombásticas previsões.
Boa semana a todos.