Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) -Os consumidores de café do Brasil demandaram 21,3 milhões de sacas de 60 kg na temporada de 2021/22 (de novembro a outubro), queda de 1,01% em relação ao ciclo anterior, mostraram dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) nesta quinta-feira, citando expectativas de recuperação para 2023 após os preços mais altos limitarem a demanda em 2022.
Com este desempenho, o Brasil continuou a ocupar a segunda posição global como consumidor da bebida, atrás apenas dos Estados Unidos por uma diferença de cerca de 4,7 milhões de sacas, afirmou a entidade.
Segundo levantamento da Abic, o consumo per capita de café em grãos ficou em 5,96 quilos por habitante/ano, recuo de 1,61%.
"A curva de crescimento vinha bem até agosto, setembro, e no último quadrimestre do ano passado tivemos uma ligeira correção que impactou (o consumo)", disse a jornalistas o presidente da Abic, Pavel Cardoso, em videoconferência.
Ele disse que a inflação acumulada afetou a busca dos consumidores por café, devido a um aumento de custos com a matéria-prima que já havia acontecido anteriormente, mas que chegou ao varejo a partir daquele momento, em um movimento mais tardio.
A produção brasileira de café foi afetada por problemas climáticos severos em 2021 e 2022, com seca e geadas nas principais regiões produtoras da variedade arábica, que reduziram a oferta do grão e também impulsionaram os preços do conilon.
Cardoso lembrou que o grão de café representa cerca de 70% dos custos de produção da indústria.
De acordo com a entidade, os preços do café no varejo subiram cerca de 51% em 2021, enquanto a matéria-prima mais que dobrou, com um avanço de 137%. No ano seguinte, o café em grão arábica caiu 27,7%, mas a indústria seguiu com o repasse de preços, levando o valor do produto no varejo a um aumento médio de 35,4%.
"Essa desaceleração (de demanda) de 2022 também é impactada pelo consumo fora do lar", disse o presidente.
Já para este ano, o diretor executivo da Abic, Celírio Inácio da Silva, acrescentou que a expectativa é de recuperação no consumo que vinha em uma leve crescente desde 2019.
"Com a correção desses números em 2023 (de inflação) e por conta da procura de melhor qualidade pelo consumidor... então a expectativa é, sim, de uma recuperação nesse consumo", complementou o presidente da Abic.
Ele ressaltou que a indústria ainda não se equilibrou totalmente, mas o nível de repasses de preços que ainda pode acontecer vai depender de diversos fatores, dentre eles o tamanho da safra.
A colheita de café do Brasil em 2023 está estimada em 54,94 milhões de sacas de 60 kg, alta de 7,9% na comparação com 2022, com um aumento das áreas em produção assim como melhores produtividades em importantes regiões cafeeiras, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
"Mesmo com uma safra ligeiramente maior que foi 2022, a gente não entrega grandes ofertas, e sim uma entrega muito justa", disse o diretor executivo da Abic, considerando o consumo interno e a demanda para exportação.
Desta forma, ele acredita que não há grandes espaços para queda nos preços do café neste ano.
(Reportagem de Nayara FigueiredoEdição de Eduardo Simões e Roberto Samora)