BUENOS AIRES - A tensa relação entre o poderoso setor agrícola da Argentina e o governo peronista de centro-esquerda ressurgiu nesta sexta-feira, dias após fortes mudanças na área econômica que pareciam ter melhorado um vínculo vital para as finanças do país.
Produtores da Argentina, um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, fizeram uma greve comercial contra o governo em julho para exigir cortes de impostos, embora isso não tenha afetado os embarques.
A chegada nesta semana do experiente político Sergio Massa ao Ministério da Economia possibilitou vislumbrar uma melhor relação entre o governo e um setor que é o principal gerador de divisas.
Mas as declarações do recém-nomeado secretário de Agricultura, Juan Bahillo, que sugeriu que as associações de produtores tornem públicas suas simpatias político-partidárias, incomodam o setor, historicamente em desacordo com o peronismo.
"A preocupação do secretário Bahillo conspira contra as liberdades individuais... A ideologia não é o problema. Ineficiência e preconceito, sim", disse a entidade Confederações Rurais da Argentinas (CRA), uma das quatro grandes associações agrícolas do país.
"Vamos trabalhar à risca para que o partido dos produtores cresça, se consolide e se afirme. O governo deve ter esse mesmo interesse porque o futuro argentino depende do crescimento do campo e de suas divisas", acrescentou.
Os líderes rurais devem se reunir nos próximos dias com as novas autoridades econômicas, que estão buscando agressivamente moeda estrangeira de novas exportações para estabilizar os mercados financeiros domésticos.
A Argentina é o maior exportador mundial de farelo e óleo de soja e o segundo de milho, mas os aumentos nos preços locais dos alimentos representam um dilema para o governo em um país com índices de pobreza de quase 40%.
(Reportagem de María Belén Liotti)