O mercado de açúcar em NY fechou a semana com queda generalizada ao longo da curva de preços que se estende até março de 2016. As baixas ficaram entre 31 e 61 pontos, isto é, entre 7 e 14 dólares por tonelada, com maior perda para os meses com prazo de vencimento mais curto. Desde 31 de dezembro de 2012, o vencimento julho/2013 já perdeu 1/7 do seu valor. O spread outubro/13 com março/2014 alargou ainda mais, para 92 pontos, mostrando um custo de carrego anualizado para aquele período de 13,4%. O que preocupa traders e usinas é o fato de que o mercado físico tem poucos negócios e não se vê animação por parte dos compradores/importadores de iniciar seus processos de compra/formação de estoque.
Fazia muito tempo que não se sentia um ambiente de negócios no mercado de açúcar com tanto mau-humor. Isso ficou demonstrado durante a semana do Sugar Dinner aqui em NY. As rodas de conversa tinham invariavelmente um tom de fim de festa. Todos estão olhando para baixo, ou seja, para a direção que o mercado continua indo. Ambiente muitíssimo parecido com aquele que vimos aqui mesmo, no Sugar Dinner de NY, em 2010 quando as cotações do açúcar derretiam para os 13 centavos de dólar por libra-peso. Naquele ano, apenas 3 meses depois da queda, o mercado pulava para 19,88 centavos de dólar por libra-peso.
Do lado mais ensolarado do mercado, o Seminário da Datagro teve palestrantes de grande qualidade. Muitas apresentações primorosas que deram uma visão diferente daquelas que estamos acostumados. Uma delas, abordando a possiblidade radical de mudança de mix de açúcar para etanol num mercado que pode continuar a cair, põe em xeque o superávit de açúcar no mercado mundial. Um trader levantou esse número como sendo 4,4 milhões de toneladas de redução na produção de açúcar no CS enquanto o representante do maior produtor brasileiro chegou a falar em mais de 8 milhões de toneladas. A verdade é que a tendência a partir de agora é de produção cada vez mais acentuada de etanol, já que o anidro hoje tem melhor rentabilidade do que o açúcar, seguido pelo hidratado. Outra palestra muito interessante foi a de um economista de um dos principais bancos financiadores do setor no Brasil. Foi a visão de uma pessoa sem envolvimento direto com o setor, apresentando correlações macros e suas influências nas commodities e, principalmente, no açúcar. Existe um consenso que a volatilidade das commodities está muito baixa e alguns analistas acham que pode haver uma mudança radical nesse cenário, trazendo evidentemente mais estamina para os mercados.
Os fundos têm 115.000 lotes vendidos com um preço médio de entrada que deve estar ao redor de 18,42 centavos de dólar por libra-peso. Com o fechamento de sexta-feira o lucro não realizado está na media de 34 dólares por tonelada, ou seja, existe um montante de US$ 200 milhões de lucros não realizados está em cima da mesa nesse momento. Não há pressa para tomar esse lucro, pois não há indicação nenhuma que os preços possam se recuperar no curto prazo. Pelo menos, é isso que os fundos pensam. Mas, para quem já viu esse filme antes, sabe que as reações adversas à posições dessa magnitude muitas vezes tem finais surpreendentes. Existe muito de irracionalidade no mercado e esse é um ponto difícil de rastrear. Um leitor trader de uma grande casa me manda um comentário assustador. Diz ele: ”quando eu vejo caras de 25 anos de idade com seus poderosos MBA’s trabalhando para fundos e apostando pesado em determinada posição, sem sentido de racionalidade nem de longo prazo, apenas o suficiente para pegar o bônus no final do ano, é preocupante. Tem que apostar grande e pesado pois assim aumenta a possibilidade de bônus”. Incrível, não? Mas, não se trata de choradeira de quem está perdendo dinheiro, mesmo porque não é o caso desse leitor, mas sim de apontar a dificuldade que se tem hoje de lidar com fundamentos e racionalidade quando o dinheiro dos outros pode ser gasto como bem quiser.
Onde estaria o último exemplar do Bovarius Sapiens, espécie de trader de açúcar já extinto que acreditava em mercados cuja trajetória de preços era ascendente? Para quem estava aqui em NY era caso de ir ao Museu de História Natural na Rua 81 e procurá-lo na seção que exibe exemplares empalhados do Tigre-da-Tasmânia, do Bucardo e do Mamute Lanoso. Ninguém sabe, ninguém viu. Dizem que a citada espécie se extinguiu por vontade própria – fato raro no mundo animal - depois que o mercado de açúcar quebrou os 17 centavos de dólar por libra-peso e negociou nas mínimas dos últimos 34 meses (desde julho de 2010). Outros afirmam que foram devorados pelos seus predadores naturais, os Ursus Sapiens, que por sua vez continuam cada vez mais gordos.
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Tenham todos uma excelente semana com muitos negócios.