A leitura do que foi ano de 2016 pode ser feita de várias maneiras. Olhando pelo enfoque das atuações do Judiciário, acompanhando as idas e vindas no “circo político” e analisando os avanços e retrocessos na economia.
Na atuação da Justiça, nos vários casos de corrupção, foram consideráveis os avanços, praticamente uma virada de página na história do País. Empresários de empreiteiras acabaram atrás das grades, assim como políticos envolvidos. Alguns dos principais personagens do mundo político foram cassados ou presos. A Operação Lava-Jato acabou como o grande evento do ano, nas suas incursões (com nomes sugestivos) causando um rebuliço nas altas rodas do Congresso e no meio empresarial. E o pior é que não acabou. Muitas revelações ainda devem acontecer em 2017. Ou seja, não é absurdo afirmar que este ano que se inicia não deve diferir muito do que já está por terminar.
Na política, os fatos também foram se sucedendo num “atropelo vertiginoso”. A frágil governabilidade da presidente Dilma, suas desastradas decisões na área econômica e, muitas vezes, uma “certa indulgência” diante do assalto que se praticava na Petrobras (SA:PETR4) cobraram o seu preço. Ao fim, a primeira mulher (re) eleita no País acabou afastada do poder num tumultuado, mas providencial, processo de impeachment, iniciado em maio e finalizado em agosto. As votações, na Câmara e no Senado, no entanto, acachapantes, não deixaram dúvidas sobre suas responsabilidades. Não tanto pelas pedaladas de 2015, mas muito pelo “conjunto da obra”, pelo estrago deixado. Assumiu então o vice-presidente Michel Temer, conseguindo manter, nestes sete meses, mesmo com a Delação Premiada da Odebrecht e o TSE no “encalço”, um ritmo impressionante de avanços na área econômica e no resgate da chamada “agenda estrutural”.
Enfim, embora tenhamos vivido um ano desgastante nas áreas política e judicial, na econômica foi um ano de profundas mudanças, embora os resultados tenham custado a aparecer. Sem dúvida. Várias agendas foram colocadas em pauta no Congresso, principalmente duas que buscam como resultado um “regime fiscal mais sustentável no longo prazo”. Foi aprovada no Congresso a PEC do Teto, essencial para este intuito, e encaminhada, em Comissão da Câmara, a PEC da Reforma da Previdência.
Em paralelo, várias medidas passaram pelo Congresso, a começar pela meta fiscal para este ano e o próximo, a lei das Estatais, das Empresas Aéreas, das Concessões e Privatizações, da Repatriação, 34 projetos de infraestrutura, renegociação das dívidas estaduais, o início da Reforma Trabalhista, medidas microeconômicas visando melhorar o ambiente de negócios do País, providenciais mudanças no marco do pré-sal, redimensionamento do Estado, etc.
Não deixemos de destacar também a competente gestão do BACEN neste período, bem cauteloso, procurando sempre dar um norte sobre os rumos da política monetária e bem vigilante no controle da inflação. Esta, ao fim deste ano já beirava 6,5%, no teto do sistema de meta de inflação, não deixando de destacar que deve convergir mais para o centro da meta em 2017 (4,5%).
Isso deve permitir uma desaceleração mais forte da taxa Selic ao longo de 2017, desde que, é claro, o ajuste fiscal avance e o cenário externo não piore. A taxa Selic de 14,25% no início de 2016 recuou a 13,75% agora em dezembro e deve desacelerar a 11,5% em 2017 ou talvez mais.
Sobre o cenário externo o ano também foi bem intenso.
A eleição norte-americana de Donald Trump foi a grande novidade, assim como a saída do Reino Unido da União Europeia. Nos EUA, um outsider, empresário do ramo imobiliário, olhado com desconfiança até pelos republicanos, foi crescendo, num discurso voltado para as chamadas “vítimas da crise de 2008” e, por que não dizer, do processo de globalização. Na verdade, o eleitorado de Trump veio da classe média baixa, dos desempregados do “Cinturão de Ferrugem”, afetados pelo desemprego nas empresas que resolverem construir suas plantas nos países da Ásia, onde o custo de mão de obra é menor.
Agora, as expectativas se voltam para como será o seu mandato, a começar em janeiro de 2017. Movimentos iniciais indicam na área econômica, um governo mais protecionista, ativo na política fiscal, o que deve colocar pressão sobre a atuação do Fed. Na política externa, devem recrudescer as tensões na política de emigração, na crise dos refugiados da Europa e novos atentados terroristas ocorrer.
Neste cenário externo, movimentos nacionalistas se espalharam pela Europa, muitos pregando o fechamento das fronteiras, o que acabou resultando no Brexit do Reino Unido.
Enfim, iniciamos 2017 cercados de incertezas.
No gráfico ao fim, com a relação entre dólar e bolsa de valores, em mais um olhar é possível visualizar como foi 2016.
Iniciamos este ano com o dólar a R$ 4,00 e terminamos próximo a R$ 3,30, num claro indício de melhoria do humor dos investidores e maior influxo de recursos externos. Sobre a bolsa de valores, em sintonia com as Sondagens de Confiança da FGV, alguma desvalorização neste final de ano se observa, talvez pela desconfiança sobre os rumos do governo Temer, ainda mais com as delações premiadas da Odebrecht e a proximidade de uma conclusão do TSE sobre a origem no uso de recursos da chapa Dilma/Temer.
A bolsa paulista até ingressou num rally de valorização de 38 mil pontos em 22/janeiro para quase 65 mil pontos ao fim de outubro (64,9 mil), mas a partir daí, num sintoma de “fim de lua de mel” do mercado com o governo, ingressou numa zona de congestão, difícil de ser rompida no curto prazo. No acumulado ao ano, a taxa de câmbio se desvaloriza em torno de 21% e a bolsa de valores valoriza próxima a 37%.
Enfim, sobre 2016 podemos dizer que os obstáculos, deixados pelo governo Dilma e o seu antecessor, seguem sendo desobstruídos, mas muita coisa ainda precisa ser feita para que terminemos a pavimentação de um novo caminho para o crescimento. Talvez até 2018, quando uma nova eleição acontecerá (pelo menos, esta é a nossa expectativa).
Mantemos nossa hipótese de que Michel Temer deve terminar o seu mandato em 2018, abrindo caminho para uma melhor governabilidade no próximo mandato. Sem isto, achamos difícil encontrar alguma governabilidade.
Achamos, inclusive, que são notáveis sim os avanços do presidente Temer na área econômica. Como bem disse o economista Francisco Lopes, egresso da PUC, “este governo, às vezes dito como uma “pinguela”, em apenas sete meses, não apenas equacionou a questão fiscal, como conseguiu ancorar as expectativas de inflação no centro da meta”.
Para ele, “o curto prazo está desagradável, mas isto tem mais a ver com os erros cometidos no passado do que com as boas perspectivas do futuro.”
Que assim seja e que a sociedade tenha percepção para reconhecer isso...
Bom Natal a todos !!
TRAJETÓRIAS DA TAXA DE CÂMBIO E DO IBOVESPA EM 2016