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Valorização do real resultou em queda no valor do açúcar em reais por tonelada

Publicado 17.04.2023, 09:03
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O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento maio/23 cotado a 24.15 centavos de dólar por libra-peso, 52 pontos acima do fechamento da semana anterior, equivalentes a 11.50 dólares por tonelada. No entanto, apesar da alta, a valorização de quase 3% do real na semana frente ao dólar americano resultou numa queda no valor do açúcar em reais por tonelada. A contração foi de R$ 35 por tonelada na semana. Reforça-se assim nossa visão de que é importante aproveitar as oportunidades de preços elevados em reais por tonelada.

O fechamento do contrato maio/23 convertido em reais pelo câmbio de sexta-feira equivalia a R$ 2,740 por tonelada FOB Santos, valor que – se analisarmos o período compreendido de janeiro de 2000 até hoje – devidamente ajustado pela inflação – ocorreu em apenas 5.8% de todo esse período. Portanto, repetindo aqui nossos dois velhos e surrados conselhos, não se apaixone pelo mercado e lembre-se que ninguém quebra com lucro no bolso.

A estratégia que temos sugerido de fixar preços de açúcar para exportação em reais por tonelada e concomitantemente comprar uma opção de compra fora-do-dinheiro, se você a tivesse feito 400 pontos atrás, teria aproveitado 90% da recente subida de preços. Explico.

Na simulação que fizemos para o vencimento outubro/23, o valor de fixação para hoje seria de R$ 2,722; caso tivesse seguido a orientação acima, teria hoje R$ 2,695. Ah, mas então era melhor esperar, certo? Sim, se você tivesse uma bola de cristal ou outro desses instrumentos de prever o futuro, certamente teria sido melhor esperar.

NY atingiu 24,45 centavos de dólar por libra-peso na semana, sendo o maior valor negociado em 11 anos. Naquele 10 de abril de 2012, contudo, o valor em reais por tonelada corrigido para hoje chega a R$ 2,223, ou seja, 500 reais por tonelada abaixo do preço do fechamento desta sexta-feira. Por isso prefiro analisar sempre os preços em reais por tonelada.

Peço especial atenção a quatro momentos em que tivemos picos de preço nos últimos 20 anos. Fevereiro de 2006, janeiro de 2010, janeiro de 2011 e outubro de 2016. Qual foi a retração que esses picos tiveram, em alguns casos com déficits mundiais pior do que o que se diz que é o de hoje, 90 dias depois do pico? Anote aí: 22%, 52%, 34% e 18%, respectivamente.

Os fundos, segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição de terça-feira passada, estavam comprados 211,943 lotes, equivalentes a 10.8 milhões de toneladas de açúcar. A semana mostrou uma acomodação dos preços. A entrega de açúcar branco em Londres, na expiração do contrato, somou pouco mais de 240,000 toneladas. Entre os entregadores, uma trading que possui refinarias na Ásia e uma refinaria do Oriente. Isso pode dizer muita coisa.

Cuidado com os urubus disfarçados de pavões que aparecem em momentos como esse tirando do bolso poções mágicas que vão resolver seu problema e acabar com todas as dúvidas que você pode ter acerca da trajetória do mercado.

Nós já vimos no passado recente (2015) usinas fixarem preços para a safra seguinte quando NY colapsou em agosto daquele ano (10.13 centavos de dólar por libra-peso) e foram convencidas de que o mundo ia acabar, que o açúcar iria para 8 centavos e o melhor a fazer era fixar tudo. Foi o que elas fizeram seguindo o conselho dos encantadores de serpentes. Não estou falando de ouvir falar, eu vi a operação.

Também vi indústrias consumidoras de açúcar serem convencidas a fazerem operações com opções de venda para diminuir o custo de aquisição de seus insumos porque o mercado ia subir. O mercado caiu e empresa ficou empurrando o prejuízo por 2-3 balanços até finalmente, por obra do acaso e não dos urubus de plantão, tirar o pé da lama.

Esta semana soube – nesse caso sem comprovação – que determinada usina (ou usinas) teriam fixado açúcar em NY em outubro/dezembro passado, mas decidiram não fixar o dólar porque com a eleição de Lula a moeda brasileira – segundo a assunção deles – iria explodir e então as fixações em reais por tonelada iriam apreciar enormemente. Quem fixou preços no último trimestre do ano (NY e câmbio) teria na média, em valores de hoje, R$ 2,408. Quem apenas fixou NY e convertesse para o dólar de hoje teria R$ 2,098. Se essa história é verdadeira, tem que ser um case a ser apresentado nas cátedras da gestão de risco. Uma verdadeira estratégia kamikaze.

Você sabe para onde vai o mercado? Nem você, nem eu, nem ninguém. Gestão de risco não é adivinhar o futuro. Seu papel é mensurar e mitigar as exposições ao risco que a empresa (em especial as que negociam commodities) invariavelmente está exposta, objetivando preservar sua capacidade de gerar caixa e adicionar valor ao acionista. É por isso que temos que nos cercar do máximo de informações para a tomada de decisão. Fundamentos e estatísticas são bons auxiliares para a correta tomada de decisão.

Ainda ouço nas palestras e eventos que participamos coisas do tipo “hedgear é especulação”. Cada um é livre para acreditar no que quiser, desde que o dinheiro do acionista não esteja em jogo. “Mas se quem decide é o acionista?”. Bem, cada um é livre para fazer o que quer com seu dinheiro, inclusive quebrar a própria empresa. Fora do hedge, poderia dizer o profeta, não há salvação.

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