Deu a lógica
Em decisão unânime, os oito membros do Copom optaram pela manutenção dos juros brasileiros em 14,25% ao ano.
Como vinha sendo amplamente esperado, o anúncio dispensa ajustes no DI - que nada mais é do que a taxa de juros usada nas operações entre os bancos. As apostas nos juros futuros se concentram agora nas chances de um corte da Selic nas próximas reuniões do Copom.
Vejamos então o que disse o comunicado do Banco Central:
"O Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés.
O Comitê reconhece os avanços na política de combate à inflação, em especial a contenção dos efeitos de segunda ordem dos ajustes de preços relativos. No entanto, considera que o nível elevado da inflação em doze meses e as expectativas de inflação distantes dos objetivos do regime de metas não oferecem espaço para flexibilização da política monetária.”
Pela nota, fica difícil cravar quando os juros começam a cair. Será na reunião 19 e 20 de julho? Na de 30 e 31 de agosto? Ou só no encontro marcado para 18 e 19 de outubro?
Já vai tarde
Qualquer prognóstico agora seria mera adivinhação, de modo que prefiro focar no que temos de concreto até o momento: uma inflação ainda beirando os dois dígitos, expectativa de um dólar mais fraco no curto prazo e importantes medidas econômicas que, se aprovadas, podem reduzir nosso déficit fiscal.
As próximas semanas serão importantes para fornecer novas referências sobre esse balaio de gato, com Relatório Trimestral de Inflação marcado para o fim do mês e o início dos trabalhos do novo presidente do BC, Ilan Goldfajn, que toma posse hoje no lugar de Alexandre Tombini.
O mesmo Tombini que, há poucos dias, disse que a inflação jamais saiu do controle no Brasil nos últimos anos e entrega o cargo com um IPCA acumulado de 46,28% entre 2011 e maio deste ano.
Felizmente, ele está de saída - vai ocupar uma diretoria no Fundo Monetário Internacional (meritocracia?).
Antes tarde do que nunca.
A importância de um bom relacionamento
No que diz respeito às novas medidas econômicas, Michel Temer conseguiu ontem à noite uma importante vitória na Câmara com a aprovação do projeto que amplia de 20% para 30% e prorroga a chamada DRU (Desvinculação das Receitas da União) até 2023, essencial para flexibilizar os gastos do governo.
Pelo placar amplamente favorável da votação (340 votos a 90), tudo indica que o texto passará com folga no Senado - pelo bem das contas públicas e privadas.
Julgo extremamente importante esse bom relacionamento do presidente interino com o Congresso, considerando que o fluxo internacional de dinheiro - que é quem pode, eventualmente, guiar os ativos brasileiros a um novo patamar de preços - será atraído (ou não) pelas medidas a serem aprovadas.
A preocupação maior do estrangeiro não é com nosso valuation (ou seja, se os ativos locais, em especial a Bolsa, estão caros ou baratos momentaneamente). A grande questão está em como serão os passos do novo governo, em particular como a retórica em prol de práticas pró-mercado poderá ser traduzida em elementos concretos.
Estamos baratos
Lá fora, mais especificamente nos EUA, S&P 500 aponta para a renovação da máxima histórica e, conforme o gráfico abaixo, vê seu gap disparar em relação ao Ibovespa nos últimos pregões.
Levanto dois questionamentos a partir da imagem: o de que o valuation do S&P (linha verde) pode estar um pouco esticado diante das condições da economia e o de que, se por um lado Ibovespa está se recuperando em 2016, pelo outro ainda não alcançou o pico dos últimos doze meses.
Em outras palavras, estamos baratos aos olhos dos gringos, o que pode permitir uma valorização consistente para nossa Bolsa (linha branca) a partir de um eventual aumento do fluxo de recursos estrangeiros ao país - lembre-se que foi isso que permitiu uma valorização destacada dos ativos domésticos entre fevereiro e abril.
Falando em valorização destacada, estamos com as últimas vagas abertas para a assinatura da série Estratégias com Opções . Abrimos apenas 100 vagas e elas têm sido preenchidas rapidamente. Recomendo aos interessados ao menos ler o material.
Para cima ou para baixo?
Para finalizar, não poderia deixar de falar do dólar, que em apenas 7 pregões em junho cai quase 7% e já reverte toda a alta (de 5%) acumulada em maio. Os R$ 3,37 que me aparece na agora na tela é a menor cotação desde julho do ano passado.
Cai mais? Volta a subir?
Caso o BC não imponha limites - ou seja, não realizando leilões para conter a volatilidade -, não descarto que a moeda busque rapidamente os R$ 3,30 ou até mesmo R$ 3,20.
Em contrapartida, um maior dinamismo da economia dos EUA combinado com preocupações sobre um eventual agravamento da desaceleração na China sugere um dólar forte perante as principais moedas, estruturalmente.
Em resumo, reconheço a possibilidade de que o dólar venha, no curto prazo, a continuar se depreciando contra o real. O fluxo vem mudando para países emergentes e o Brasil é um beta enorme. Para falar, porém, sobre nível apreciado de longo prazo, ainda precisamos esperar.