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Petróleo: E se 25% do preço atual for resultado de especulação sem regulação?

Publicado 19.06.2022, 06:26
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Por Barani Krishnan

Investing.com -- Especulação antes dos fatos: esta é a razão para as movimentações de preços exageradas em qualquer mercado, especialmente nas commodities. E se 25% do preço atual do petróleo for resultado da especulação dos maiores traders de Wall Street, que estão sujeitos a regulamentações inadequadas? E se essa especulação for interrompida? Será que o barril vai passar dos US$ 110 para US$ 80? Intrigante? Continue lendo.

Enquanto os investidores de commodities tomados pelos temores de uma recessão nos EUA forçaram uma queda de mais de US$ 10 por barril na semana que acaba de terminar, uma reportagem investigativa da TYT Network, publicada no site salon.com, afirmou que um grupo de Democratas do Congresso norte-americano também voltou suas atenções para uma misteriosa brecha comercial que pode estar ajudando a impulsionar os preços da gasolina e dos alimentos para além de qualquer justificativa.

A brecha, chamada de Footnote 563 (“Nota de Rodapé 563”) no contexto das diretrizes de negociação da Commodity Futures Trading Commission (Comissão de Negociação de Futuros de Commodities), ou CFTC, foi sinalizada para o governo Biden pelo deputado democrata Ro Khanna, da Califórnia, que quer a sua suspensão.

De acordo com os especialistas da CFTC entrevistados pelo TYT, é a Footnote 563 que permite principalmente as maiores firmas financeiras de Wall Street que sobrecarreguem uma precificação saudável com volumes maciços de swaps baseados em commodities - que são, basicamente, apostas nos preços dos produtos.

Em mercados saudáveis, compradores e vendedores definem os preços ao encontrar o meio termo entre si. Uma parte quer preços baixos, enquanto a outra quer preços altos. O problema é que os compradores e vendedores de petróleo e de outras commodities estão em minoria, numa proporção em torno de 10 por um, em relação aos traders de Wall Street, nenhum dos quais têm um incentivo de comprador genuíno para manter os preços baixos, porque poucos deles efetivamente realizam compras; na maior parte, eles só apostam.

Como os investidores desregulamentados superam drasticamente os seus números, os compradores e vendedores genuínos são praticamente irrelevantes hoje no que diz respeito à fixação de preços, diz Michael Greenberger, ex-diretor de negociação e mercados da CFTC. A Footnote 563 é a responsável pelo fato de que a Ucrânia e outras questões de fornecimento gerem impactos desproporcionalmente elevados nos preços, Greenberger disse durante uma mesa redonda virtual organizada recentemente pelo grupo Americans for Financial Reform.

A bem da verdade, as sanções não só contra a Rússia, mas também contra o Irã e a Venezuela, além dos conflitos civis na Líbia, estão apertando a oferta mundial do petróleo, enquanto a demanda está de volta às máximas pré-pandemia. O problema é que os bancos e traders de Wall Street estão amplificando os aumentos de preços dentro desse cenário de aperto no petróleo, quando um mercado de futuros em bom funcionamento os amorteceria.

O problema não é a ganância corporativa, como disseram o Presidente Joe Biden e os Democratas. Ou, pelo menos, não é a ganância corporativa que eles têm em mente.

Em mercados saudáveis, a combinação de preços motivaria uma subcotação competitiva, especialmente com a gasolina a níveis recordes superiores a US$ 5 por galão. Na teoria, um atacadista de gasolina oportunista poderia tentar captar novos clientes ao oferecer preços mais baixos que seus concorrentes que combinam preços. Mas mesmo se alguns atacadistas tomassem esta ação, isso não movimentaria o preço de mercado, porque as vendas de gasolina são uma gota no oceano comparadas às apostas de Wall Street.

Como Greenberger disse em sua fala na semana passada, as companhias petrolíferas podem se beneficiar com o aumento dos preços, mas não são o motor primário.

