Cerca de um quarto das perguntas que eu recebo no WhatsApp todo dia começam assim:
Marília, vi esse fundo/ativo/título/ação, e ele(a) teve uma performance excelente nos últimos 6 meses… você acha que é uma boa ter esse ativo na carteira?
Quando vejo esse tipo de pergunta, logo penso em uma época engraçada em que eu e meu marido íamos direto de São Paulo para o Rio de carro.
É claro que ele que sempre queria dirigir, e na volta acompanhamos frequentemente a média de km/h para estimar quando chegaríamos em casa, valendo sempre uma apostinha.
Mas estimar o horário de chegada não era uma conta linear que extrapolasse a nossa média de velocidade para o caminho restante.
Sabíamos que conseguiríamos fazer uma excelente média do Rio até um ponto especial que chamávamos de "never ending city".
A cidade era São José dos Campos! Era um inferno passar por lá, pois a rodovia corta partes dos bairros e dá acesso para que os moradores se utilizem da estrada para transitar pela própria cidade. É o inferno da terra!
O trânsito é instantâneo, além dos carros da cidade andarem numa velocidade muito menor. E claro, para piorar tudo, a cidade é gigante e nunca acaba.
Enfim, sempre temos que reduzir bem nossa velocidade nesse ponto, perdendo muito em relação à nossa média.
E sempre temos que levar isso em consideração para estimarmos o tempo de chegada com precisão, sob o risco de errar feio – e ter que pagar o jantar!
Não extrapole o passado!
Isso tudo para mostrar que existem situações nas quais extrapolar o passado só irá te induzir ao erro.
Há coisas que mantém uma certa linearidade ao longo do tempo. Mas outras não guardam nenhuma correlação. O mercado financeiro é a maior delas!
Olhar a performance passada de um ativo não quer dizer absolutamente NADA a respeito da performance futura dele.
Por isso que os órgãos reguladores exigem que, sempre quando se fala de investimentos, coloque-se o famoso disclamer: "Retornos passados não são garantia de retornos futuros".
Eles querem catequizar os investidores para pensarem no que realmente importa: o cenário futuro!
A economia acontece em ciclo, ora estamos em recessão, ora em crescimento. Ora a bolsa é um bom ativo, ora se transforma no pior. Tudo depende dos acontecimentos econômicos ou políticos que vão ditando o humor do mercado.
Mas os pequenos investidores têm uma fixação tão grande pela performance passada. Eles, muitas vezes, acabam sendo os grandes perdedores do estouro de uma bolha.
Por exemplo: quem foram os maiores perdedores da crise da sub-prime de 2008? Os pequenos investidores! Esses compravam MBS (mortgage backed securities) quando todos os bancos e fundos já estavam vendendo a rodo!
Quem foram os grandes perdedores do Bitcoin a 20 mil dólares? As pessoas físicas que entraram pesado na crypto, pois todos os vizinhos e primos diziam que tinham ganhado muito com isso.
Quem foram os grandes perdedores da bolha das tulipas holandesas? Das compras de imóveis brasileiros em 2012 (principalmente no Rio)?
E assim vai…
Pergunte sempre quais as perspectivas futuras!
Quando você for perguntar se um ativo é bom ou não para se ter na carteira, esqueça a performance passada.
Pergunte: "as perspectivas de valorização desse ativo ainda são boas? Esse deve ser um bom ativo, com um bom "risco x retorno" daqui para frente?"
Essa sim deve ser a sua preocupação número 1, 2 e 3.
Futuro! Sempre no futuro!
Passado já passou. E não volta mais. As condições econômicas que tivemos até agora não vão voltar a se repetir.
Por exemplo: tivemos uma revisão brutal de crescimento econômico, não só no Brasil, mas no resto do mundo também. E isso aconteceu de forma simultânea!
Resultado: tivemos uma das mais rápidas quedas de juros curtos e longos do mercado dos anos recentes.
Isso vai voltar a acontecer?
Devemos extrapolar essa situação para o segundo semestre imaginando que as taxas seguirão caindo linearmente até chegarem no 3 por cento de Selic?
Não!
Isso pode de fato acontecer, mas seria altamente improvável!
A atividade externa teria que seguir emburacando, mesmo depois de todos os estímulos dados recentemente pelas grandes potências mundiais.
O crescimento brasileiro teria que seguir caindo, mesmo com o BC reduzindo mais 100 bps a Selic, e a reforma mais esperada dos últimos 2 anos teria que provocar um efeito totalmente nulo no PIB.
Pode acontecer? Pode!
É provável? Não!
Então você deveria se posicionar para isso?
Na minha visão, não!
Por outro lado, a bolsa brasileira demorou muito para subir, exatamente por essas revisões baixistas no crescimento, que atrapalharam as projeções de aumento de receitas.
Isso deve se repetir daqui pra frente? Muito provavelmente não.
O contrário é mais provável de acontecer.
A economia deve finalmente dar sinais de retomada, melhorando dados de vendas no varejo e produção industrial, levando novamente as projeções de lucro para cima, e os preços das ações também.
Resumindo, se posicione para os melhores cenários futuros! As teses passadas já aconteceram e quem ganhou com isso, já ganhou!
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