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Petróleo pressiona inflação e é desafio para o Fed evitar recessão nos EUA

Publicado 15.05.2022, 06:08
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Por Barani Krishnan

Investing.com -- O Federal Reserve está determinado a fazer com que não haja recessão nos EUA, enquanto tenta conter a inflação alimentada pela energia que avança pela economia com os aumentos de juros mais agressivos em uma geração. 

É improvável que o banco central ganhe; não por causa da OPEP e do petróleo a mais de US$ 100, mas por causa de um punhado de refinadores de combustíveis dos EUA, determinados a realizar lucros estupendos enquanto o restante da economia desmorona vertiginosamente. 

A bem da verdade, estes refinadores, que incluem nomes como Marathon Petroleum (SA:M1PC34) (NYSE:MPC) e Valero Energy (SA:VLOE34) (NYSE:VLO), não estão necessariamente fazendo nada ilegal -- além de intensificar os retornos para os seus acionistas e empresas, o que é perfeitamente natural num ciclo de negócios em curso como o do setor de energia. 

Para entender melhor, há uma limitação severa na oferta de gasolina, e especialmente de diesel, desde o fechamento e redução do porte de várias refinarias durante a pandemia. Aqueles que continuaram no ramo estão agora explorando a situação ao máximo, fornecendo só o que podem - ou, mais exatamente, o que querem - sem colocar nenhum centavo do que estão ganhando na expansão das suas unidades ou na aquisição das instalações ociosas que podem ser reabertas a fim de proporcionar algum alívio mensurável aos consumidores.

A Bloomberg estima que mais de 1 milhão de barris por dia em capacidade de refino de petróleo dos EUA - ou cerca de 5% da capacidade total - fechou desde que o surto da Covid-19 dizimou a demanda por petróleo em 2020. Fora dos Estados Unidos, a capacidade encolheu mais 2,13 milhões de barris por dia, segundo a consultoria energética Turner, Mason & Co. O resumo da ópera é: Sem planos de expansão no horizonte, o aperto só vai piorar.

"O mercado de petróleo está projetando uma falsa sensação de estabilidade no que diz respeito à inflação energética", escreveu Javier Blas, analista de energia da Bloomberg, num comentário publicado esta semana, quando a gasolina atingiu recordes históricos acima de US$ 4,50 por galão em algumas bombas dos EUA, enquanto o diesel um pico de causar lágrimas a US$ 6. 

"A economia real está sofrendo um choque de preços muito mais forte do que parece, porque os preços dos combustíveis estão aumentando muito mais rapidamente do que o petróleo bruto, e isso é importante para a política monetária", afirmou Blas, referindo-se ao aumento do problema diante do Fed. 

Para dar uma ideia real do que está falando em dólares, ele diz: "Se você for o dono de uma refinaria de petróleo, o petróleo bruto está sendo negociada sem preocupações um pouco acima de US$ 110 por barril - caro, mas não extorsivo. Se não for um barão de petróleo, tenho más notícias: é como se o petróleo estivesse sendo negociado entre US$ 150 e US$ 275 por barril".

Para detalhar, o WTI, referência de preço do petróleo nos EUA, oscilou por semanas entre US$ 95 e US$ 110 por barril. Mas os futuros dos combustíveis de aviação no Porto de Nova York estão sendo negociados ao equivalente a US$ 275. O diesel? Está a US$ 175, enquanto a gasolina está em torno de US$ 155. Esses são todos preços de atacado, antes de impostos e margens de comercialização. Acrescente os dois, e o cenário pode ficar ainda mais vertiginoso para o consumidor. 

Claro que nem sempre foi assim. Por pelo menos 35 anos, o crack spread -- jargão do setor para o lucro oriundo do craqueamento dos combustíveis derivados a partir do petróleo bruto -- foi, em média, de cerca de US$ 10,50 por barril. Depois, na chamada era de ouro do refino, de 2004 a 2008, o spread ultrapassou US$ 30. Na semana passada, ele atingiu a máxima histórica, a quase US$ 55. 