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E Greenberger tem mais do que pouca experiência no assunto. Eles tiveram um papel semelhante durante a década de 2000, quando a gasolina superou US$ 4 por galão, apontando um ponto fraco na regulamentação chamado de "brecha Enron", que permitia a Wall Street especular no setor de energia. Em 2008, os dois candidatos presidenciais, John McCain e Barack Obama, comprometeram-se a acabar com a brecha Enron. Depois disso, a crise financeira explodiu, e o petróleo passou de US$ 147 por barril em julho de 2008 para menos de US$ 33 em janeiro de 2009. Os bancos de Wall Street fecharam, por própria conta, suas mesas de negociação de commodities, enquanto as regulamentações financeiras rígidas fizeram o resto.

Apesar disso, em fevereiro de 2011, a Primavera Árabe e a guerra da Líbia, que precederam a queda do líder líbio Muammar Gaddafi, levaram o petróleo de volta a US$ 100 por barril. Ele permaneceu entre esse patamar e os US$ 90 até final de 2014. Mas os bancos de Wall Street não negociavam commodities como antes. E os preços da gasolina raramente ultrapassaram US$ 3,50 por galão. Desse modo, a inflação não era um problema; na verdade, o Federal Reserve rezava para que ela atingisse a sua meta de 2% ao ano e reduzia os juros, num ciclo de flexibilização quantitativa em funcionamento entre 2008 e 2014. Mesmo o observador mais fiscalmente agressivo da época teria dificuldade em imaginar a inflação atual de 8% ao ano.

Então, outra coisa aconteceu: Os preços do petróleo entraram em colapso em 2014 e não retornariam a US$ 100 por, pelo menos, mais sete anos.

Apesar da calma relativa do mercado na época, Greenberger disse que a CFTC de Obama identificou a Footnote 563 como um novo perigo em potencial depois da brecha Enron. Ele disse que a Associação Internacional de Swaps e Derivativos tinha criado a brecha para si quando a CFTC estava traduzindo Lei Dodd-Frank de Reforma de Wall Street, da era da crise financeira, em normas e regras.

A CFTC descobriu a brecha em outubro de 2016. Nessa altura, os maiores bancos de Wall Street conseguiam escapar da regulamentação de praticamente todos os seus swaps, executando-os através de filiais que afirmavam serem estrangeiras, sem apoio das suas controladoras. Nenhuma dessas afirmações era verdade e, em alguns casos, as próprias filiais praticamente não existiam fora do papel, diz Greenberg.

Ele disse que a CFTC iniciou o processo de tentar fechar a brecha antes que a próxima crise financeira explodisse. Mas havia um outro problema. A vitória eleitoral de Donald Trump em novembro de 2016 e a cruzada de desregulamentação do presidente republicano enterraram qualquer avanço na suspensão da Footnote 563. A brecha foi explorada ao máximo pelos bancos de Wall Street antes dos preços negativos históricos do petróleo, após o início da crise da Covid-19. A Footnote 563 também acelerou a corrida do petróleo de US$ 77 por barril em dezembro para US$ 130 em março, apesar da Ucrânia, diz Greenberger.

O ex-dirigente da CFTC diz que a agência ainda poderia tomar medidas rápidas para fechar essa brecha. Na verdade, segundo Greenberg, o governo Biden não precisa fazer muito mais que pronunciar algumas palavras em público para ter impactos dramáticos no preço da gasolina e de outros produtos. "Se eles só [disserem]: “olha, está acontecendo isso, isso é ruim, vamos dar uma olhada”, acho que o preço do petróleo cairia pelo menos 10% com o reconhecimento, talvez 25%".

Isso porque só a perspectiva de atenção regulatória poderia assustar os bancos e outras grandes empresas financeiras que estão apostando nos preços da gasolina. (Greenberger cita Goldman Sachs, Citigroup, Bank of America e JPMorgan Chase; private equity também faz parte do jogo.)

O remédio a curto prazo da Greenberger é que o governo aborde o problema de maneira pública. A solução a longo prazo consiste em voltar a regulamentar esses swaps.

Petróleo: Fechamentos e Atividade dos Mercados

Os preços do petróleo chegaram a cair 9% na semana, com o mercado de petróleo assistindo a sua maior queda desde abril em função dos crescentes medos de uma recessão nos Estados Unidos, em meio a aumentos agressivos de juros por parte do Federal Reserve a fim de conter a inflação, que se encontra em seu maior patamar em 40 anos.

