O mercado de açúcar encerrou a sexta-feira com o vencimento março/2018 cravando 14.00 centavos de dólar por libra-peso confirmando aquele sentimento que todos têm: estamos vivendo um dos períodos mais aborrecidos dos últimos tempos em termos de comercialização de açúcar.
O mercado está encalacrado num restrito intervalo de preços há meses a espera de alguma mudança de magnitude nos fundamentos do açúcar/etanol. Estamos praticamente, desde junho, entre 12.50 e 15.00 centavos de dólar por libra-peso. A posição em aberto despenca juntamente com o volume de negócios diários. Observar um bloco de gelo derreter ou assistir a uma partida de dominó pela TV certamente são atividades mais excitantes do que olhar a tela com as cotações do açúcar.
O volume de negócios no futuro é medíocre: até o final de setembro, o volume médio diário de contratos futuros de açúcar negociados na bolsa de NY era de 133.000 lotes. Neste mês de outubro, a média até o momento é de 67.000 lotes diários, ou uma queda de quase 50%. A posição em aberto (total de contratos não liquidados) na média do ano foi de 792.000 contratos. Hoje estamos em 700.000. Estarão os fundos cansados desse jogo de joão-bobo?
Por outro lado, como comentou um trader, causa estranheza a quantidade de relatórios que surgem de todos os lados apontando para o excesso de açúcar na Via Láctea e o iminente colapso total dos preços no mercado internacional. Agora falam até em 10 centavos de dólar por libra-peso e um teto de 16 centavos para os próximos anos. Da mesma forma que vimos no passado vários dos cavaleiros do Apocalipse apontando para a derrocada total dos preços de um lado ou o fim da comida barata e a explosão das commodities e setor energético, por outro, temos que manter o bom senso.
Os fundamentos do mercado no médio e longo prazo são construtivos. E não é apenas por causa do açúcar que assiste à estagnação da produção de ATR por parte do Brasil, da falta de investimento, renovação e expansão do parque industrial; mas, também pela demanda de etanol que se avizinha e a grande chance de uma recuperação econômica que não está influenciando os preços ainda.
O que é digno de nota é a mudança rápida na percepção por parte das usinas acerca da produção de cana para o próximo ano. Muitas não acreditam que o Centro-Sul será capaz de repetir a quantidade de cana produzida nesta safra para a 2018/2019. A mudança acelerada do mix para mais etanol é outra das certezas que nos cercam para o próximo ano. Ainda não estão devidamente refletidas nos preços a recuperação nas vendas de veículos novos.
Como bem observou o economista José Roberto Mendonça de Barros, em recente artigo no jornal O Estado de São Paulo, “a robusta recuperação do setor automotivo caminha para crescer mais de 10%”. Essa recuperação não está ainda traduzida nos relatórios de oferta e demanda que circulam no mercado. Um crescimento dessa magnitude enxuga mais de um bilhão de litros de etanol em doze meses. Além disso, cada ponto percentual de acréscimo na frota de carrosflex optando pelo uso do etanol enxuga 280 milhões de litros. Como se vê, é uma mudança aqui, outra ali que somadas podem acelerar a recuperação do mercado.
Vale a pena lembrar a apresentação do diretor do Grupo São Martinho (SA:SMTO3), Helder Gosling, por ocasião do Ethanol Summit há alguns meses, em São Paulo. Nela, o executivo discorreu sobre o déficit estrutural de combustível no Brasil. O déficit acumulado a partir de 2025 até 2030, mostra um “buraco” na oferta de cerca de 25 bilhões de litros. Some-se a isso a capacidade máxima de refino estagnada e falta de investimento e acrescente um governo liberal a partir de 2019 e uma economia crescendo acima de 2-3%. Quem acredita num teto de 16 centavos de dólar por libra-peso levanta a mão….
Diferentemente do que imaginávamos, a reação do mercado parece mesmo que não virá em outubro. O preço médio do fechamento diário do mercado futuro de açúcar em NY está em 14.17 centavos de dólar por libra-peso, 120 pontos abaixo, ou 7.8 % inferior ao previsto pelo nosso modelo de preços. Sem entrar na obviedade de que os modelos são falhos, o fato é que o pesado volume de fixações em aberto das usinas que passaram de outubro para março foi preponderante para inibir uma reação dos preços do açúcar. A questão é se ela virá em novembro.