Por Sybille de La Hamaide
PARIS (Reuters) - Agricultores europeus iniciaram na quarta-feira protestos contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, afirmando que o aumento das importações sul-americanas prejudicará a agricultura do bloco, e o maior sindicato agrícola francês convocou ações em todo o país a partir de segunda-feira.
Cerca de 100 agricultores se reuniram perto da sede da UE em Bruxelas nesta quarta, com um trator carregando uma faixa com os dizeres "PARE UE-Mercosul" e afirmando que o acordo seria ruim para os agricultores, o meio ambiente e os direitos sociais.
Na França -- o maior produtor agrícola da Europa -- os agricultores despejaram esterco na cidade de Chaumont, no leste do país.
O Brasil tem pressionado para que o acordo UE-Mercosul seja assinado até o final do mês, enquanto ocupa a presidência do G20, enquanto a França está tentando convencer outros membros da UE a formar um bloco minoritário contra o acordo.
"Esse acordo comercial, que liga parte dos Estados sul-americanos à Europa, corre o risco de ter consequências dramáticas para a agricultura", disse o presidente da FNSEA, Arnaud Rousseau, à rádio France Inter.
"Portanto, estaremos em todas as regiões a partir de segunda-feira, por alguns dias, para fazer com que a voz da França seja ouvida no momento do G20 no Brasil", acrescentou, referindo-se à reunião do G20 no Rio de Janeiro, de 18 a 19 de novembro.
As colheitas prejudicadas pelo clima e os surtos de doenças nos rebanhos, juntamente com o impasse político após uma eleição antecipada no início do verão, aumentaram as queixas dos agricultores franceses.
Rousseau disse que os agricultores franceses não pretendem bloquear estradas e rodovias, como fizeram no ano passado, quando a raiva contra a concorrência de importações mais baratas, inclusive da Ucrânia, aliada da UE, e uma pressão regulatória levaram a grandes protestos em toda a UE.
"Não estamos aqui para incomodar o povo francês", disse.
Os agricultores afirmam que o acordo com o bloco que inclui Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai criará uma concorrência desleal para os agricultores e fabricantes de alimentos da UE, pois permitirá grandes importações de produtos que não estão sujeitos à mesma regulamentação rigorosa que enfrentam na UE.
"Da forma como está, esse acordo põe em risco o comércio justo e o futuro de milhões de produtores franceses e da cadeia agroalimentar que depende deles", disse Jean-François Guihard, diretor da Associação de Pecuária e Carne Interbev, nesta quarta-feira.
O acordo UE-Mercosul permitiria a entrada de mais 99.000 toneladas de carne bovina, 190.000 toneladas de açúcar, 180.000 toneladas de carne de aves e 1 milhão de toneladas de milho, segundo os produtores.
(Reportagem de Sybille de La Hamaide; reportagem adicional de Phil Blenkinsop, em Bruxelas, e Sudip Kar-Gupta, em Paris)