Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O consumo de diesel B no Brasil deve crescer 1,1 bilhão de litros em 2023 ante 2022, com um aumento maior do que o esperado anteriormente, após projeções mais fortes do PIB e de safras, em meio a preços do combustível mais baixos no país em relação ao mercado externo, apontou nesta quinta-feira a consultoria StoneX.
Assim, a demanda de diesel B (com mistura de biodiesel) no país deve totalizar recorde de 64,3 bilhões de litros em 2023, ante 64 bilhões de litros previstos em julho, disse a consultoria.
"O principal motivo da revisão para cima das projeções... está nas melhores perspectivas para a expansão do PIB... como também a forte expansão das safras 2022/23 de soja e milho no país", disse a StoneX, em referência à maior demanda do setor agrícola para abastecer máquinas e transportar os produtos do agronegócio.
Questionado sobre os preços no Brasil, que estão abaixo dos valores praticados no mercado internacional, o analista da StoneX Bruno Cordeiro disse que não necessariamente a evolução do mercado está relacionada aos preços do produto, reafirmando que a demanda segue mais questões econômicas e ligadas a safras recordes.
"Em 2022, quando os preços chegaram a operar em patamares muito elevados, vimos a demanda atingir a série histórica também, de modo que os preços do derivado não necessariamente afetam a demanda", comentou Cordeiro.
No relatório, a StoneX destaca que o mercado de diesel no país não tem acompanhado as altas no exterior, após a mudança na estratégia de comercialização da Petrobras (BVMF:PETR4), que passou a considerar outros fatores para reajustes, como o custo alternativo do cliente, além das variações das cotações no exterior.
No mês de julho, disse a StoneX, houve uma defasagem de 0,3888 real/litro frente à referência da Costa do Golfo, nos Estados Unidos, o que "permitiu, inclusive, um aumento das compras do produto ofertado pela Rússia".
O Brasil tem elevado as importações de diesel da Rússia, que lida com sanções por conta da guerra com a Ucrânia impostas por alguns países ocidentais e está ofertando "seus produtos com expressivos descontos frente às principais referências globais".
"Os preços de venda do diesel B ao consumidor final, portanto, se mantiveram relativamente estáveis", destacou a StoneX.
De outro lado, a Petrobras tem produzido volumes mensais recorde de diesel S-10 nos últimos meses, confiando que sua nova política de preços permite uma disputa com o produto da Rússia.
Em relação às importações do derivado de petróleo, foi observada uma redução do acumulado anual de 6% frente ao mesmo período de 2022, para 8 bilhões de litros, mas com a Rússia ganhando fatia de mercado do importado.
"Ainda assim, a redução das compras externas não significou queda das vendas de diesel B no país", disse a StoneX.
BIODIESEL
A menor importação no total segue um aumento da produção de biodiesel no Brasil, cuja mistura no diesel em 2023 está em 12%, ante 10% no ano passado.
Neste contexto, a StoneX ainda estimou consumo de biodiesel no Brasil em 7,4 bilhões de litros em 2023, um salto ante os 6,2 bilhões de litros no ano passado, que contou com uma mistura menor do biocombustível ao diesel.
"A revisão para cima da estimativa de demanda de diesel B no Brasil e os sinais positivos que a economia brasileira vem demonstrando... proporciona um cenário positivo para o biodiesel", disse a consultoria, lembrando que o consumo do biocombustível avança junto com o diesel.
A StoneX afirmou também que o óleo de soja, em meio a uma safra recorde no Brasil, vai ganhar participação de outros produtos como fonte de matéria-prima.
Considerando a elevação da participação do óleo de soja na produção de biodiesel para acima de 80% nos últimos meses, o consumo demandado de óleo para a produção do biocombustível é estimado próximo de 6,0 bilhões de litros, ou 5,6 milhões de toneladas.
Mesmo com forte aumento da demanda, os preços do biodiesel têm demonstrado comportamento relativamente estável, completou.
(Por Roberto Samora)