SÃO PAULO (Reuters) - Os preços da gasolina e do diesel nas refinarias da Petrobras (BVMF:PETR4) estão com prêmio na comparação com os valores externos, de acordo com dados de especialistas.
Isso em tese permitiria uma redução, neste momento, das cotações para as distribuidoras, considerando uma política de se perseguir a paridade em relação ao mercado internacional.
A situação de mercado acontece em momento em que se discute em Brasília a reoneração ou não dos impostos federais (PIS/Cofins) sobre combustíveis, o que poderia impactar a inflação caso o tributo volte.
Uma redução de preços pela Petrobras potencialmente aliviaria o efeito para os consumidores da eventual volta dos impostos, dependendo do tamanho do ajuste.
Segundo o analista de petróleo e derivados da StoneX, Pedro Shinzato, haveria espaço para a Petrobras reduzir em 0,17 real por litro o diesel e em 0,22 real/litro a gasolina.
"Essa simulação fizemos bem cedinho", disse ele.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse acreditar que a decisão do governo sobre o fim ou a renovação da desoneração dos combustíveis sairá ainda nesta segunda-feira após uma segunda reunião sobre o tema. O governo havia prorrogado anteriormente a desoneração até o final de fevereiro.
Mais cedo, estiveram também reunidos no Palácio do Planalto para discutir o assunto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
A Fazenda espera o retorno do tributo, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto, na semana passada.
A incerteza sobre o assunto deixa o setor de combustíveis em situação complicada, segundo Shinzato.
"O setor precisa tomar diversas decisões estratégicas diariamente e essa incerteza mina o horizonte de previsibilidade --fica muito difícil traçar e executar um planejamento estratégico", comentou o analista.
Ele lembrou que o segmento de distribuição de combustíveis historicamente trabalha com margens apertadas, e que uma "única decisão comercial errada pode minar o lucro de diversos meses, quiçá do ano".
O setor de etanol também acompanha o caso com atenção, uma vez que o biocombustível contava com um imposto mais baixo antes da isenção tributária. A decisão do governo poderá impactar o total de cana destinada para a fabricação do combustível neste ano, com repercussões também no mercado global de açúcar, uma vez que o Brasil é o maior exportador do adoçante.
"A desoneração vai impactar o bolso do consumidor... a classe média vai chiar, vai ter impacto na inflação de 0,8%", comentou o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo.
"Se mantém a desoneração, deixa um problema fiscal..., além do impacto para o setor de etanol hidratado", acrescentou ele, considerando que o governo está em uma "sinuca de bico".
Segundo Araújo, a situação de prêmio no mercado é passageira, considerando os contratos futuros internacionais para abril que indicam valores mais altos. "Se a Petrobras reduzir o preço hoje em 20 centavos, já na próxima semana vai precisar recompor e voltar com preço alto, o que vai ser uma nova polêmica."
O CBIE, outra consultoria que atua no setor de energia, acrescentou, com base em dados de sexta-feira, que os preços da gasolina e do diesel tinham prêmios de 0,17 real e cerca de 0,11 real por litro, respectivamente, em relação à cotação internacional.
Nesta segunda-feira, o petróleo Brent, importante referência para o mercado, operava em baixa de quase 1%.
(Por Roberto Samora em São Paulo, Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)