O cenário macro continuou a se deteriorar com o fluxo de notícias vindas da China e as commodities mantiveram o banho de sangue que temos visto esse ano. O acumulado das perdas anuais aponta para o café e o açúcar como as commodities que mais derreteram, 29.2% e 28.9% respectivamente. Logo em seguida, petróleo WTI e Brent também caíram em média 28%. E os sustos não parecem ter fim.
Patricia Hemsworth, especialista do mercado de energia, baseada em NY, acredita que o mercado de petróleo continuará a cair uma vez que não existe mudança na política da OPEP apesar do decréscimo da produção de petróleo por parte dos sauditas em julho passado. Ela acredita que o mercado teste a mínima de 32.08 dólares por barril ocorrida em 2008.
O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana cotado a 10.44 centavos de dólar por libra-peso no vencimento outubro/2015 representando uma queda de mais de 5 dólares por tonelada em relação à semana anterior. Todos os meses de negociação inauguraram novas mínimas.
O spread outubro/2015 - março/2016, que encerrou a semana a 116 pontos, ou o equivalente ao um carregamento de 28.76% ao ano, em dólares, tem encorajado algumas empresas capitalizadas a formar estoque para desová-lo mais adiante, dano para o mercado a tarefa de carregá-lo. Não estão computados no cálculo um eventual estreitamento do basis, o que deixaria a operação ainda mais rentável. Não se sabe qual volume foi feito com essa finalidade, mas é dever das empresas olhar com cuidado essas oportunidades que surgem.
Como não existem notícias alvissareiras que possam elevar o ânimo dos operadores, um corriqueiro número de moagem quinzenal acaba sendo esperado como a coisa mais importante que pode acontecer no mercado apenas para “legitimar” que mais vendas a descoberto sejam feitas por parte dos fundos, que agora estão vendidos nada menos que 86.000 lotes. Nada errado em relação a isso.
Os fundamentos do açúcar, fôssemos analisá-los de maneira isenta, pouco mudaram nos últimos dois meses. O que mudou – e muito - foi o cenário político brasileiro que reflete o cadáver insepulto em que se tornou o governo petista de Dilma Rousseff.
A correlação do açúcar em NY com a moeda brasileira, na média dos últimos 20 pregões, apresenta uma aderência de -0,8500, ou seja, 85% da variação absoluta de NY é explicada pela variação do dólar em relação ao real na ordem inversa, ou seja, para cada 1% que o dólar sobe, o açúcar em NY cai 0.85%. O Brasil dá as cartas e forma o preço do açúcar em NY como uma equação que reflete o tenebroso desempenho da economia e das pedaladas fiscais de Dilma. No final do ano passado, o real tinha um impacto de apenas 15% na cotação de NY na média móvel de 20 dias apurada no início de dezembro, ou seja, o resto da queda era fundamento. Hoje, grande parte da queda é explicada pelo real, o resto é o fundamento da commodity açúcar. Não há dúvida que o cenário macro piorou e afetou as moedas, entre elas o real, mas na formação de preço do açúcar nesse ano tem muito do componente político brasileiro.
A longa crise pela qual o setor sucroalcooleiro atravessa e que encontra seu pico nos dias atuais é de longe bem pior do que aquela que assistimos em 1999. Em abril daquele ano, os preços internacionais despencaram devido à produção de açúcar do Brasil na safra 98/99 e principalmente pela desvalorização do real ocorrida no início do ano que acabou custando a cabeça do então ministro da fazenda. Diferentemente da crise atual, em 1999 o custo de produção do açúcar estava em torno de 6.00 centavos de dólar por libra-peso, mas o endividamento das usinas, no entanto, não ia além dos 25% da receita anual e se por um lado era lastreada sobretudo em reais, por outro não eram dívidas de perfil alongado o que causava estresses nos malabarismos necessários às constantes rolagens.
Com o excesso de liquidez mundial observado em meados da primeira década deste século assistimos à alocação de recursos estrangeiros maciços para investimento em energia renovável validado pelo crescente temor de que o petróleo – dizia-se - iria permanentemente, em função do apetite voraz da China que crescia a dois dígitos anuais, negociar acima dos 100 dólares por barril.
Agora a situação é completamente oposta: a economia chinesa se debilita (e se eles tiverem uma febre de 37.5º, o mundo terá uma hiperpirexia), o petróleo acena para 30 dólares por barril sem melhora no panorama adiante, o Brasil está a um passo de perder o grau de investimento laureando um governo que prima pela mediocridade e paralisia, enquanto o setor sucroalcooleiro possui um endividamento (impagável, segundo alguns) que deve estar em torno de R$ 90 bilhões e não existe nenhum projeto que indique que seremos capazes de atender a demanda nos próximos cinco anos.
Boa semana,
Arnaldo Luiz Corrêa