Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil precisará fazer leilões para contratar reserva de capacidade todos os anos, a fim de garantir confiabilidade e resiliência para o setor elétrico, afirmou nesta quinta-feira o diretor de operações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Christiano Vieira.
Segundo Vieira, os certames não precisarão ser grandes e contratar volumes consideráveis de capacidade de uma vez, mas deverão acontecer todos os anos para assegurar um fluxo contínuo de nova capacidade para atender principalmente os horários de "ponta".
Ele evitou comentar sobre a necessidade de realização de um leilão do tipo ainda neste ano, em meio ao atraso do Ministério de Minas e Energia em divulgar as diretrizes finais do certame, que estava inicialmente previsto para agosto.
"A realização, ter ou não ter o leilão, compete ao ministério. O que o ONS pode é reforçar a importância, e a nossa visão é de ter leilão de capacidade todo ano", disse o diretor, durante participação em evento da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen).
"Não é interessante ficar acumulando esse requisito, o ideal é que tenha um fluxo contínuo de entrada de capacidade nova para atender o crescimento da demanda máxima do sistema", acrescentou.
Vieira também observou que o operador tem despachado diariamente termelétricas para atender os horários de ponta, mas que grande parte das usinas acionadas não foram pensadas para esse fim.
"Hoje a gente despacha um parque herdado, legado, que foi pensado para um outro modelo, outra circunstância, de atendimento energético, semanal, de base. E de repente você precisa desse atendimento 4 horas por dia, liga e desliga todo dia".
O governo tem dito que pretende realizar o leilão de capacidade ainda neste ano, mas há uma discussão no mercado sobre a viabilidade dos prazos para que o certame realmente ocorra nos próximos meses.
O diretor de Marketing, Comercialização e Novos Negócios da Eneva (BVMF:ENEV3), Marcelo Cruz Lopes, disse à Reuters acreditar que ainda dá tempo de realizar um leilão neste ano, caso o governo opte por seguir um modelo de certame já realizado anteriormente, o que traria mais agilidade.
"O sistema está precisando de potência agora, imagine em 2028. E, se não fizer logo, a gente está contratando um problema."
O Brasil vem enfrentando uma seca severa que afetou o potencial de geração hidrelétrica, acarretando custos mais altos para os consumidores.
Um eventual período úmido ruim a partir de novembro significará pressão adicional para os reservatórios das usinas hidrelétricas do Brasil, que podem chegar a níveis mais próximos aos de 2021 a depender das afluências, apontou o diretor do ONS nesta quinta-feira.
(Por Letícia Fucuchima)