Por Alberto Alerigi Jr.
SÃO PAULO (Reuters) -O setor produtor de aço no Brasil reduziu as estimativas de desempenho das siderúrgicas este ano, em meio a cenário de lentidão da economia que pressiona a demanda pela liga, apesar de um salto das importações do material na primeira metade do ano que aproveitou o contexto de excesso de capacidade global e valorização do real.
A projeção para produção de aço bruto no Brasil este ano foi reduzida nesta terça-feira de crescimento de 2%, segundo estimativa divulgada pelo Aço Brasil em abril, para queda de 5%, a 32,39 milhões de toneladas. Já a previsão de vendas no mercado interno caiu de redução de 0,7% para queda de 6%, a 19,1 milhões de toneladas. Em abril, a entidade já havia piorado a previsão de vendas internas de alta de 1,9% para retração de 0,7%.
O Aço Brasil também reviu nesta terça-feira a estimativa para o consumo aparente de aço no país, que inclui produção interna e importações, de queda de 1% para recuo de 2,6%, a 22,9 milhões de toneladas.
No primeiro semestre, a produção de aço bruto do Brasil caiu 8,9%, para 15,97 milhões de toneladas, enquanto as vendas no mercado interno recuaram 5,7%, a 9,63 milhões, na comparação com a primeira metade de 2022. As importações dispararam cerca de 43% no período, para 2,2 milhões de toneladas. A previsão da entidade para 2023 é de alta de 25,6% nas importações, para 4,2 milhões de toneladas.
Segundo o presidente do conselho do Aço Brasil, que representa cerca de 90% da produção nacional da liga, Jefferson de Paula, reformas de altos fornos, realizadas por empresas como Usiminas (BVMF:USIM5) no primeiro semestre, não contribuíram para o quadro de queda na produção no período.
"A produção menor é por falta de mercado mesmo. O setor tem capacidade para 51 milhões de toneladas... O que poderia acontecer (com as reformas) é uma empresa perder mercado por um período e outra com capacidade pegaria essa fatia, mas não foi isso o que aconteceu", disse De Paula em entrevista a jornalistas.
Segundo ele, importações embaladas por perspectivas anteriores mais fortes de crescimento da economia tomaram mercado dos produtores nacionais. "O mundo não está crescendo muito por causa das altas de juros para combater a inflação pós- Covid. Está sobrando aço."
O avanço das importações do primeiro semestre deve perder força na segunda metade do ano, apostou De Paula, citando a lentidão da economia. "Não tem mercado interno, não tem sentido seguir importando."
Como sintoma da fraqueza do mercado brasileiro, a atividade econômica do Brasil medida pelo IBC-Br, do Banco Central, voltou a contrair na metade do segundo trimestre e registrou em maio a maior queda em pouco mais de dois anos, segundo dados divulgados na segunda-feira pela autoridade monetária.
O mercado externo, que poderia ajudar a escoar parte da produção nacional, também teve projeção piorada pelo setor siderúrgico nacional. A expectativa é que as vendas externas de aço pelo Brasil recuem 0,3% este ano, a 11,9 milhões de toneladas, ante a projeção de abril de que haveria um crescimento de 7,6%.
Diante da situação, o presidente-executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, afirmou que a entidade está negociando com o governo federal uma antecipação do fim da redução de 10% na Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC) para este mês em vez de dezembro, como havia sido definido no governo passado.
Além disso, o setor também defende a revisão da medida tomada durante o governo de Jair Bolsonaro que reduziu outros 10% da TEC diante da não implementação do corte pela Argentina, disse Lopes. "Entendemos as dificuldades da Argentina, mas isso é um furo na própria TEC... Se a Argentina não implementar, seria razoável o Brasil recompor os primeiros 10% que foram reduzidos", disse Lopes.
A entidade também está discutindo com o governo federal medidas de retomada de normas de conteúdo local em empreendimentos de infraestrutura. O Aço Brasil citou, por exemplo, que a partir de 2017 o percentual de componentes produzidos no Brasil para projetos envolvendo bens e serviços foi unificado e reduzido. Enquanto isso, segundo a entidade, o BNDES, que exigia 60% de conteúdo local de chapas de aço para financiar torres de energia eólica, reduziu o percentual a partir de 2020, zerando no ano passado.
(Edição de Pedro Fonseca)