Por Barani Krishnan
Investing.com - Mesmo a segunda maior queda de estoques de petróleo bruto dos EUA neste ano não foi capaz de satisfazer os touros do mercado de petróleo — não quando há peixes maiores para o mercado pescar.
Fontes da Opep+, falando sob condição de anonimato, afirmaram a veículos de mídia na quarta-feira que o impasse quanto às cotas de produção de agosto entre os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita tinha sido resolvido, uma vez que os dois aparentemente tinham chegado a um acordo.
Horas mais tarde, os Emirados disseram que nada havia sido decidido. "Ainda não se atingiu nenhum consenso com a Opep+ sobre um acordo de produção e as discussões ainda estão em curso", afirmou o Ministério da Energia dos EAU.
Com isso, os preços do petróleo, que tiveram forte alta no pregão anterior e antes da liberação dos números de estoques dos Estados Unidos na quarta-feira, mergulharam de novo, continuando sua descida mesmo após os dados mostrarem uma oitava semana seguida de queda nos estoques de petróleo bruto.
O petróleo WTI, negociado em Nova York, estava em baixa de US$ 2,52, ou 3,3%, a US$ 72,73 por barril às 17h08 (horário de Brasília).
O Brent, cotado em Londres e referência mundial de preço, caía US$ 2,04, ou 2,7%, para US$ 74,45.
A queda desafiou o consumo de petróleo bruto de 7,9 milhões de barris na semana passada relatado pela Energy Information Administration dos EUA. Essa foi a maior queda semanal do tipo desde os 8 milhões de barris relatados para a semana encerrada em 3 de maio.
"Os EAU estão mostrando que não estão dispostos a aceitar migalhas dos sauditas", afirmou John Kilduff, sócio fundador da Again Capital, fundo de hedge de energia Nova York. "É tudo uma briga por fatia de mercado agora que os preços do petróleo subiram tanto, e parece que os sauditas precisam de um compromisso com os EAU se quiserem manter os preços nestes níveis".
Até o embate entre Arábia Saudita e EAU, o petróleo teve um rali quase perfeito, com o WTI subindo 57% no ano e o Brent em alta de quase 50% com a unidade de produção modelo apresentado pela Opep+.
A Opep+ — que agrupa os 13 membros originais da Opep, ou Organização dos Países Exportadores de Petróleo, liderados pelos sauditas, mais 10 diferentes produtores de petróleo liderados pela Rússia — começou retendo 10 milhões de barris por dia do mercado, para trazer de volta os preços praticamente destruídos pela pandemia do coronavírus.
Só nos últimos meses a aliança de 23 membros começou a aumentar a produção e, ainda assim, de maneira muito marginal. Atualmente, a Opep+ retém quase 6 milhões de barris de capacidade diária dos compradores num mercado que pode ficar faminto de oferta quando se iniciar o pico de demanda do verão. Foi isto que levou ao rali dos sonhos do petróleo, de US$ 40 negativos por barril de petróleo bruto dos EUA, no auge do desastre da Covid, para cerca de US$ 75 hoje.
A Opep+ deveria ter concordado em um aumento de pelo menos 400.000 barris por dia para agosto.
Teoricamente, quanto menos petróleo no mercado, melhor para os preços. Mas, no caso da Opep+, o embate entre Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos também enviou sinais de que a admirável unidade de produção que antes existia no grupo pode ter terminado, e mais países podem querer produzir mais barris se permitido.
Os preços do petróleo não tiveram exatamente um colapso com o impasse entre Arábia Saudita e EAU. Mas eles ficaram muito mais voláteis depois de seguirem praticamente em uma mesma direção – para cima – por quase dois meses consecutivos.
Mas os problemas do petróleo não estão limitados apenas à Opep.
A propagação das variantes do coronavírus e o acesso desigual às vacinas ameaçam a recuperação econômica global, alertaram os chefes de finanças das economias do G-20 no sábado. Embora o Sudeste Asiático e a Austrália tenham sido em grande parte o foco de novas variantes, as capitais Ocidentais também não foram poupadas.
Os Estados Unidos registaram o maior número de casos de Covid durante o fim de semana desde maio, à medida que a variante delta do vírus, altamente transmissível, tornou-se mais predominante. Existe o receio de que as variantes da Covid possam voltar a atingir todos os meios de transporte em todo o mundo, afetando o consumo de petróleo.
Também há o "problema da China".
Reduções nas cotas de importação, manutenção de refinarias e aumento dos preços globais se combinaram para criar a primeira retração semestral da China no consumo de petróleo desde 2013. As importações chinesas de petróleo registaram uma queda de 3% entre janeiro e junho, numa comparação de ano a ano.
A guinada da China para pressionar os preços do petróleo para baixo é semelhante à estratégia que ela implementou para baixar os preços do cobre depois de o metal ter atingido máximas recorde de US$ 10.746 em maio. Com uma redução acentuada nas importações, Pequim conseguiu empurrar o cobre para abaixo dos US$ 9.400.
A aparição da China como uma nova força negativa contra o petróleo põe em xeque a perspectiva de demanda pela commodity. Isso prova que Pequim não é apenas um torcedor dos superciclos de commodities; também pode ser um urso silencioso quando os preços não seguem a trajetória desejada ou prejudicam sua economia.
"A China acumulou uma enorme quantidade de petróleo quando os preços atingiram o menor nível em 20 anos e, à medida que os preços continuam subindo, a China terá um incentivo cada vez maior para utilizar as suas reservas em vez de importar petróleo caro", afirmou Osama Rizvi, da Primary Vision Network, num post de blog no início deste mês.
"Embora seja improvável que isto altere os fundamentos básicos subjacentes do mercado de petróleo, a redução das importações chinesas certamente é um dos fatores que poderia finalmente alavancar uma mudança nos ânimos do mercado da commodity", Rizvi afirmou.