Os mercados globais continuam andando em direções opostas. A terça-feira (23) de correção deixou claro que as ações emergentes estão na contramão. Enquanto as bolsas em Nova York e na Europa titubearam, o Ibovespa saiu da mínima do ano. Em dois dias, o saldo da bolsa brasileira está positivo em 0,5%. No ano, a queda é de 4,4%.
Nesta quarta-feira (24), porém, o sinal positivo é generalizado. Inclusive na China, onde as autoridades decidiram agir para interromper o longo período de fraqueza do mercado acionário, em meio à saída de estrangeiros. Órgãos reguladores pediram a restrição nas vendas a descoberto de derivativos, produtos popularmente chamados de “bola de neve”.
Além disso, o Banco Central chinês (PBoC) decidiu apoiar a economia, ao anunciar o maior corte desde 2021 na quantidade de dinheiro que os bancos devem manter como reservas. A redução no chamado compulsório bancário entra em vigor a partir de 5 de fevereiro, às vésperas da celebração do Ano Novo Lunar.
Em reação, a Bolsa de Hong Kong subiu 3,5%, aproximando-se do nível mais alto em duas semanas, impulsionadas pelo setor de tecnologia. O destaque ficou com o salto de 6% nos papéis da Alibaba (NYSE:BABA), em meio a relatos de que o bilionário Jack Ma comprou US$ 50 milhões em ações da empresa.
A alta acentuada nos futuros dos índices de ações nos Estados Unidos, após a Netflix descolar dos rivais e voltar a crescer como no início da pandemia, também contribui para a dinâmica positiva do dia, que conta ainda com alta das commodities e queda do dólar. A temporada de resultados continua hoje, com os números da Tesla e da IBM (NYSE:IBM).
A ilusão
Até aqui, nenhuma novidade e apenas um resumo do que os investidores vão encontrar por aí. No entanto, é preciso explorar um pouco melhor essa mistura de puro ajuste técnico dos mercados e um pouco de sentimento. Afinal, o cenário base é o mesmo, ainda que frágil.
Isso significa que os investidores estão tentando encontrar razões para justificar suas posições nos ativos de risco, em meio às esperanças de que, cedo ou tarde, os juros nos EUA e na zona do euro vão cair. Aparentemente, há uma falsa sensação de conforto, apoiada pela boa coincidência de estímulos vindos da segunda maior economia do mundo.
Porém, como frisou o presidente chinês, Xi Jinping, “o sistema financeiro socialista é diferente do modelo financeiro ocidental e tem como missão servir à economia real”, em vez de ser uma ferramenta em que “dinheiro gera dinheiro”, como faz Wall Street com o apoio do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA).
Portanto, os mercados estão iludidos, buscando conter o processo de mudança, uma vez que a narrativa de cortes em breve e em ritmo acelerado pelo Fed já está ultrapassada. A história dos juros nos EUA - e no Brasil - já é outra e se não houver queda na taxa americana em março, haverá uma correção na exposição ao risco, sobretudo nos emergentes.