Por Marcelo Teixeira e Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - O governo brasileiro ainda tem que decidir se renovará uma cota sem tarifa para importações de etanol, o que beneficiaria os Estados Unidos, disse a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em evento em São Paulo nesta segunda-feira.
O Brasil permite atualmente que 600 milhões de litros por ano de etanol entrem no país sem tarifas, mas a regra expira no fim deste mês. Se não for renovada, as importações futuras estarão sujeitas a um imposto de 20%.
Qualquer liberalização do comércio de etanol entre o Brasil e os Estados Unidos precisaria ser "gradual" para não prejudicar a indústria local, disse a ministra a repórteres nesta segunda-feira, durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio de 2019.
Ela disse que o governo está avaliando o assunto. Produtores de etanol dos EUA pediram ao Brasil para, pelo menos, renovar a cota, uma vez que a eliminação completa da tarifa, que é o que eles gostariam de ver, possivelmente não acontecerá.
Um grande comerciante brasileiro de etanol que está acompanhando de perto as negociações entre os dois governos disse à Reuters que é improvável que a cota seja renovada.
A fonte, que pediu para não ser identificada porque o assunto é sensível, disse que o grupo brasileiro Unica conseguiu convencer o governo a não abrir o comércio de etanol enquanto os Estados Unidos taxam completamente as importações brasileiras de açúcar.
"Eles querem uma cota equivalente livre de tarifas para o açúcar em troca da cota livre de tarifas para o etanol", disse a fonte, acrescentando que, embora isso não aconteça, o cenário mais provável é que o Brasil deixe a cota do etanol expirar.
O comerciante também disse que faz mais sentido agora que a questão do etanol seja incluída nas negociações comerciais mais amplas que se espera que aconteçam entre os dois países.
Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos disseram que vão negociar um acordo de livre comércio.
"Não faria sentido tratar o etanol separadamente agora", disse a fonte.
Os Estados Unidos vendem regularmente etanol para a região Nordeste do Brasil, onde a produção local não é suficiente para suprir a demanda total.
Sem a cota, o comerciante acredita que as usinas brasileiras do centro-sul ganharão competitividade naquela região contra o etanol de milho dos EUA.