Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - A chegada das chuvas em setembro permitiu um início promissor para o plantio de soja na safra 2022/23 do Brasil, que tem potencial para colher um novo recorde de 150,62 milhões de toneladas, embora ainda haja risco de estiagem no Sul em decorrência do fenômeno climático La Niña.
Levantamento realizado pela Reuters com 12 analistas indica que a área semeada deve alcançar a máxima histórica de 42,83 milhões de hectares. Trata-se de uma expansão média de 3,33% em relação à temporada anterior, motivada por preços atrativos e margens positivas mesmo com custos elevados (veja tabela abaixo).
Se confirmado, o desempenho do maior produtor e exportador global da oleaginosa poderá superar em 25 milhões de toneladas a colheita do ciclo anterior, quando uma seca na região Sul afetou as lavouras também em um ano de La Niña. A safra atual é a terceira consecutiva sob algum efeito deste fenômeno.
Pesquisa divulgada pela Reuters em junho, com oito analistas, indicava produção de 147,9 milhões de toneladas para 2022/23. A melhora nas projeções reflete a largada do plantio no período considerado ideal pelo setor.
"A avaliação é de que o início do plantio é muito bom, está andando rápido, não está faltando umidade, as chuvas estão chegando ao Centro-Oeste e Sudeste", disse o analista da consultoria Safras & Mercado Luiz Fernando Roque.
Ele acrescentou que no Sul chegou a ter excesso de umidade, "mas é melhor que sobre do que falte".
"Então, até esse momento está tudo certo, o plantio é promissor. Os trabalhos, inclusive, estão acima da média para essa época do ano... e daqui para frente tudo depende do clima", disse.
PREVISÃO
O head de agronegócios do Climatempo, Willians Bini, alertou que, de fato, há preocupações em torno do La Niña, com riscos de estiagem para o Sul ao longo da safra.
Em contrapartida, ele disse que algumas partes do Centro-Oeste devem sair favorecidas pelo clima neste início de outubro. Durante o ciclo, ele considera que a região pode ter as chamadas invernadas, dias seguidos de bastante chuva que podem atrapalhar em alguma medida as atividades de campo.
Além disso, os Estados do Matopiba --Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia-- normalmente têm boas condições de chuva em anos de La Niña, com condição de maior umidade esperada para meados de novembro.
Para Pedro Schicchi, analista de grãos e de proteínas animais da HedgePoint Global Markets, o fenômeno "preocupa bastante".
"O evento (La Niña) em si tem um caráter negativo pois traz seca, principalmente ao Sul do país. No entanto, como mostram os resultados dos anos anteriores, é difícil cravar o que vai acontecer, pois depende muito de quando essa seca atinge a produção e em qual intensidade", disse
O analista de mercado da AgResource Brasil João Pedro Thieme destacou que a La Niña deve permanecer atuante até o início de 2023.
Porém, em um visão mais otimista, ele afirmou que os modelos de previsão do tempo indicam que outros componentes climáticos poderão trazer condições mais favoráveis, comparadas à safra passada, concentrando maior risco na Argentina e no extremo sul do Brasil.
Ele acredita também que alterações de manejo podem ajudar o produtor da região centro-sul a mitigar parte do risco.
"O histórico das safras não indica redução de produtividade por dois anos consecutivos, mesmo quando tivemos três anos de La Niña seguidos. Nesse caso, a produtividade costuma retornar para mais próximo da linha de tendência", afirmou o especialista.
(Reportagem de Nayara Figueiredo)