Há cerca de 1 ano, depois do Congelamento de Preços praticado pela Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, no início do ano passado, estava eu batendo papo com um amigo na mesa de um bar sobre a infeliz coincidência que permeia as trajetórias do Brasil e Argentina.
Essa conversa me veio à mente depois da semana caótica pela qual viveu a Argentina
Comecemos pelo Futebol.
Enquanto em meados dos anos 70 um craque brasileiro aparecia para o mundo, Zico, em terras argentinas o cenário não era diferente; aparecia Maradona.
Zico, pelo Brasil, e Maradona pela Argentina, reinariam absoluto ao longo dos anos seguintes, estabelecendo um novo paradigma para o futebol, depois de Pelé.
Agora, voltemos um pouco no tempo, mais precisamente ao universo político.
Em 1946, a Argentina, depois de ser considerada uma das nações mais ricas do mundo do ínicio do século 20, passa a viver os tempos de Juan Perón. Um político clássico com forte viés nacionalista e populista.
O Brasil já vivenciara esse universo cerca de 15 anos antes, com Getúlio Vargas.
Perón fica na Argentina até 1956, marcando de tal forma a política argentina, a ponto de se estabelecer um "novo tipo de política", o "Peronismo".
No Brasil, o paralelismo continua, ao trazermos de volta Getúlio Vargas ao poder, de 1951 a 1954, no mesmo período em que Perón, na Argentina, chegava ao ápice.
O "Getulismo" no Brasil, e o "Peronismo" na Argentina, passam a ser espelhos do mesmo tipo de fazer política e de se fazer entender; Perón e Getúlio são os ""pais dos pobres" e nunca os "abandonarão".
Argentina e Brasil passam a namorar com um tipo de política própria das nações "terceiro-mundistas", carregadas de "salvadores da pátria".
Os militares assumem na Argentina em 1958, um pouco antes dos militares brasileiros assumirem o governo brasileiro, em 1964, depois da queda do Presidente João Goulart.
A situação ainda permaneceria confusa e híbrida para a Argentina até 1983, quando, finalmente, os militares deixam o poder, para que Raul Alfonsin assuma.
A despeito da abertura política executada pelo militar brasileiro João Figueiredo em 1984, o Brasil só abriga um Presidente Civil em 1990, quando Fernando Collor de Mello vence Lula na primeira eleição direta para Presidente depois de quase 30 anos.
Posto o paralelismo político, caminhemos para o paralelismo econômico.
O Plano Austral em 1985, na Argentina, e o Plano Cruzado no Brasil imposto em 1986, congelaram preços.
Ambos tentavam conter uma inflação em patamar "hiperinflacionário"; Argentina e Brasil já conviviam com taxas mensais de inflação superiores a 20%.
A única diferença real resumia-se a um plano político, isto é, a Argentina já surfava um ambiente sem os militares, com Raul Alfonsin no governo; o Brasil mantinha um governo confuso, eleito por eleição indireta, com o "outrora vice" José Sarney na Presidência, um candidato apoiado pelos militares, já que o vitorioso Tancredo Neves havia morrido prematuramente antes de assumir.
Ambos não deram certo.
A inflação não demorou a voltar para ambos os países.
Domingos Cavalo, Ministro da Economia no Governo do Presidente Carlos Menem na Argentina, consegue êxito no controle da inflação ao pendurar o peso no dólar em 1989-1990.
4 anos mais tarde, no Brasil, um engenhoso Plano Real, muito mais sofisticado e ousado, que impõe, em sua essência, a simultaneidade de 2 moedas no Brasil, uma virtual, e outra real (URV e Real), acabaria com a hiperinflação brasileira.
Nesse momento, tudo parecia caminhar para um período de "normalidade".
No Brasil, novos ares com Fernando Henrique Cardoso a partir de 1994 colocam o país falando de reformas estruturais, privatizações, austeridade fiscal, com a Lei da Responsabilidade Fiscal, e de seriedade no enfrentamento da inflação.
Ledo Engano.......
Apenas uma alegria que durou pouco, ou quase nada.
A despeito de novas instabilidades econômicas no mundo em 1997 e 1998, com as Crises da Ásia e o default da Rússia, ambos os países, Argentina e Brasil, dão "meia-volta" e mergulham em novos populismos.
A Argentina, com o governo Néstor Kirchner a partir de 2003, passando por sua esposa, a Presidente Cristina Kirchner, no governo desde 2007.
E o Brasil, com o governo petista a partir de 2003; primeiro com o Presidente Lula, depois, a partir de 2010, com a Presidente Dilma.
Interferências econômicas, descaso com o rigor fiscal, negligência com o controle inflacionário e Política externa de aproximação com países escandalosamente dúbios em relação às liberdades econômica e individuais, são alguns dos pontos em comum que invadem as conduções dos governos argentino e brasileiro, principalmente se olharmos os últimos 4-5 anos.
A queda forte do peso argentino na última semana, após a liberação do câmbio pelo governo argentino, é apenas reflexo parcial dos erros cometidos por um governo na condução da política econômica.
Afinal, como termos oportunidade de ver nos gráficos abaixo, o dólar já vinha se valorizando nos últimos meses frente ao peso argentino. As consequências podem ser vistas em outras dimensões.
Também nem estou falando em Bolsa de Valores; no caso da Argentina, por se tratar de uma "Bolsa pequena", restrita a poucas empresas, ela vem se valorizando fortemente nos últimos anos, mesmo depois da Crise Americana de 2008
Estou falando no impacto no bolso do povo, no impacto da inflação e na desarrumação econômica.
Não custa lembrar, que, infelizmente, dadas as coincidências econômicas, políticas e sociais que marcaram Brasil e Argentina ao longo dos últimos 80 anos, e expostas acima, dificilmente, nós, os brasileiros, escaparemos do mesmo conturbado momento econômico vivido atualmente pela Argentina.
A tendência é caminharmos na mesma direção...........
Zico, Maradona, Plano Cruzado, Perón, Vargas, "Kirchners" e PT estão aí pra não nos iludirmos.
Querem mais uma ?
Messi e Neymar.....
Paridade "Dólar x Peso argentino" - 15 anos
fonte: tradingeconomics.com
Paridade "dólar-real", 15 anos
Fonte: tradingeconomics.com
Índice Merval (índice Bolsa de Valores Argentina), 15 anos
Fonte: tradingeconomics.com