Publicado originalmente em inglês em 15/03/2021
As ações da Boeing (NYSE:BA) (SA:BOEI34) valorizaram-se 28% no mês passado. Os papéis dessa gigante da aviação estão subindo na crença de que o pior das crises enfrentadas pela companhia nos últimos dois anos ficou para trás.
Só nos últimos cinco pregões, a ação já subiu 20%, encerrando a sexta-feira cotada a US$ 269,19. A força dos papéis da BA é tão grande que sua disparada em 2021 é mais de 3 vezes maior do que o retorno do Dow Jones Industrial.
A recuperação da Boeing ocorre em paralelo com o amplo rali nas ações cíclicas, como companhias aéreas, operadoras de cruzeiro e varejistas, com os investidores alocando recursos em áreas estreitamente relacionadas à reabertura econômica após a pandemia de coronavírus.
A alta da fabricante de aviões sediada em Chicago é bastante impactante. A Boeing enfrentava a queda desencadeada pela pandemia nas viagens aéreas, além de problemas com o avião 737 MAX, que ficou proibido de voar por mais de um ano após dois acidentes fatais por causa de falhas em seu sistema de controle.
Os últimos dados mostram que as companhias aéreas estão voltando a comprar o popular 737 MAX depois de a Boeing conseguir aprovações regulatórias para volta a colocá-lo no ar. A gigante da indústria aeroespacial e de defesa disse aos investidores, na semana passada, que recebeu mais pedidos firmes de aviões comerciais em fevereiro do que cancelamentos pela primeira vez em 15 meses.
Durante o mês, foram feitos 82 novos pedidos e 51 cancelamentos. A Boeing entregou 22 aviões comerciais, sendo 18 deles jatos 737 MAX. O MAX foi proibido de voar nos EUA de março de 2019 a novembro de 2020, após dois acidentes que mataram 346 pessoas.
Até onde vai esse rali?
O número de aviões 737 MAX em serviço já ultrapassou 100, com companhias aéreas no Brasil, EUA e Europa aumentando os voos após a recertificação do jato. Mais de 1.300 voos foram realizados na semana até 3 de março, com o American Airlines Group (NASDAQ:AAL) (SA:AALL34) operando as 400 voos, de acordo com dados da consultoria de aviação Cirium.
Esses eventos positivos são importantes para recuperar a confiança nessa castigada gigante industrial, mas a rápida recuperação das suas ações também faz muitos investidores se questionarem se esse rali ainda pode avançar mais. Após os últimos ganhos, a Boeing ainda está 40% abaixo do recorde de US$ 440,62 registrado em 1 de março de 2019.
Analistas da Canaccord Genuity atualizaram, na sexta-feira, sua recomendação na Boeing para compra, elevando o preço-alvo para US$ 275, com base no retorno do 737 MAX, melhores projeções de viagens e a estabilização do mercado de aviões de fuselagem larga.
De acordo com o analista Ken Herbert:
“Embora as unidades de fuselagem larga da BA demorem mais tempo para se recuperar, vemos uma estabilização nas taxas de construção do 787 e 777 em 2022-2023.”
“Entretanto, acreditamos em uma alta nas viagens aéreas, e o prolongamento do estímulo permitirá que a BA veja um aumento nos pedidos após diversos trimestres de baixa atividade.”
Apesar do otimismo nas ações da BA, os analistas em geral não veem muito espaço para alta a partir de agora na ação, pois a indústria de aviação continua enfrentando muitos desafios para a plena recuperação da crise mundial no setor.
A Boeing registrou US$ 8,3 bilhões em desvalorização de ativos no último trimestre, encerrando um dos piores anos em sua centenária história. A maior porção dessa conta veio da sua decisão de atrasar a produção do modelo de fuselagem longa 777X, ao anunciar que as entregas não começariam a ser feitas até o fim de 2023. Esse movimento sugere que os órgãos reguladores levarão mais tempo para certificar novos jatos após o fiasco do MAX.
Dos 25 analistas que cobrem o papel, metade ainda recomenda compra com um preço-alvo consensual de 12 meses a cerca de US$ 232 por ação.
Resumo
No curto prazo, as ações da Boeing estão se beneficiando da mudança na alocação de recursos de ações de alto crescimento para nomes industriais que tiveram dificuldades durante a pandemia. Esse potencial de alta, aliado à melhora nas projeções dos jatos MAX, está bastante refletido no atual preço das ações.
Entretanto, a indústria de viagens, em nossa visão, levará anos para voltar ao normal, sem falar que o impacto no lucro da Boeing é duradouro. Com isso, os investidores devem esperar de fora por um ponto melhor de entrada em nossa visão.