Por Amanda Perobelli e Lais Morais
SÃO PAULO (Reuters) - O mais recente trabalho do artista de rua e ativista Mundano incorpora cinzas de incêndios florestais e lama de enchentes no Brasil para criar um mural gigante que pede o fim do desmatamento.
O mural foi inaugurado nesta quarta-feira na lateral de um prédio de 11 andares no centro de São Paulo, acrescentando uma mensagem colorida e incisiva à rica coleção de grafites da capital paulista.
A obra de 48 metros por 30 metros retrata tocos de árvores de uma floresta queimada e o rosto de uma mulher indígena segurando um cartaz em inglês que diz: "Stop the Destruction" (Pare a destruição).
O mural foi pintado com cores feitas com as cinzas de incêndios florestais no país, incluindo a Amazônia, onde grandes extensões de floresta tropical foram destruídas por incêndios recentes na pior seca já registrada. Mundano disse à Reuters que também usou lama proveniente de grandes enchentes no Rio Grande do Sul neste ano.
A mulher retratada no mural é a líder indígena Alessandra Korap Munduruku, que liderou uma campanha bem-sucedida para impedir que empresas multinacionais de mineração explorassem as terras ancestrais de seu povo na Amazônia, pela qual ela ganhou o Prêmio Ambiental Goldman em 2023.
Mundano afirmou que seu mural pretende ser um protesto contra as empresas que têm avançado com a fronteira agrícola para a floresta amazônica com plantações de soja em larga escala e criação de gado para carne bovina.
O mural tem como alvo específico a empresa norte-americana de grãos Cargill, ao pintar temporariamente os nomes dos membros da família Cargill no mural. Mundano disse desejar que a família Cargill, proprietária da empresa, mantenha sua palavra de que removerá o desmatamento de sua cadeia de suprimentos.
A Cargill disse em comunicado que se comprometeu a eliminar o desmatamento de sua cadeia de suprimentos das principais culturas no Brasil até 2025 e de sua cadeia de suprimentos de soja na América do Sul até 2030.
"Estamos no caminho certo para cumprir esse compromisso", disse a Cargill no comunicado, acrescentando que o mural foi baseado em informações imprecisas.
"O fato é que a Cargill acelerou seu compromisso de eliminar o desmatamento e a conversão de terras de nossas cadeias de suprimentos diretas e indiretas de soja, milho, trigo e algodão no Brasil, Argentina e Uruguai até 2025", acrescentou.
Além de cinzas e lama, Mundano usou argila de reservas indígenas que lutam para ter seus direitos à terra reconhecidos, muitas vezes em conflitos com fazendeiros. O mural também apresenta tinta feita de urucum, uma fruta tropical vermelha usada como pintura corporal pelos povos indígenas.
"Aqui, com todos os artistas, a gente vai criando essa paleta de cores, pigmentos naturais. E talvez esse seja o maior mural feito com pigmentos naturais", disse Mundano enquanto misturava as tintas para a obra.
"Os nomes que a gente está escrevendo aqui... são bilionários desse planeta, que estão vivendo ainda num modelo baseado na destruição do desmatamento de biomas de ecossistemas que vêm contribuindo para essa emergência climática que está acontecendo", afirmou.
O mural é uma colaboração com a organização sem fins lucrativos de conservação Stand.earth, que financiou o projeto.