BRASÍLIA (Reuters) - O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento tentou tranquilizar os consumidores após a operação Carne Fraca realizada pela Polícia Federal nesta sexta-feira em torno de um esquema gigantesco de fraudes na fiscalização sanitária da carne brasileira.
"O produto que chega na mesa dos brasileiros é de qualidade", disse o secretário-executivo do ministério, Eumar Novacki, durante entrevista coletiva em que reconheceu temores do governo federal com o impacto da operação no mercado internacional.
Mas se garantiu que "a população brasileira pode ficar tranquila", Novacki admitiu "riscos muito pequenos" por conta das carnes fraudadas.
Segundo o secretário foram interditadas unidades da BRF (SA:BRFS3) de Mineiros (GO), com suspeitas sobre carne de aves, e da Peccin em Jaraguá do Sul (SC) e Curitiba, ambas com suspeitas sobre embutidos --mortadela e salsicha.
Novacki disse que a partir da semana que vem haverá uma força-tarefa para investigar quatro grandes grupos empresariais e 21 unidades do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que estão sob fiscalização.
O secretário disse que o ministro Blairo Maggi determinou o afastamento de 33 servidos envolvidos no escândalo e disse que o ministério continuará colaborando com a Polícia Federal.
Para ele, todas instituições passam por problemas de condutas, mas o sistema de fiscalização como um todo não pode ser penalizado pelas falhas de alguns.
Especialistas ouvidos pela Reuters, porém, veem um grande dano à imagem das empresas envolvidas no escândalo.
"No segmento alimentar, confiança é algo que vem no inconsciente desde pequeno", disse o professor do curso de Publicidade e Propaganda da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Sérgio Silva, especializado em marcas.
"Se tem desconfiança tão grande com comida, e nessas marcas o problema aparentemente existe, imagina o resgate de confiança que isso não vai demandar", acrescentou. [nL2N1GU1H8]
MERCADO INTERNACIONAL
Novacki reconheceu também que o governo teme uma reação dos mercados internacionais.
"Existe sim o receio de fechamento dos mercados, mas estamos conversando", disse o secretário, confirmando que instituições da União Europeia e dos Estados Unidos já fizeram contato com o governo brasileiro para levantar questões sobre a operação.
“Lógico que nos preocupa o mercado internacional. Existem falhas mas estamos aprimorando o sistema”, acrescentou.
O ministro Blairo Maggi cancelou uma viagem de férias aos Estados Unidos e na próxima segunda-feira terá encontros com embaixadores de países que demonstraram preocupação com as informações levantadas pela operação Carne Fraca.
(Por Lisandra Paraguassu, texto de Alexandre Caverni)