Volta, Tony Ramos
Esses tempos rolava que a Globo pretendia trazer o Você Decide de volta. Aparentemente desistiram, mas insisto em trabalhar com uma realidade paralela na qual seria assim o episódio desta semana:
Chefe: Boa tarde, senhores. O que temos pra hoje?
Técnico 1: Tenho a satisfação de reportar que a inflação tem se mostrado bem-comportada e as expectativas futuras estão ancoradas. Para este ano, mediana está em 4,81 e, arredondando a projeção do Top Five, chegamos aos quatro-e-meio.
Chefe: Vencemos a queda de braço! Sempre dissemos que levaríamos a inflação para o centro da meta já em 2017, e dobramos o mercado!
Técnico 2: Parabéns, chefe! — Técnico 1 olha para Técnico 2 com menoscabo e murmura: “puxa-saco”.
Técnico 3: Todos os nossos modelos dão conta de que há espaço para ampliarmos o ritmo do afrouxamento monetário… (respira) … talvez até mesmo para algo da ordem de 75 pontos-base.
Chefe: até pode ser, mas o que o mercado vai pensar? Se formos de 25 para 75, passarão a contar com mais 75 à frente. Nunca aconteceu esse negócio de ir de 25 para 75 e depois voltar para 50. É melhor sermos consistentes!
Técnico 1: Mas a economia está em frangalhos, presidente. E o ministro Morales realmente apreciaria se colaborássemos de maneira mais pungente com a retomada da atividade — o que dirá o Presidente Thomas…
Chefe: Mas é fundamental que não deixemos margem à interpretação de que nossas decisões não são autônomas! Au-tô-no-mas! E que nossas sinalizações de política monetária sejam consistentes ao longo do tempo! Con-sis-ten-tes! Em qualquer cenário, haverá quem falará mal: se for 50, somos covardes; se for 75, não somos independentes…
Dois estagiários cochicham: e tem outra… o ex-chefe dele acabou de abrir que está apostando em 75. Se eles apertarem o passo, vai começar o bochicho de que rola um insider aqui.
Chefe: O que vocês estão cochichando aí?
A cena é congelada e o Tony Ramos entra pela porta, com semblante grave. Que dilema, minha gente. 50 ou 75?
Vocês decidem.
Como será o amanhã?
Na espera pelo desfecho de história semelhante que se desenrola no mundo real, bolsa brasileira opera em alta na sessão de hoje. Há de se descontar o efeito das commodities — sobre as quais falo logo em seguida —, mas ainda assim humor é predominantemente positivo.
O mercado de juros está praticamente parado. Por que será?
Lá fora, bolsa americana opera estável: dólar perde força, antecedendo a coletiva de imprensa de Trump amanhã, na qual se esperam sinais palpáveis de como será o amanhã na economia da terra dos livres após a passagem do bastão. Responda quem puder.
Na Europa, nada de mais.
Corrida para o cassino
Se, por um lado, inflação ao consumidor chinesa veio em linha com as expectativas, preços ao produtor surpreenderam com alta de 5,5 por cento. Foi a maior marca em cinco anos, e por pouco não esqueço que via-se deflação por lá até pouquíssimos meses atrás.
Dentre os efeitos, vale pontuar o impacto da desvalorização do renminbi nos preços de insumos importados, a alta das commodities e — quiçá único realmente positivo — efeitos benignos de fechamentos de capacidades em excesso que seguiam em operação até poucos meses atrás.
Foi o suficiente para renovar votos de otimismo com commodities metálicas: na bolsa-cassino de Dalian, minério de ferro bateu no limite diário de alta e fechou com valorização de 5,5 por cento. Movimento foi também positivo, porém mais comportado, nos futuros de minério da bolsa de Singapura — ambiente mais restrito a mineradoras, tradings e bancos. Mas também subiu lá, 3,5 por cento.
Pelo sim, pelo não, ações de mineradoras — aqui e lá fora — agradecem. E que venha o ano do galo de fogo, no próximo dia 28.
Ai, bota aqui o seu Pezão
Meirelles e Pezão, que se encontraram ontem no Rio, colocam pés juntinhos novamente hoje, agora no Planalto Central. O tema não poderia ser outro senão o socorro aos cofres fluminenses.
Frustrada a tentativa de obter um acordo mais favorável através do Congresso, cujo texto final foi parcialmente vetado peloPresidento, restou ao Sasquatch sentar à mesa de negociação com o ministro linha-dura.
Deve sair logo o anúncio dos termos do acordo, que passará por homologação do STF: sabe como é, melhor chancelar tudo só para o caso de ninguém esquecer do combinado. No fim das contas, termos devem acabar semelhantes ao que era a intenção original do governo — antes da Câmara promover aquela patacoada toda com o projeto de lei: Tesouro abraça penduras do Rio que, em contrapartida, deixará de receber recursos da União e estará irrevogavelmente comprometido a adotar medidas para arrumar a casa: o funcionalismo vai adorar.
Assina isso logo, pelo amor. E depois não vá dizer que você já se esqueceu.
Bréque Fráidei
Surpreenderam as vendas do varejo de novembro: feitos os devidos ajustes, cresceram 2 por cento na comparação mensal (esperava-se 0,3), interrompendo sequência de quatro quedas. É a maior expansão desde julho de 2013 e o novembro mais pujante desde 2007.
Vendo assim, até parece que já chegamos ao Novo Brasil. Calma, gente.
Ao que tudo indica, a pindaíba que predomina no país promoveu o milagre de fazer com que o homo brasiliensis fosse às compras mais cedo, em busca de oportunidades melhores. Imagina se a Black Friday tupiniquim fosse pra valer…
Em outras palavras, não deveremos nos surpreender caso o dado de dezembro venha abaixo do esperado. Seguimos rumo à outra margem, mas não a confundamos com um banco de areia na metade do caminho.