Por Marcelo Teixeira
NOVA YORK (Reuters) - Um forte aumento no preço dos combustíveis da Petrobras (SA:PETR4) a partir desta sexta-feira no Brasil pode levar a uma redução considerável na quantidade de açúcar que o país --o maior fornecedor mundial-- enviará para o exterior durante a nova safra que começa em abril, segundo especialistas.
Eles disseram que o movimento da petroleira brasileira de aumentar os preços da gasolina em quase 19%, acompanhando o aumento do preço do petróleo em meio à guerra na Ucrânia, elevará os preços do etanol. Por sua vez, isso levará as usinas brasileiras a produzir mais biocombustível em detrimento do açúcar.
As empresas brasileiras de açúcar e etanol têm flexibilidade industrial para produzir mais ou menos açúcar ou etanol, dependendo dos preços de mercado. Se os preços do etanol subirem, eles desviarão mais cana-de-açúcar para produzir mais biocombustível e menos açúcar.
O analista do setor sucroalcooleiro Claudiu Covrig diz que se os preços do etanol subirem em um nível semelhante ao da gasolina no Brasil, o preço de venda do etanol ultrapassará o do açúcar pela primeira vez em anos.
Ele disse que mesmo que as usinas aumentem os preços do etanol menos do que o aumento de 19% no preço da gasolina --15%, por exemplo-- em um movimento para aumentar a participação de mercado, elas ainda ganhariam mais dinheiro vendendo o biocombustível do que exportando açúcar.
Nesse cenário, a Covrig estima que o Brasil poderia cortar a produção de açúcar em cerca de 1,2 milhão de toneladas na safra 2022/23 (abril a março).
Essa quantidade poderia ser maior.
"Um palpite é que eles (as usinas) podem transferir 2,5 milhões de toneladas de açúcar, se a diferença de preço continuar atrativo (em relação ao etanol)", disse Michael McDougall, diretor administrativo da Paragon Global Markets em Nova York.
Ele disse que as usinas podem até cancelar contratos de exportação de açúcar com comerciantes de commodities, mediante o pagamento de uma taxa ("washout"), se a diferença de preço for suficientemente favorável, reduzindo ainda mais a quantidade de açúcar que seria produzida.
Julio Maria Borges, consultor das usinas brasileiras, diz que a escolha destas últimas por produzir açúcar ou etanol continuará a variar à medida que a safra avance e os preços da energia evoluam.
(Por Marcelo Teixeira)