O petróleo WTI, negociado em Nova York e referência de preço nos EUA, fechou em baixa de US$ 7,11, ou 6%, a US$ 110,48 por barril. Na semana, o WTI teve recuo de quase 9%, sua primeira perda semanal desde abril.

O petróleo Brent, negociado em Londres e referência global de preços, recuou US$ 6,20, ou 5,1%, a US$ 113,61. Na semana, o Brent tropeçou mais de 7%, também na sua primeira queda semanal em dois meses.

O WTI disparou no início desta semana até o maior valor em três meses, a US$ 123,18, seu patamar mais alto desde a corrida até a fronteira dos US$ 130 em março, logo após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia. O Brent atingiu US$ 125,16 após o pico de março, que foi em si o valor mais elevado em 14 anos.

Há semanas que os analistas técnicos alertam para o fato de os preços do WTI e da Brent estarem extremamente esticados, já que as duas referências do petróleo bruto conquistaram cerca de US$ 20 cada nas últimas oito semanas. O comércio do petróleo pareceu ter se atentado ao alerta na sexta-feira, após a produção industrial dos EUA ter registrado queda pelo quinto mês consecutivo, na medida em que as empresas enfrentam gargalos na cadeia de fornecimento e custos elevados, apesar da produção industrial em si ter aumentado.

O chefe da divisão do Federal Reserve para Mineápolis, Neel Kashkari, entretanto, alertou talvez o banco central precise ser mais agressivo com as taxas de juros se a inflação dos EUA não recuar da sua máxima de quatro décadas.

Isso foi um sinal de que o aumento de 0,75 ponto percentual de junho – o maior em 28 anos – poderia ser acompanhado de outras elevações significativas, apesar das garantias do presidente do Fed, Jerome Powell, no início desta semana, de que não haverá mais incrementos de grande porte este ano e que os cortes dos juros poderiam começar já em 2024.

A economia norte-americana já apresentou retração de 1,4% no primeiro trimestre. Se não voltar para o terreno positivo no segundo trimestre, os Estados Unidos estarão, tecnicamente, em recessão, já que bastam apenas dois trimestres consecutivos de crescimento negativo para atender a definição.

"As recessões são cada vez mais prováveis, na medida em que os bancos centrais correm para aumentar os juros drasticamente antes que a inflação escape do controle", disse Craig Erlam, analista da plataforma de negociação online OANDA, enquanto o Banco Central Europeu também indicava três grandes aumentos de juros para 2022. "Mas isso é melhor do que a alternativa: a estagflação".

Embora o mundo, especialmente os Estados Unidos, ainda não estejam num contexto de estagflação, no qual os preços continuam a subir enquanto a economia continua a encolher, o termo "já foi muito lançado nos últimos meses, o que talvez enfatize a apreensão a seu respeito", afirmou Erlam.

"Seu risco está aumentando, e é por isso que os bancos centrais vêm aceitando cada vez mais que suas ações levem a economia para uma recessão", acrescentou.

Embora a invasão da Ucrânia e as subsequentes sanções do Ocidente contra a Rússia, grande exportadora de energia, definitivamente tenham agravado as limitações do fornecimento global de petróleo, o rali deste ano da commodity está além da capacidade de custeio de muitos países consumidores pobres, segundo os analistas.

Nos Estados Unidos, a melhor medida do ônus do rali sobre o público está na bomba de gasolina, que ultrapassou US$ 5 por galão pela primeira vez este mês. Muitas bombas nos EUA, especialmente as dos estados da Costa Oeste, como a Califórnia, vendiam o combustível perto de US$ 6 por galão, disse a American Automobile Association. O diesel estava ainda mais alto na Califórnia, superando os US$ 7 por galão.

"É loucura, o que os touros estão fazendo", disse John Kilduff, sócio do fundo de hedge de energia Again Capital, de Nova York.