A diferença bruta atual entre os preços do petróleo bruto e refinado é o resultado de um déficit exacerbado de oferta, combinado com a demanda quase de volta às máximas pré-pandemia. Os estoques de diesel da costa leste dos EUA caíram para os níveis mínimos de 1990. Fora da China e do Oriente Médio, a capacidade de destilação de petróleo caiu 1.9 milhão de barris por dia do final de 2019 até hoje -- o que também representa o maior declínio em 30 anos. Por último, mas não menos importante, o abastecimento global - ou pelo menos europeu - do diesel também está sendo estrangulado pelas sanções do Ocidente aos produtos energéticos russos.

O Ministro da Energia da Arábia Saudita, Abdulaziz bin Salman, disse na semana passada que OPEP+, a aliança dos exportadores de petróleo sob a sua tutela, não tinha nada a ver com a crise de refino dos EUA. 

Eu avisei em outubro que isso estaria voltando", afirmou Abdulaziz, acrescentando que os EUA não estavam sozinhos. Muitas refinarias no mundo, especialmente na Europa e nos EUA, fecharam ao longo dos últimos anos. O mundo está ficando sem capacidade energética em todos os níveis".

E a crise vai piorar - não apenas em termos de preço, mas também de oferta. Na semana passada, John Catsimatidis, o bilionário dono de refinarias e postos de combustíveis de Nova York, alertou que o racionamento do diesel era uma possibilidade para a Costa Leste dos EUA. 

Contudo, Catsimatidis, cuja companhia possui e opera 350 postos de gasolina, não espera que ela fique escassa, apenas muito cara. "Os motoristas irão pagar os preços mais altos já pagos pela gasolina no Memorial Day", afirmou, acrescentando que as viagens durante o feriado deverão ultrapassar os números vistos no ano passado. 

Os caminhoneiros e transportadores que atuam nas estradas dos EUA realizando entregas disseram que estão fazendo tudo o que podem para estocar o diesel, ao contrário da especulação de que os preços recordes, que abocanham os lucros, poderiam forçar atrasos nas compras. 

"A procura não é destruída com tanta facilidade", Ben van Beurden, CEO da Shell PLC (AS:SHEL), disse a investidores na semana passada.

Alguns analistas, no entanto, argumentam que a preços neste nível ou ainda mais altos, a procura de combustíveis tem de ser destruída -- se não, a economia será.

"As preocupações em relação à economia são legítimas e reais", disse John Kilduff, sócio do fundo de hedge de energia Again Capital, de Nova York. "O custo do diesel representa a economia real. A mais de US$ 6 por galão, ele está reduzindo os resultados das empresas e podemos estar no precipício de uma gigantesca destruição da demanda no diesel".

"Já há menos caminhões da Amazon BDR (SA:AMZO34) (NASDAQ:AMZN) na estrada fazendo entregas, embora tenha havido um aumento enorme aumento nas despesas com cartão de crédito, mostrando que o consumidor está desistindo rapidamente. Tudo está se agrupando para os que estão longos no petróleo".

Agência Internacional de Energia alertou na quinta-feira que a disparada dos preços nas bombas e a desaceleração do crescimento econômico limitem consideravelmente a recuperação da demanda pelo resto do ano e em 2023. 

Analistas como Kilduff também estão preocupados com até onde o Fed irá com os aumentos de juros.

Até agora, o banco central aprovou uma elevação de 25 pontos base, ou 0,25%, em março, e um aumento de 50 pontos base, ou meio ponto percentual, em maio. Os traders do mercado monetário precificaram em 83% a chance de uma escalada de 75 pontos base, ou 0,75%, em junho. Numa entrevista publicada na quinta-feira, o Presidente do Fed, Jerome Powell, negou com veemência que haverá um aumento tão grande no próximo mês, citando sua preferência pela continuidade de aumentos de 50 pbs por mais dois meses, pelo menos.

