Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Uma frente fria está se espalhando pelo Sul do país nesta semana, gerou chuvas e deve abrir espaço para geadas entre sexta-feira e sábado, com risco para áreas de cultivos de trigo em desenvolvimento no Paraná e Rio Grande do Sul.
Segundo previsões climáticas divulgadas nesta terça-feira e analistas ouvidos pela Reuters, regiões de milho segunda safra do Paraná também podem ser atingidas pelo frio intenso, mas como a colheita está adiantada, as chances de danos são menores.
Dados do Climatempo e da Rural Clima indicam frio intenso para os três Estados do Sul.
"As geadas devem ser fortes na madrugada da sexta-feira (19) e do sábado (20), entre o interior gaúcho e a metade sul do Paraná... O fenômeno deve trazer danos para lavouras de cultivos de inverno, como o trigo", afirmou o Climatempo em boletim.
O Brasil caminha para colher neste ano uma safra recorde acima de 9 milhões de toneladas, com um clima favorável até aqui e aumento de área plantada. Paraná e Rio Grande do Sul produzem cerca de 90% do cereal do país.
"Há previsões, sim, de geadas generalizadas em grande parte da região Sul do Brasil... o que nos deixa bastante preocupados com o trigo e o milho", disse o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antônio Santos.
O analista do Departamento de Economia Rural (Deral) Carlos Hugo Godinho disse à Reuters que quase 60% do trigo do Paraná está suscetível a perdas caso seja atingido por frio extremo. No entanto, a localidade que o fenômeno deve ocorrer reduz este percentual.
"As geadas devem se concentrar na metade sul do Estado, onde esse percentual de lavouras suscetíveis cai para em torno de 10% da área", disse ele, em referência à região que normalmente planta mais tarde.
Para o Rio Grande do Sul, as atenções estão no trigo da região noroeste, a primeira a plantar o cereal, entre o final de junho e início de julho, que mantém lavouras em estágio de desenvolvimento sujeito a danos, segundo a empresa de assistência técnica e extensão rural Emater-RS.
"Sempre que começa a entrar em uma fase de maiores intempéries climáticas há risco, mas diria que ainda é um risco baixo (de perdas)... não é uma geada muito intensa, de acordo com a previsão", disse o diretor técnico da Emater, Alencar Rugeri.
Segundo ele, o real impacto do frio excessivo para o cereal gaúcho vai depender dos locais em que o fenômeno irá ocorrer.
MILHO
No caso do milho, as geadas não têm mais potencial de prejudicar a segunda safra paranaense, "ao contrário, podem acelerar o processo de maturação das lavouras", acrescentou o especialista do Deral Edmar Gervásio.
Ele ressaltou que a colheita do cereal já está bastante adiantada, em 79% da área do Estado, após avançar 10 pontos percentuais em uma semana.
Para Gervásio, o que pode atrapalhar os trabalhos de campo é a persistência de chuvas que já estão ocorrendo no Paraná.
"Naturalmente, se chover onde há milho pra colher, os trabalham de campo param", pontuou.
A analista da consultoria AgRural Daniele Siqueira comentou também que a previsão de muito frio esperada para os próximos dias contribuiu para paralisar um plantio de milho primeira safra 2022/23 que vinha sendo antecipado no oeste do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
"Na verdade, eles anteciparam o plantio devido à boa umidade do solo e agora esperam melhores condições para prosseguir", disse ela, citando que estas regiões costumam iniciar a semeadura em agosto, mas não tão no início do mês como ocorreu neste ano.
Ainda que com menor intensidade, o Climatempo prevê que as geadas têm chance de se espalhar por demais Estados do centro-sul e alcançar outras culturas, como Mato Grosso do Sul e sul de São Paulo.
Na região paulista, algum impacto poderia vir em áreas de cana-de-açúcar, já em Mato Grosso do Sul, o alerta foi indicado para cana e milho segunda safra.
Já a Rural Clima diverge e acredita que o frio extremo não deve atingir áreas de cana, café e citricultura no Sudeste do país.
(Reportagem de Nayara Figueiredo)