Um grande legado
Nascido em 1918, em Oklahoma — região central dos Estados Unidos —, Sam Walton terminou o serviço militar em 1945 e logo depois, no início dos anos 50, mudou-se para uma pequena cidade, no Arkansas — estado vizinho de onde nascera.
A mudança deu-se por conta de sua esposa, que procurava um lugar mais tranquilo para viver. Mas o Sr. Walton também tinha o desejo de aproveitar melhor as temporadas de caça — agora, morando em uma cidade que faz fronteira com quatro estados, poderia colocar seu sonho em prática. Um americano verdadeiramente "raiz".
Lembram-se do “american dream” que comentei na última newsletter? Pois bem, estamos naquele mesmo contexto histórico.
Logo quando chegou na nova cidade, Sam inaugurou a Walton’s 5&10 — uma pequena loja de varejo. Seu plano era ter um negócio que pudesse oferecer qualidade no atendimento, mas, ao mesmo tempo, preços mais baixos a toda hora — o que era visto como loucura pelos outros varejistas da região.
Não demorou muito tempo para o negócio prosperar e, em 1962, o Sr. Walton abriu a primeira loja chamada Walmart. Décadas mais tarde, a companhia se tornou a maior varejista do mundo.
Oportunidade para todos
Como comentei em oportunidades anteriores, a dinâmica do mercado de capitais nos Estados Unidos é muito diferente da realidade brasileira, tanto do lado dos empreendedores, quanto dos investidores.
O sucesso das primeiras lojas permitiu que Sam desse continuidade ao processo de expansão do Walmart com recursos próprios. Mas no início da década de 70, foi preciso recorrer a investidores externos para prosseguir com o crescimento da empresa.
Foi exatamente no ano de 1970 que a companhia tornou-se pública, vendendo suas Ações por 16,50 dólares americanos — a média de preço da época. Dois anos depois, quando já possuía 51 lojas, a companhia foi listada na New York Stock Exchange, sob o ticker WMT — que permanece até hoje, acessível para todos os investidores, incluindo os pequenos.
Notem que, apenas oito anos após a abertura da primeira loja, o Sr. Walton já teve acesso ao mercado de capitais para investir no seu negócio. Fato quase impensável no Brasil.
Execução e crescimento
Construir uma companhia como o Walmart, necessariamente, passa por muitos desafios, sejam eles estratégicos — muitas fusões e aquisições aconteceram ao longo da história da empresa — ou mesmo de natureza econômica — Walmart sobreviveu às últimas crises americanas e mundiais: 1975 (crise do petróleo); 1990 (inflação nos EUA); 2000 (bolha de tecnologia); 2008 (crise do subprime).
Notem no gráfico abaixo, que mostra o fluxo de caixa gerado apenas pelas atividades operacionais da companhia, como essas grandes crises passaram “despercebidas” nas atividades da empresa, quando temos um horizonte de tempo razoavelmente grande em vista.
Fonte: Bloomberg
Assim como na crise atual, a empresa precisou se reinventar, muitas vezes, ao longo dos anos — mesmo após a morte do Sr. Walton em 1992.
Houve troca no mix de produtos vendidos — eles vendem até pinheiros naturais! —, e também na cadeia logística de abastecimento, na remodelagem do tamanho e localização das lojas; e até mesmo mudança no perfil dos clientes.
O desafio foi cumprido e hoje o Walmart é o maior varejista do mundo, com uma receita anual em torno de 520 bilhões de dólares — 75 por cento vinda dos Estados Unidos —, com mais de 11 mil lojas espalhadas por todos os cantos do planeta.
Fonte: Statista
Eu mesmo sou um exemplo vivo de que Sam Walton e seus sucessores conseguiram atingir o objetivo inicial da companhia — atendimento, sortimento e preços baixos.
Um das tradições americanas, na época do natal, é comprar um pinheiro natural e decorá-lo para a chegada do papai noel. Apesar do dia de ação de graças ser mais relevante para os americanos, essa tradição natalina ainda existe e posso dizer: as crianças adoram.
Durante os três anos em que tive a oportunidade de morar nos Estados Unidos, em um deles decidi que teria meu próprio pinheiro natural.
Após algumas conversas com o pessoal do escritório onde trabalhava — me sugeriram escolhê-lo em uma fazenda da região, mas achei meio complicado demais — resolvi que o melhor a ser feito era procurar algum lugar mais próximo.
Quando estava fazendo compras no Walmart da cidade, me surpreendi com uma área externa na loja, recheada de pinheiros, onde pude escolher e embalar o meu próprio! Confesso que foi bem difícil colocá-lo dentro do carro e subir pelo elevador até o apartamento onde morava, mas o sonho foi realizado, graças ao Walmart.
Crise? Não por aqui
Apesar do momento difícil no qual os Estados Unidos e o mundo vivenciam, as Ações do Walmart (WMT) seguem próximas da máxima histórica, com desempenho bem acima do S&P500 — valorização de 6 por cento no ano, contra uma queda de 9 por cento do índice.
Obviamente, a natureza do negócio da companhia — o varejo, principalmente de alimentos — serve como um refúgio aos investidores em tempos desafiadores.
Como não devemos focar no resultado de curto prazo das empresas quando decidimos investir na bolsa de valores — pois a ideia é que nos tornemos sócios delas —, achei melhor olhar o resultado da companhia e o desempenho das Ações em uma janela maior de tempo.
Fonte: Bloomberg
Notem no gráfico acima que, mesmo durante a crise do subprime, em 2008 — uma das mais severas da história pós-guerra, quando aconteceu a forte queda nos mercados acionários americanos —, as Ações da empresa não caíram muito e nos anos seguintes retomaram o movimento de alta. O mesmo vale para o caixa gerado pelas operações da companhia e o lucro por ação.
Apesar de não podermos inferir que desta vez a história será a mesma — retornos passados não são garantia de ganhos futuros —, creio que a companhia, a exemplo de crises anteriores, sairá mais forte deste momento delicado em que vivemos.
A depender do perfil do investidor, a escolha de empresas mais estáveis, em geografias diferentes — como os Estados Unidos — pode fazer bastante sentido.
O retorno do investimento em companhias como o Walmart pode até não ser tão alto quanto em aplicações nas empresas de tecnologia, por exemplo. Essa é a natureza do negócio — crescimento menor, em um mercado estável, mas praticamente sempre gerando valor ao acionista.
Quando fazemos a escolha do nosso portfólio de investimentos é propício pensar em alguma exposição a companhias com esse perfil.
Apesar de não ter feito a comparação com o mercado brasileiro, tenho convicção de que os solavancos nos resultados e nas Ações do Walmart tendem a ser menores quando comparados às reviravoltas que temos aqui no Brasil.
Pense nisso! Rentabilidade sim, mas também faz parte do processo de investimento ter segurança, aplicando em empresas resilientes.
Se você tiver alguma sugestão ou dúvida sobre investimentos internacionais, mande-nos uma mensagem e seu tópico poderá estar na próxima newsletter.
Nos vemos na próxima semana!
Um abraço,