Mas Powell também disse algo preocupante - conseguir um pouso suave para a economia dos EUA, a partir dos aumentos dos juros do Fed, irá depender de fatores que o banco central não controla. Desacelerar o crescimento salarial -- um componente crítico da inflação atual -- não será fácil, disse ele. "É um desafio conseguir isso agora, por algumas razões. Uma delas é que o desemprego está muito, muito baixo, o mercado de trabalho está extremamente limitado, e a inflação está muito alta".

Após a contratação de 3,5% em 2020 devido a rupturas forçadas pela pandemia, a economia dos EUA cresceu 5,7% em 2021, expandindo-se em seu ritmo mais rápido desde 1982.

Mas a inflação cresceu tão rápido como a economia, talvez até um pouco mais. O Índice de Despesas de Consumo Pessoal, um indicador da inflação norte-americana acompanhado de perto pelo Fed, aumentou 5,8% no ano até dezembro e 6,6% nos 12 meses até março. Ambas as leituras refletem o crescimento mais rápido desde a década de 1980. O Índice de Preços ao Consumidor e o Índice de Preços ao Produtor, duas outras medições principais para a inflação, aumentaram, respectivamente, 8,3% e 11% no ano até abril. 

A tolerância do próprio Fed para a inflação é de apenas 2% ao ano. Powell indicou que um total de sete aumentos de taxas -- o máximo possível dentro do calendário de reuniões do banco central este ano -- estava nos planos para 2022. Mais reajustes dos juros podem ocorrer em 2023, até que se atinja a meta de inflação de 2%, segundo ele.

"O meu receio é que o Fed possa exagerar", disse Kilduff. "Com o estímulo físico relacionado com a Covid já abandonado pelo governo federal, haverá muito menos liquidez no sistema nos próximos meses. Se o Fed trouxer um machado para o sistema por meio de aumentos excessivos dos juros, poderemos acabar cortando artérias inteiras da economia".

Blas, da Bloomberg, concorda com o desastre que pode estar diante da economia dos EUA.

"Quanto mais tempo os refinadores realizarem superlucros, mais duro será o impacto do choque de energia sobre a economia", disse ele. "A única solução é reduzir a demanda. Mas para isso, será necessária uma recessão". 

Petróleo: Fechamento Semanal e Perspetivas Técnicas do WTI

O Brent, negociado em Londres e referência global para o petróleo, encerrou a sexta-feira a US$ 111,22 por barril, um aumento de US$ 3,77 ou 3,5% no dia. Na semana, ele apresentou queda de 0,7%. 

O Brent entrou em rali com notícias de que a China pode começar relaxar em breve os lockdowns relacionados ao coronavírus em Xangai, que apresentou atividade econômica limitada nas últimas sete semanas em função das restrições rigorosas sobre deslocamentos impostas pelas autoridades.

Contudo, os ganhos no Brent foram limitados pelo atraso contínuo da União Europeia em chegar a um consenso quanto à proibição do petróleo russo, especialmente após a resistência da Hungria, que teme entrar numa crise energética sem o abastecimento de Moscou.

O petróleo WTI, negociado em Nova York e referência do petróleo nos EUA, fechou a US$ 110,16, alta de US$ 4,03, ou 3,8%. Na semana, teve aumento de 0,7%.

O WTI entrou em rali com a aparente crise na capacidade de refino de petróleo dos EUA, que catapultou os preços dos combustíveis para níveis recordes esta semana, com o diesel chegando a atingir a máximas históricas acima de US$ 6 por galão e a gasolina batendo recordes de alta acima dos US$ 4,50.

A discrepância entre o Brent e o WTI é "um conto de dois petróleos", disse Kilduff.

"A suspensão do embargo europeu, especialmente por parte da Hungria, está limitando a escalada do Brent, enquanto o WTI está desfrutando a glória de alta da crise de refino de combustíveis que jogou os preços nas bombas para níveis recordes", acrescentou:

Quanto às perspectivas técnicas do WTI, o fechamento semanal pouco acima dos US$ 110, indicou que os touros do petróleo estavam posicionados para a próxima perna de alta entre US$ 116 e US$ 121, disse Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico chefe do site skcharting.com.