"Sei que temos um déficit global no petróleo, mas sejamos francos, quanto mais querem que os consumidores paguem?" Kilduff disse. "Há um limite para a empolgação com o aperto no abastecimento. Tenho certeza de que vamos ouvir gritos de "sobrevendido" vindo do outro lado depois disso e podemos ter um salto de alguns dólares ou mais depois do fim de semana. Mas este é um excelente lembrete de que ainda existem mentes sãs no mercado, examinando todos os dados macroeconômicos que estão saindo e reagindo de forma apropriada".

Nesse "outro lado" está o analista chefe de commodities do Goldman Sachs, Jeff Currie, que se destacou como o principal entusiasta do petróleo em Wall Street, defendendo preços brutos ainda mais altos antes que qualquer destruição da demanda de verdade pudesse acontecer.

"A menos que a economia derreta totalmente, essas quedas nos preços devem ser oportunidades para se colocar posições bullish de longo prazo", afirmou Phil Flynn, analista do Price Futures Group, de Chicago, que apontou que a procura por petróleo durante a maioria das recessões não diminuiu mais que 2%.

Petróleo: Perspectiva de Preço

A ação de preços na semana recém-concluída confirmou o padrão de DOJI de baixa no WTI formado na semana anterior, disse Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico chefe do site skcharting.com.

Ele afirmou que um teste do suporte de US$ 100 para o petróleo de referência dos EUA não poderia ser descartado.

"Vimos uma queda acentuada de US$ 15 no WTI, de US$ 123,66 para US$ 108,25", disse Dixit, acrescentando que as leituras estocásticas de 54/65 no gráfico semanal e de 8/30 no gráfico diário reforçaram o potencial de volatilidade e o humor de baixa do petróleo norte-americano.

O fechamento abaixo da média móvel exponencial de 50 dias de 109,83 foi outro sinal de queda.

Por outro lado, ele disse que o WTI poderia exibir uma recuperação a partir da banda intermédia de Bollinger semanal de US$ 106 e retraçar os níveis de US$ 113 - US$ 116 - US$ 119.

"Se isso acontecer, os vendedores podem desencadear uma nova rodada de batidas para a próxima perna de baixa, cujo objetivo seria a média móvel simples de 200 dias de US$ 101", afirmou Dixit.

Ouro: Fechamentos do Mercado e Perspectivas de Preços

Os futuros do ouro de um mês para agosto no Comex de Nova York fecharam em queda de US$ 8.00, ou 0,4%, a US$ 1.841,90 por onça.

Na semana, o contrato futuro de referência do ouro caiu 1,9%.

Dixit destacou que a atividade de preços do ouro ao longo da semana viu o metal cruzar o canal retangular ascendente de US$ 75 formado após a máxima de abril no Comex, de US$ 1.998, quando o ouro não conseguiu romper US$ 2.000.

"Esses canais ascendentes muitas vezes tendem a ser bearish, com potencial para outra queda se o suporte for rompido de forma decisiva", afirmou.

Dixit também destacou que a atividade de preços semanal indicava uma continuação de baixa do fechamento do metal abaixo da média móvel exponencial de 50 dias, de US$ 1.851, e da média móvel simples de 100 dias, de US$ 1.845.

"Ao longo da próxima semana, o ouro deverá começar na zona neutra entre US$ 1.830 e US$ 1.850 antes de definir o seu próximo passo", disse Dixit. "Um movimento sustentado acima dos US$ 1.830 - US$ 1.840 terá o potencial para uma recuperação a curto prazo para US$ 1.850 - US$ 1.860, que precisa ser superada para a próxima resistência aos US$ 1.878".

Mas a rejeição dos US$ 1.850 - US$ 1.860 pode empurrar o ouro para um novo teste da casa dos US$ 1.830 - US$ 1.820, o que poderiam se estender em direção ao suporte do canal, de US$ 1.805, segundo Dixit.

"Qualquer rompimento decisivo de US$ 1.878 ou US$ 1.805 vai abrir mais um passo de US$ 30 a US$ 75 na direção do rompimento, seja em linha reta ou em fases, dependendo do gatilho", acrescentou.

Isenção de responsabilidade: Barani Krishnan não detém posições nas commodities e valores mobiliários sobre as quais escreve.

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