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Comercializadoras de energia têm expansão recorde em 2018 após ano de bonança

Publicado 08.01.2019, 17:53
Atualizado 08.01.2019, 17:55
© Reuters.  Comercializadoras de energia têm expansão recorde em 2018 após ano de bonança
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Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - O setor de comercialização de energia elétrica teve crescimento recorde em 2018, quando 51 novas comercializadoras foram abertas, em movimento puxado pelo investimento de empresas e executivos na criação de novas companhias após o setor registrar lucros históricos em 2017, disseram à Reuters especialistas e operadores do mercado.

O número de comercializadoras em operação fechou o ano passado em 270, um salto de 23,3 por cento frente a 2017, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), enquanto o índice de liquidez das operações no setor cresceu quase 44 por cento desde janeiro de 2018.

As comercializadoras atuam no chamado mercado livre de eletricidade, onde empresas podem fechar contratos de suprimento diretamente com os fornecedores. Elas podem tanto intermediar negócios entre geradores e consumidores quanto fechar transações apenas apostando na alta ou na baixa dos preços, entre outras.

"Nesses últimos dois anos, principalmente em 2017, o mercado de comercialização foi muito promissor em termos de lucratividade para as empresas. Esse movimento de 2018 é resultado disso", afirmou o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos.

Ele explicou que muitas empresas tradicionais no setor aproveitaram para lançar novas iniciativas, como a própria Comerc, que abriu a comercializadora NewCom junto a novos sócios, enquanto executivos e operadores do mercado também investiram na abertura de seus negócios.

"Houve muitas 'dissidências' de comercializadoras, em que se juntam 3, 4, 5 ou 6 profissionais e saem para fazer uma outra empresa. Tivemos diversos casos desses no ano também."

Um exemplo é a Quantum Energias, fruto da associação entre profissionais que deixaram empresas como Eneva (SA:ENEV3) e Votorantim Energia e executivos que se juntaram à empreitada como investidores financeiros.

O grupo investiu um total de 10 milhões de reais na empresa, que com apenas oito pessoas faturou 450 milhões de reais no ano de estreia, com foco nas operações de compra e venda de energia, o chamado "trading", segundo o sócio Henrique Kido, responsável pela área de Preços.

"Nossa casa é uma casa de 'trading'. Acho que de 90 a 95 por cento das novas comercializadoras abertas em 2018 são de 'trading'", afirmou.

Segundo dados compilados pela Quantum, a empresa foi líder em volume entre as comercializadoras abertas em 2018, enquanto o ranking geral foi dominado por grandes grupos-- com os braços de comercialização das elétricas europeias Engie e EDP (SA:ENBR3), do banco BTG Pactual (SA:BPAC11) e da Votorantim, além da Nova Energia, que tem como sócio o banco de investimento australiano Macquarie.

TRADING EM ALTA

A tendência das comercializadoras de focar nas operações de compra e venda marca uma virada frente ao passado, quando as primeiras empresas do setor apostavam principalmente na intermediação de negócios entre geradores e consumidores.

O novo padrão tem gerado uma aproximação entre as comercializadoras e o setor financeiro, dada a semelhança entre as negociações com eletricidade e outros mercados, como os de commodities.

A proximidade já é inclusive física, com boa parte das comercializadoras já existentes e abertas em 2018 concentradas na região da avenida Faria Lima e da Vila Olímpia, em São Paulo, bairros vistos como centros financeiros da capital paulista.

"Só tem comercializadoras de energia e corretoras por aqui", brincou Thiago Gonçalves da Silva, sócio-diretor da Ideal Energia, inaugurada em 2018 e que se associou ao longo do ano com o Banco Máxima.

O banco Santander (SA:SANB11) também abriu uma comercializadora de energia própria em 2018, em mais um sinal do interesse do mercado financeiro nas transações com energia.

Para o presidente do Conselho da CCEE, Rui Altieri, há espaço para uma aproximação ainda maior entre os setores nos próximos anos.

"O mercado financeiro está começando a olhar o mercado elétrico com outros olhos", afirmou.

Ele ressaltou, no entanto, que o aprofundamento da aposta do mercado financeiro em energia deverá depender também do rumo de reformas prometidas pelo governo, que incluem possíveis regras para uma gradual expansão do mercado livre de energia.

O mercado livre é restrito atualmente a grandes consumidores, como indústrias, mas uma proposta lançada pela gestão Temer previa reduzir entre 2020 e 2026 as exigências para que um cliente entre no segmento.

Após a posse do presidente Jair Bolsonaro, o novo ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, disse que pretende "modernizar" a regulamentação do setor, mas não entrou em detalhes.

(Por Luciano Costa)

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