"Até agora, os US$ 98 se provaram ser um fundo sólido, enquanto a faixa de US$ 104 - US$ 106 mantêm o ritmo de alta", disse Dixit. "A leve consolidação, induzida pela volatilidade, de US$ 106 a US$ 104 atrairá mais compradores, enquanto uma queda abaixo de US$ 104 irá pressionar o petróleo para US$ 101 - US$ 99".

Ele acrescentou que um rompimento decisivo abaixo dos US$ 98 invalidaria o impulso bullish. "Isso pode desencadear uma correção de US$ 18 a US$ 20, expondo o WTI a US$ 88 e US$ 75 no médio prazo".

Ouro: Atividade Semanal do Mercado e Perspectivas Técnicas

Nem tudo que reluz é ouro, já dizia o ditado. E no entanto, o próprio metal mal brilha hoje em dia. 

No pregão de sexta-feira, o ouro despencou rapidamente abaixo do nível chave de US$ 1.800 no Comex de Nova York, acelerando o selloff iniciado em meados de abril.

Embora ele tenha recuperado esse patamar depois de encontrar suporte apoio no terreno dos US$ 1.700, isso não foi o suficiente para desfazer os danos causados no início da semana, que o puseram rumo à quarta semana consecutiva de perdas, dilapidando cerca de US$ 165, ou 8%, do seu valor desde a semana encerrada em 8 de abril.

A queda do ouro na sexta-feira, assim como nos últimos dias, ocorreu na esteira da valorização do dólar, que alcançou novas máximas em 20 anos. O índice do dólar,  que compara a divisa dos EUA contra seis outras grandes moedas mundiais, efetivamente recuou para a mínima no pregão de 104,5 após atingir o pico de 105,05 mais cedo no dia. 

Embora isso tenha ajudado o ouro a retraçar parte de suas perdas, a mudança mal impactou o direcionamento do dólar, que os analistas esperavam alcançar novas máximas em duas décadas nos próximos dias em função da especulação quanto ao nível de agressividade que o Federal Reserve pode apresentar na sua próxima elevação das taxas de juros dos EUA.

"Só um súbito selloff de dólares conseguiria alterar a visão técnica pessimista” sobre o ouro, disse Jeffrey Halley, que supervisiona a pesquisa dos mercados da Ásia-Pacífico para a plataforma de negociação online OANDA.

Os futuros de um mês do ouro para junho na Comex fecharam a US$ 1.810,30 por onça, queda de US$ 14,30, ou 0,78%, no dia. A mínima do pregão foi de US$ 1.797,45 - um fundo não visto desde 30 de janeiro. Na semana, o ouro para junho apresenta queda de 4%.

Apesar da recuperação de sexta-feira em relação às mínimas, o ouro pode revisitar a casa dos US$ 1.700 se não conseguir eliminar uma série de resistências entre US$ 1.836 e US$ 1.885, de acordo com Dixit, do site skcharting.com.

"Como a tendência atual se tornou bearish, os vendedores muito provavelmente virão testar estas zonas de resistência", disse Dixit, que utiliza o preço spot do ouro para a sua análise. 

"Na medida em que o ouro se tornou bearish no curto prazo, as pressões de baixa pressionarão para os níveis de US$ 1.800 e, em seguida, US$ 1.780 - US$ 1.760. Um fechamento decisivo acima do limite máximo do intervalo pode estender a recuperação para US$ 1.880, caso contrário as pressões de baixa irão empurrar o ouro para US$ 1.800 - US$ 1.780, estendendo o recuo para US$ 1.760 na semana à frente".

Mas se o ouro romper e se sustentar acima dos US$ 1.848, a sua recuperação pode se estender até US$ 1.885 e US$ 1.900, ele acrescentou.

Isenção de responsabilidade: Barani Krishnan não detém posições nas commodities e valores mobiliários sobre as quais escreve.

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