Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de produtos feitos com farinha de trigo espera crescer de 3% a 5% em faturamento e 2% em volume de vendas neste ano, apesar do aumento de custos com o cereal, amparada novamente pelo consumo no lar em meio à pandemia da Covid-19, estimou nesta terça-feira a associação do setor Abimapi.
Em 2020, esta indústria faturou 40,5 bilhões de reais, alta de 9% no comparativo anual, e as vendas subiram 5,37% para 3,55 milhões de toneladas, impulsionadas pela demanda que surgiu com as medidas de isolamento domiciliar contra o coronavírus.
"Mesmo com o afrouxamento gradual das medidas de distanciamento social, as pessoas ainda se sentem inseguras para retornar ao consumo fora do lar", disse em nota o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), Claudio Zanão.
Ele afirmou que, além disso, os produtos da categoria são relativamente baratos, pertencentes à cesta básica de alimentação, e a população está menos capitalizada, revisando as suas prioridades de consumo. Isso contribui, por exemplo, para o incremento de vendas de massas como o macarrão.
Segundo a entidade, a comercialização do primeiro bimestre de 2021 "não foi tão bem", pois a falta dos recursos vindos do auxílio emergencial fez diferença no poder de compra das famílias. No entanto, a expectativa é que a partir de abril as vendas melhorem, com o possível retorno da ajuda financeira vinda do governo.
CUSTOS
Por outro lado, mesmo com previsão de crescimento para a indústria, o setor enfrenta dificuldade de reajuste de preço, ao lidar com um cenário de recessão econômica e margens apertadas.
A desvalorização do real ante o dólar e a entressafra na produção nacional do trigo levaram ao aumento do custo da farinha --principal matéria-prima da "cesta" Abimapi.
A entidade disse que o repasse de despesas já foi iniciado neste ano, com reajuste médio de 2% a 3% sobre o portfólio de produtos do setor. "De todo modo, este aumento tende a ser gradual, pois não há espaço para elevar os preços de uma só vez para o consumidor final", admitiu.
"Diante de um ano atípico, a matéria-prima atingiu valores históricos em plena colheita (de 2020), os produtores de trigo vêm negociando a safra atual com uma margem de lucro muito acima da média histórica, o que retraiu as negociações no mercado da farinha, em um cenário em que os reajustes nas precificações são imprescindíveis", afirmou Zanão.
No Paraná, principal produtor de trigo no Brasil, o cereal é negociado a 1.490,08 reais por tonelada, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), salto de 45% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Pesquisadores do Cepea afirmaram em nota nesta terça-feira que os compradores de trigo aguardam o enfraquecimento do dólar para avançar com negociações, o que reduziria a paridade de importação e os custos com as compras externas.
De acordo com a Abimapi, cerca de 70% do custo de produção de massas é com farinha. Nos biscoitos, em média, o peso é de 30%, e nos pães e bolos industrializados, de 60%.
EXPORTAÇÃO
A pandemia da Covid-19 provocou alta na demanda por alimentos como farinhas, macarrão, massas instantâneas, pão de forma, além de alimentos congelados em diversos lugares do mundo, o que potencializou as exportações do Brasil, tendo como destino principal os países da América do Sul.
Segundo a Abimapi, o volume embarcado pelo setor em 2020 saltou 52%, para 158 mil toneladas, enquanto as receita com vendas externas subiram 15%, para 196,3 milhões de dólares.
Para 2021, a associação espera crescer 10% em faturamento frente ao ano passado, tendo em vista a permanência do período da pandemia e eventual crise financeira em decorrência do coronavírus.
"Manteremos um cuidadoso olhar para a China, entre os mercados-alvo de nosso setor no exterior", completou Zanão.
(Por Nayara Figueiredo)