Por Barani Krishnan
Investing.com – Ele não prospera com uma inflação baixa; tampouco sobrevive a uma economia em recuperação com fortes vendas no varejo.
O ouro caiu para uma mínima de cinco semanas abaixo de US$ 1.750 a onça nesta quinta-feira, depois que as vendas no varejo dos EUA saltaram mais de 15% no ano até agosto, colocando a economia em ebulição após semanas de desafios impostos pela variante Delta.
O contrato mais ativo dos futuros de ouro para dezembro na Comex de Nova York caía US$ 41, ou 2,3%, a US$ 1.753,50 às 13h24 (horário de Brasília). O valor mínimo da sessão foi de US$ 1.745,50, o menor desde 12 de agosto.
“Os corações dos bulls do ouro foram mais uma vez partidos”, declarou o comentarista financeiro, Adam Button, em um post no ForexLive. “(O ouro) não pode subir com uma inflação branda, (e é) pressionado pelas vendas no varejo.”
O Índice de Preços ao Consumidor dos EUA, indicador chave de inflação, cresceu 5,3% no ano até agosto, após aumento de 5,4% em julho, de acordo com dados divulgados no início da semana.
"O ouro foi descartado e rápido", afirmou Craig Erlam, analista da plataforma de investimentos OANDA. “O fato se dá apenas alguns dias depois de ultrapassar os US$ 1.800 na esteira de dados suaves da inflação dos EUA. O marco durou pouco e se mostrou bastante vulnerável".
Erlam declarou que, de uma perspectiva técnica, o patamar de US$ 1.780 do ouro assinalou a garganta (o ponto de estrangulamento) do movimento entre “cabeça e ombros” formado no mês passado, quando chegou a US$ 1.833.
“O fato de isso ter ocorrido antes da reunião do Fed não é um bom presságio para o metal amarelo”, afirmou Erlam. “Dados recentes deram ao Fed espaço para ser mais paciente com a redução gradual, mas os comentários de representantes que recebemos no final da semana passada sugerem que muitos não estão desanimados. O ouro poderia se beneficiar mais uma vez caso as políticas da instituição mudassem de curso na próxima quarta-feira, mas pode ser uma longa semana para o metal nesse ínterim”.
Os mercados estão reagindo de forma mais ruidosa do que o normal aos dados econômicos dos EUA nesta semana, com o Federal Reserve entrando em seu típico período de silêncio antes da reunião de política monetária de 21 a 22 de setembro.
A questão de quando o Fed deveria reduzir o estímulo econômico e aumentar as taxas de juros tem sido calorosamente debatida nos últimos meses, à medida que a recuperação econômica se depara com a variante Delta do coronavírus. O presidente Jay Powell está para dar uma coletiva na próxima semana, após a reunião de política de dois dias do Fed.
O programa de estímulo do Fed e outras acomodações monetárias têm sido responsabilizados pelo aumento dos preços nos Estados Unidos. O banco central tem comprado US$ 120 bilhões em títulos e outros ativos desde o início da pandemia em março de 2020 para sustentáculo da economia. O órgão tem mantido as taxas de juros em níveis praticamente zerados nos últimos 18 meses.
Depois de cair 3,5% em 2020, com a paralisação do comércio pela pandemia, a economia dos EUA teve uma expansão robusta este ano, crescendo 6,5% no segundo trimestre, em linha com a previsão do Federal Reserve.
Para o Fed, porém, o problema é a inflação, que tem superado o crescimento econômico.
O indicador de inflação preferido do Fed - o Núcleo do Índice de Despesas de Consumo Pessoal, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia - subiu 3,6% no ano até julho, maior alta desde 1991. O Índice PCE que inclui energia e alimentação aumentou 4,2% no período de um ano.
A meta própria do Fed para a inflação é de 2% ao ano.
Sunil Kumar Dixit, estrategista-chefe da SK Charting em Calcutá, Índia, afirmou que o desempenho do Índice do Dólar e do Rendimento dos Título dos EUA de 10 anos seriam fundamentais para a performance do ouro.
O Índice do Dólar, que coloca a moeda dos EUA contra seis principais rivais liderados pelo euro, subiu 0,4% a 92,87. O rendimento dos títulos de 10 anos dos EUA subiu 2,3%, para 1,33. O DX acima de 93 pode subir para 93,60 e 93,90, desencadeando um selloff do ouro ainda mais duro”, declarou Dixit.