Por José Roberto Gomes
GUAXUPÉ (Minas Gerais) (Reuters) - Maiores exigências para se tomar crédito e preços internacionais enfraquecidos devem pesar sobre a venda de equipamentos ao setor de café no Brasil no curto prazo, disse nesta quarta-feira à Reuters o presidente da Pinhalense, líder em produtos e tecnologia para o processamento dos grãos.
De acordo com Reymar de Andrade, a cautela por parte do cafeicultor para fechar negócios com a indústria de equipamentos se intensificou recentemente.
"Na virada de ano, percebemos que o acesso ao crédito ficou mais difícil. Não por falta de recursos, mas há mais exigências... Outro fator foi a queda dos preços em Nova York. A preocupação do produtor sobre a quanto vai vender trouxe receio ao mercado", explicou o executivo no intervalo da Femagri, feira de máquinas, implementos e insumos promovida pela cooperativa Cooxupé em Guaxupé (MG), iniciada nesta quarta-feira.
O contrato futuro do café arábica negociado em Nova York registra queda de mais de 20 por cento, na comparação com o valor visto no mesmo período do ano passado, para cerca de 1,19 dólar por libra-peso.
De acordo com ele, a Pinhalense trabalha com uma estabilidade nos negócios fechados durante a Femagri deste ano ante o valor apurado na feira de 2017, da ordem de 18 milhões de reais, interrompendo crescimentos observados nos últimos anos.
"É um mercado ainda bom, interessante, mas aquele boom que esperávamos, de alta de 20 a 30 por cento nas vendas, não ocorrerá."
A Pinhalense faturou mais de 150 milhões de reais em 2017 e prevê volume semelhante em 2018, mas segundo Andrade o desempenho para todo o ano ainda é "uma bola de cristal nebulosa".
Com 50 por cento de participação no mercado interno e 30 por cento no externo, a companhia de Espírito Santo do Pinhal (SP) exporta para mais de 90 países.
"JANELA APERTADA"
O executivo destacou que a janela para o produtor realizar suas aquisições está se estreitando, já que a colheita da safra deste ano começará entre abril e maio, quando as máquinas já precisam estar instaladas para o processamento dos grãos.
"O risco é o preço (do café) cair muito, daí o produtor não conseguirá instalar seu equipamento a tempo", acrescentou Andrade.
Os preços internacionais do café estão pressionados em razão, principalmente, da perspectiva de uma safra volumosa neste ano no Brasil, dado o ciclo de bienalidade positiva para a variedade arábica.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por exemplo, prevê uma produção de até 58 milhões de sacas, um recorde.
Curiosamente, foi justamente essa previsão de ampla colheita que, a princípio, levou o setor a apostar em vendas mais fortes de maquinários, cenário este que mudou na virada de ano.