Por Marta Nogueira e Lisandra Paraguassu
RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) -A Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), da Petrobras (BVMF:PETR4), no Rio Grande do Sul, enfrenta dificuldades para escoar combustíveis como o diesel, devido a problemas logísticos decorrentes das enchentes, deixando desabastecidas várias regiões, enquanto distribuidoras ainda lidam com os impactos das fortes chuvas.
"A única refinaria que produz diesel no Estado está sem acesso. Por conta disso... as cidades e regiões do Estado começaram a ficar sem diesel, as prefeituras não conseguem trabalhar na limpeza porque não tem mais diesel", afirmou na terça-feira o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta.
Segundo a Petrobras, a Refap "segue operando e atendendo a todas as demandas de saída de produtos".
No entanto, a estatal afirmou que, em virtude do alto volume de estoque de gás liquefeito de petróleo (GLP) na refinaria, consequência da baixa retirada das companhias engarrafadoras, uma das unidades de processamento foi temporariamente parada e será retomada assim que aumentar a saída do produto.
"A companhia organizou uma equipe de resposta a emergência, que vem prestando todo o apoio e atendimento à força de trabalho, e está monitorando os principais pontos que podem afetar a operação da refinaria e a saída de combustíveis, a fim de garantir a continuidade do abastecimento", disse a Petrobras em nota.
O Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) havia afirmado que a refinaria, com capacidade para processar 32 mil m³/dia de petróleo, estava operando em carga mínima, com retirada de produtos, como diesel e gasolina, abaixo do normal e as de GLP, o gás de cozinha, perto de "zero".
Na terça-feira, o IBP -- que representa as petroleiras no Brasil -- publicou um boletim atualizado sobre o cenário apontando que houve melhora "significativa" das retiradas de GLP na refinaria, mas sem detalhar.
Além disso, apontou uma reprogramação de carretas de óleo combustível para os clientes e a abertura de nova rota de escoamento, via BR-101, para incremento de saída de produtos escuros.
O presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Silveira Pereira, relatou à Reuters a dificuldade para conseguir abastecer.
"O grande problema que está acontecendo é falta de combustível, não tem logística para trazer combustível, eu que estou no município de Bagé, chega no posto ele só vende 20 litros, porque não sabe quando vai ter, este é um drama que estamos passando hoje", afirmou, em entrevista por telefone.
A Refap, localizada no município gaúcho de Canoas, atende principalmente ao mercado regional, com foco na maximização da produção de óleo diesel.
O diretor institucional da Brasilcom --federação que representa mais de 40 distribuidoras regionais de combustíveis instaladas em quase todos os Estados brasileiros --, Sergio Massillon, afirmou que "a situação está muito complicada com imensas dificuldades logísticas, postos revendedores sem produtos".
"O maior problema é o da movimentação de GLP", afirmou Massillon.
"As distribuidoras têm produtos, mas não conseguem atender a todos os pedidos da revenda por não ter como entregar, principalmente na área da Grande Porto Alegre, mas com reflexos também no interior."
DIFICULDADE LOGÍSTICA
Em seu boletim, o IBP disse ainda que a entrega de derivados de petróleo em Canoas está cerca de 30% abaixo da demanda normal, contra 40% apontado na véspera, diante de uma melhoria nas operações das bases.
"Não há falta produto e sim dificuldade logística para se chegar com determinados produtos nas bases de armazenagem e deslocar os combustíveis das bases até os postos, dada a obstrução de acessos rodoviários e das vias urbanas", disse o IBP.
Na véspera, a reguladora do setor de petróleo e combustíveis ANP explicou que combustíveis fósseis chegam por ligação dutoviária na Refap em Canoas (RS) e às bases de distribuição no entorno.
Uma dificuldade maior tem sido a entrega de etanol e biodiesel no Estado, que normalmente chegariam por via rodoviária ou ferroviária às bases de distribuição em Esteio e Canoas, o que levou a autarquia a anunciar na véspera uma flexibilização das regras de mistura obrigatória dos biocombustíveis nos combustíveis fósseis.
Segundo o IBP, a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar-Paraná), também da Petrobras, com capacidade para processar 33 mil m³/dia, segue sendo alternativa e mantém elevada a cota de entrega dos produtos (GLP, gasolina, S500 e S10) para auxílio ao suprimento do Rio Grande do Sul.
(Por Marta Nogueira no Rio de Janeiro, Lisandra Paraguassu em Brasília e Roberto Samora em São Paulo)